Como sabemos se de facto temos fé?
Como sabemos o valor da nossa fé e como a mostramos?
Como percebemos se a nossa fé é viva ou morta?
O livro de Tiago ajuda-nos a encontrar as respostas a essas
perguntas.
Sendo assim, primeiro percebemos o
valor da nossa fé quando passamos pelo sofrimento. Vimos isso nas
duas primeiras pregações.
Segundo, entendemos a importância da nossa fé na forma como reagimos às
tentações.
Terceiro, a fé manifesta-se no amor para com todas as
pessoas sem fazermos acepção das mesmas.
Hoje iremos perceber se
a nossa fé é viva ou morta. E a melhor forma de a analisarmos é através das
obras que realizamos.
Tem havido muita discussão na história da Igreja com estes
versículos. Alguns acham que há
contradições nas palavras ministradas por Paulo.
Se de facto há, a Bíblia deixaria de ser inerrante. Além
disso, teríamos de questionar a inspiração das Escrituras.
No entanto a Bíblia alerta-nos de algo em João
10:35 “O que a Sagrada Escritura diz vale para sempre”.
Ainda acreditamos nestas palavras?
Quando lemos as escrituras, devemos saber que é a Palavra que interpreta a própria
Palavra e devemos sempre estudar um excerto da Palavra com uma visão
holística da mesma.
Será que há então contradições?
Será que o ensino de Paulo e Tiago se complementam?
Será que no Antigo Testamento alguém era justificado pelas obras e no NT pela fé?
Será que Deus justifica as
pessoas pela fé ou pelas obras?
Qual o valor da fé na sua
relação com as obras?
Vamos então mergulhar perante o texto com toda a
humildade pedindo sabedoria ao Senhor para o poder interpretar.
Tiago 2:14 “Que importa, meus irmãos, alguém dizer que tem
fé, se a não põe em prática? Será que essa fé lhe trará a salvação?”.
Ao lermos este versículo primeiramente reparamos que Tiago
não está a falar de alguém que tem fé embora não o mostre.
O que percebemos aqui, é que é a
própria pessoa a dizer que tem fé. Na JFA lemos “Meus irmãos, qual é o proveito,
se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Será que é esta fé que irá
salvá-lo”.
O que significa fé?
Quando encontramos a palavra “fé” na Bíblia percebemos que pode
ter alguns significados.
A fé não é um mero
conhecimento da verdade, apesar também de o ser.
A fé não é
acreditar que aquilo que mais desejamos irá acontecer… Ouvimos dizer
“É preciso é ter fé que tudo vai correr bem”*… Tudo vai correr como Deus
quer.
Olhando para os escritos de Paulo, compreendemos que a Fé é uma
verdadeira confiança em Cristo e no que Ele fez por nós para a nossa
Salvação.
A fé é acreditar que
somos pecadores e por isso precisamos da Graça de Deus.
É acreditar que sem Cristo não
teríamos hipótese alguma de sermos salvos porque foi pelos Seus
méritos e não pelos nossos que fomos salvos.
Relembrando que, segundo Tiago 1:17, toda a boa dádiva e
todo o dom perfeito vêm de Deus, a Fé, sendo algo bom e sendo um dom, só pode ter sido dádiva de Deus.
Se fossemos salvos por causa da nossa fé e não por meio
da nossa fé, a razão da nossa salvação éramos nós e não Cristo.
Seria por causa das nossas obras e não por causa das obras de Cristo.
Por isso, não temos nada que nos gloriar em nós mesmos.
Apenas temos que nos gloriar em Cristo
Jesus.
Como diz R. C. Sproul “Nós fomos salvos pelas obras, pelas
obras de Jesus Cristo”.
Será que o apóstolo Paulo não dava valor às obras?
Efésios 2:8-10 “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto
não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas”.
Concluímos então que Paulo disse que fomos
salvos por Cristo por meio da fé para as boas obras as
quais Deus preparou para que andássemos nelas.
Que obras serão essas?
Gálatas 5:6 e 13 “Porque em Jesus Cristo nem a circuncisão nem a
incircuncisão tem valor algum; mas sim a fé que opera pelo amor. (…) Meus
irmãos, foram chamados para a liberdade. Que essa liberdade não seja uma
desculpa para seguirem os vossos maus instintos. Pelo contrário, ponham-se ao
serviço uns aos dos outros, praticando o amor de Cristo.
Percebemos nestes dois versículos que o mais importante
para Deus é a Fé n’Ele, a qual, por sua vez, produz
amor.
Voltando ao nosso texto, a pergunta que Tiago fez foi se o
meio pelo qual somos salvos, a fé, é um meio inoperante, isto é, se é
um meio que não produz nada.
2:15 Imaginem que algum irmão ou irmã, não tem nada que
vestir e lhe falta o necessário para comer, cada dia.
Mais uma vez vemos Tiago a usar um caso prático para mostrar uma realidade. Faz-nos
lembrar a pessoa de Jesus ao usar as parábolas.
Salientar novamente a importância de
fazermos este exercício para entendermos como certas verdades
podem estar relacionadas connosco mais do que com os outros.
Imaginemos então alguém que não tem nada para vestir e nem
para comer.
V16 Poderão dizer-lhes: «Vão em paz! Hão-de encontrar com que
se aquecer e matar a fome!» Mas se não lhes dão aquilo de que eles precisam, de
que valem essas boas palavras?
Por vezes, as nossas palavras podem ser frias e
insensíveis para com alguém que está
a sofrer. E muitas vezes isso até acontece, de uma forma inconsciente,
porque, provavelmente, não passámos por
esse tipo de sofrimento.
Exemplo: Vendedores de porta ou de cartões.
Que tipo de palavras a nossa fé tem produzido?
Que tipo de acções a nossa fé tem manifestado?
De que vale dizermos que temos fé se na prática isso não
se traduz em nada? Se assim for, que tipo de fé é esta?
Imagine alguém a chegar-se
até si e a dizer: - Estou a passar fome. Se a sua resposta fosse: O Senhor irá
providenciar aquilo que está a necessitar. Quão caricato isto seria!
Quando o nosso
celeiro está cheio e lidamos com os outros de uma forma despreocupada,
é porque, em certo sentido, achamos que
cada um tem o que merece ou simplesmente cada um tem conforme o que
investiu durante a vida.
As boas palavras, ainda que sejam necessárias, não
alimentam ninguém e nem dão, aos irmãos necessitados, aquilo que de
facto eles estão a precisar.
Perante a necessidade não basta palavras de consolo. É
preciso agir e agir em amor sempre com sentimento de alegria.
Lembre-se… Ao fazer alguma coisa, faça como se tivesse a
fazer para Deus.
V17 Do mesmo modo, a fé, se não é posta em prática, está
morta.
Ao olharmos para esta comparação, do versículo 16 com o 17, percebemos
duas coisas:
1º Palavras sem acções não têm valor
2º Fé sem obras é morta, isto é, não é uma fé salvífica.
V18 Mas alguém poderá ainda dizer: «Tu tens a fé e eu tenho
as obras.» Então mostra-me lá se a tua fé é verdadeira, sem obras, que eu
mostro-te, pelas obras, a fé que tenho.
O ponto é este… A única prova inequívoca se de facto a fé
é verdadeira, são as obras. Não há
outra forma.
Será que as pessoas à nossa volta têm visto essas obras?
Ou apenas nos têm ouvido a falar da nossa fé?
19 Tu acreditas que há um só Deus. Muito bem! Os espíritos
maus também acreditam e até tremem.
Se a fé fosse apenas o conhecimento da existência de Deus,
então seria perigoso, porque até o Diabo e os seus anjos acreditam nisso.
Vejamos o que diz em Marcos 5:7 E, clamando com grande voz,
disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por
Deus que não me atormentes.
Ou seja, o diabo e os seus anjos acreditam na existência de
Deus, afirmam que Jesus era o filho de Deus (texto) e tinham medo dele
(texto*).
Obviamente que todos nós acreditamos que eles não são salvos e nem nunca o serão.
Ao falarmos com algumas pessoas sobre Deus, normalmente
ouvimos “Eu também acredito” como se isso fosse a prova inequívoca de que são salvas. Como quem diz, já tenho o
ticket para ir para o céu e agora vivo conforme eu quero.
A fé salvífica não é demonstrada apenas pela verbalização ou
pelo mero acreditar.
20 Ó homem insensato, queres ver como a fé sem obras é
inútil?
Este versículo é a prova evidente que este era um problema
patente no seio da comunidade.
A palavra “insensato” no original significa “vazio ou
defeituoso”.
Sendo assim, quem achar que é possível ter fé sem obras é porque é completamente vazio e o
que diz não tem qualquer tipo de valor.
Tiago não estava a comparar 2 métodos de salvação, até
porque, só pode haver um meio pelo qual podemos
ser justificados.
O que acontece, é que ele comparou 2 tipos de fé… Uma que
pode salvar (viva) e outra que não pode salvar (morta).
V21 Não foi o nosso antepassado Abraão justificado pelas
obras ao oferecer o seu filho Isaac em sacrifício?
Ao lermos este versículo aparentemente parece que Tiago estava
a contradizer-se.
Se as pessoas são justificadas pela fé, como pode ele
dizer que Abraão foi justificado pelas obras?
Será que é por causa de Abraão ter vivido antes da pessoa de
Jesus Cristo?
Ou será que no Antigo Testamento as pessoas também eram
justificadas pela fé?
Teremos aqui a base para aceitarmos a justificação pelas obras?
Se de facto for isso, é contraditório com todo o
ensinamento bíblico, além de revelar também, que Tiago era incoerente
nos seus próprios argumentos.
Para conseguirmos interpretar, temos de saber que várias
palavras no grego bíblico não têm as mesmas definições que as nossas.
Por exemplo, a
palavra “conversão”, “mundo”, “todos” têm cada uma em si várias definições.
A seu tempo falaremos mais sobre isto.
Assim, a palavra justificação, no grego, tanto pode ser no sentido de declarar justo,
o meio pelo qual as pessoas alcançam a justiça de Cristo por meio da fé, como
também a palavra justificação pode significar “Demonstrar
justiça com o próximo” ou “mostrar que se
é justo através de alguma acção”.
Vejamos um exemplo desta dupla definição, apesar de haver
mais, da palavra “justificados” em Lucas 16:15 “E
disse-lhes: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas
Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado,
perante Deus é abominação”.
O que nós vemos neste versículo é que os fariseus não estavam
a declarar a sua inocência diante de Deus (primeira definição). Eles estavam sim
a mostrar aos outros que eram justos pelas suas acções praticadas (segunda
definição).
Peguemos agora na vida de Abraão, tal como Tiago fez, e
percebamos se ele foi justificado (declarado inocente – 1ª Definição) por meio
da fé ou das obras?
Génesis 15:6 “Abrão teve fé no SENHOR e por
isso o SENHOR o declarou justo”.
Tal como lemos, Abraão foi justificado por meio da fé.
Voltando ao texto em
Tiago, ele deu como argumento do seu exemplo, o episódio de Abraão e do seu
filho Isaac. Esse momento está descrito em Génesis 22.
Então é algo que ocorre posteriormente à declaração de
inocência (justificação) do Senhor para com Abraão. E, conforme sabemos, o Senhor Deus apenas declara uma vez a
inocência de alguém e essa declaração é tão poderosa que é algo único e inquebrável
(Garantia que a salvação não se perde).
Então, percebendo que a palavra Justificação tem também o sentido
de mostrar, através dos actos, que se é justo, logo Tiago não fala da “justificação salvífica”.
Fala sim do momento em que Abraão mostrou a autenticidade da sua fé através dos
seus actos, isto é, da obediência a Deus.
Concluímos então que Tiago
não defende a justificação por meio das obras mas defende que a
justificação, como evidência exterior, é manifestada pelas obras.
Não há incoerência naquilo que é ministrado por Paulo com
aquilo que é ensinado por Tiago porque se fosse, o próprio Tiago seria
incoerente no seu próprio ensino.
V22 Deves ver então que a sua fé foi acompanhada pelas obras
e que foi por elas que a fé se manifestou.
Vemos aqui a consolidação do argumento do versículo
anterior.
John MacArthur sobre este versículo tem uma ilustração
interessante. Diz ele que “tal como a árvore frutífera não chegou à meta antes
de dar frutos, a fé não alcançou o seu objectivo antes de ser demonstrada por
meio de uma vida justa”.
Tem a nossa fé
demonstrado algo?
23 Assim se cumpriu a passagem da Sagrada Escritura que diz:
Abraão teve fé em Deus e por isso foi considerado justo e foi chamado amigo de
Deus.
Mais uma vez a prova que o próprio Tiago acreditava e ensinava que a justificação, como declaração
salvífica, acontece por meio da fé (texto*).
24 Vejam, portanto, que é pelas obras que cada um é
justificado e não somente pela fé.
Mais uma vez… O cuidado que precisamos ter na interpretação
deste versículo para não dizermos que a justificação (declaração da inocência) acontece
por meio da fé e das obras.
O que percebemos aqui
é que o homem não é justificado pela fé somente, no sentido da evidência
(2ª Declaração), por um mero conhecimento de Deus.
Ele é justificado
pelas obras no sentido em que a sua
justiça é conhecida e provada através da sua fé e das suas obras.
Deixar um desafio para os irmãos com base naquilo que foi
dito. Em casa estudem os versículos 25 e 26, com outro exemplo de vida (Raabe),
e caso tenham dúvidas venham falar comigo.
Apenas uma nota sobre Raabe… Tiago usou a vida de duas
pessoas tão diferentes, um patriarca* e uma prostituta*, com o intuito de
mostrar que todos são justificados por meio da fé (dependência e confiança
em Cristo somente) sendo que, o resultado disso, será sempre a fé, como
conhecimento, e as boas obras (amor com o próximo).
Interessante também a forma como ele usa estas duas
personagens para salientar novamente que Deus
não fez acepção de pessoas, quando Ele escolheu, antes da fundação dos
mundos, quem se iria salvar,
conforme lemos em Efésios 1.
Aprendemos aqui 3 lições:
1ª Lição: Palavras bonitas, desprovidas de acções, não
têm qualquer tipo de valor.
Tiago diz que se falarmos e nada fizermos para com o próximo
(v14) isso será insignificante para Deus e para quem nos ouve. Será algo inócuo.
Quando eu era criança dizia que tinha uma namorada. Os meus
pais perguntavam-me se ela sabia que eu namorava com ela. Eu dizia que não.
Por vezes, a nossa vida cristã é assim. Dizemos que temos um
relacionamento com Deus, verbalizamos o nosso amor por Ele, mas Ele não sabe de nada. Além disso, esse
relacionamento nem é visível para com aqueles que nos rodeiam.
2ª Lição: Se a fé produz amor, logo quem não manifesta
amor não pode ter fé.
Tiago é muito claro relativamente à fé quando diz que não há fé se não houver obras (V17).
O que dizer então dos ímpios que fazem boas obras? Será
que eles são salvos? Será que é resultado de uma fé que nem eles sabem que
têm?
As boas obras não são, por si só, sinal de que
alguém é salvo, são sinal sim, da Graça comum de Deus para com todos
individualmente. Ele usa pessoas ímpias para fazer o bem.
Nós que somos cristãos, o que temos produzido?
Temos feito algo por alguém como se estivéssemos a fazer
para Deus?
Até onde já deixámos o nosso conforto pessoal para ajudar
alguém com necessidades?
Não podemos
dizer que amamos se não servimos. Servimos a quem amamos.
Não é por acreditarmos na providência divina que vamos ficar
insensíveis com o próximo. É precisamente
por acreditarmos nessa providência que vamos servir as pessoas com todo
o amor.
O Evangelho é a prova evidente que amar é dar. Lembremo-nos
do que diz João 3:16… Amou dando.
Se não estamos a realizar boas obras é porque afinal
somos religiosos e não cristãos.
Temos servido o próximo?
O Evangelho é a prova
evidente que devemos servir a quem não merece.
A fé não é apenas
para ser tida no nosso pensamento, também é algo que nos obriga a
agir de acordo com ela. Leva-nos a pensar e viver segundo o padrão de Deus.
3ª Lição: A fé salvadora é aquela que nos faz lançar toda
a ansiedade sobre Deus, porque Ele cuidará de nós.
O jugo da Lei é duro e o fardo é pesado, no entanto em
Cristo encontramos algo diferente… Mateus 11:28-30
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de
coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é
suave e o meu fardo é leve”.
Não basta dizermos que somos cristãos ou dizermos que lemos
a Bíblia.
A fé não é sobre o que eu penso mas sim como eu penso,
dependo e vivo.
Tem confiado em Deus?
Vivemos numa sociedade que vive e proclama a auto-ajuda.
- Auto-ajuda: Tu consegues. Evangelho: Tu não vais
conseguir.
- Auto-ajuda: Tu mereces. Evangelho: Tu nada mereces.
- Auto-ajuda: Vive para os teus sonhos. Evangelho: É Deus
quem define o teu rumo.
- Auto-ajuda: A solução está em si. Evangelho: A solução
está em Deus.
- Auto-ajuda: Vai aonde te leva o coração. Evangelho: O
coração é enganoso.
A vida cristã não é sobre o que eu desejo ser mas sobre
aquilo que realmente Deus deseja que eu seja.
Terminando… Lembre-se que a fé salvadora está sempre ligada
ao arrependimento.
Toda a mudança começa aí e não podemos querer separar aquilo
que Deu sempre juntou.
Actos 20:21 Tanto aos judeus como aos
não-judeus mostrei com firmeza que deviam arrepender-se para Deus e crer em
Jesus, nosso Senhor.
A fé não é apenas acreditar ou verbalizar e muito menos o
levantar do braço, ter fé é acreditar, verbalizar e confiar plenamente.
Crê nisto?
Que Deus nos ajude.
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