Igreja centrada no Evangelho… Este é o tema da nossa série de sermões tendo como base o livro de Gálatas
escrito pelo apóstolo Paulo aos cristãos da Galácia.
Começámos por perceber que só
existe um Evangelho. Todos os outros ensinos que não preguem Jesus
como o único caminho para a Salvação são
puras heresias, as quais têm apenas o
objectivo de retirar Jesus do centro da nossa vida colocando lá o ser
humano fazendo assim o Homem o centro de todas as coisas.
Depois percebemos que só há Evangelho porque há Graça.
Nada do que recebemos e podemos vir a receber será fruto do nosso merecimento. Tudo o que
nos acontece surge como dádiva do nosso
bom Deus, a qual transforma qualquer tipo
de pessoa independentemente do seu passado.
Vivemos descansados porque quando Deus olha para nós, olha por aquilo que Cristo fez no passado
e não pelo que nós fizemos. No entanto, temos
de responder com fé a esta Maravilhosa Graça.
Depois de Deus ter criado tudo para a Sua glória, o Homem
pecou e por isso Deus enviou o Seu filho Jesus para que nós também pudéssemos ser Seus filhos por meio da fé.
Como filhos de Deus devemos viver em Unidade uns para com os outros porque todos nós somos um
com Cristo.
O que significa unidade? Muitas definições têm existido…
Será que é baixar a fasquia para que todos se sintam bem?
Será que significa que todas as pessoas têm que pensar igual e terem
ministérios iguais? Será que é o cumprimento de umas determinadas regras?
Vamos tentar responder a estas e a outras perguntas.
O tema da pregação de hoje é “Unidade”.
Gálatas 2:1-10
Conforme já vimos antes, a Igreja estava a sofrer com os falsos ensinos dos profetas os
quais obrigavam os cristãos gentios, por exemplo, a circuncidarem-se para serem salvos.
Acreditavam em Jesus como o Messias mas continuavam com os
rituais cerimoniais para que a salvação fosse completa.
O apóstolo Paulo era um homem
que tinha amor pela evangelização porque tinha um grande amor pelo
Evangelho e, nesse sentido, face ao que Deus lhe disse, ele foi a Jerusalém para enfrentar esses falsos profetas.
V1 Catorze anos mais tarde, voltei a Jerusalém. Fui com
Barnabé e também levei Tito comigo.
Apesar de haver alguma dificuldade para se saber ao certo o
momento em que Paulo se está a referir na sua ida a Jerusalém, há uma grande probabilidade de ter sido depois da
sua segunda ida precisamente antes do concílio que depois houve nessa
cidade.
No livro de Actos vemos que era um hábito seu visitar
frequentemente Jerusalém.
Paulo menciona neste versículo o nome de Tito e Barnabé por causa da importância que estas duas
pessoas tinham na conversa que ia ter para que pudesse
mostrar-lhes o verdeiro sentido do Evangelho.
Barnabé era um judeu e era muito rico sendo que vendeu os seus bens para ajudar os cristãos
que estavam a passar por muitas dificuldades por causa da perseguição que
estavam a sofrer.
Este pormenor torna-se importante para depois compreendermos melhor o texto. Além disso, foi companheiro
de Paulo durante a sua primeira visita missionária.
Tito era grego e por isso era considerado gentio. Ao ser
gentio, não era circuncidado. Este aspecto torna-se também importante para a compreensão e aplicação da verdade bíblica.
Ele era “filho espiritual” como também cooperador no ministério do apóstolo
Paulo.
Paulo nesta viagem levou 2 pessoas, não para arranjar
confusões – ao levar um gentio -, mas para explicar que o Evangelho tanto é para judeus como para gentios sendo que ambos são aceites por Deus pela Sua Graça mediante a fé.
V2 Fui lá porque Deus me tinha dado a conhecer que devia ir.
Numa reunião particular com os responsáveis, expliquei-lhes o evangelho que eu
anuncio aos não-judeus. Não queria que aquilo que tinha feito e continuo a
fazer fosse inútil.
Nota: Paulo não foi designado apóstolo pelos outros apóstolos.
Ele foi reconhecido apóstolo pelos outros apóstolos. Ele não precisava de ir lá
para promover a sua identidade, mas sim para promover a Verdade.
Isto é uma lição para nós… Passamos muito tempo a tentar defender a nossa identidade,
em vez de passarmos esse tempo a defender a
identidade de Cristo porque, tal como vimos na EBD, já não é o nosso pecado
que nos define, mas sim aquilo que Cristo fez na
Cruz.
Como apóstolo, Paulo tinha revelações especiais da parte de
Deus e numa dessas revelações, Deus enviou-o até Jerusalém. Ele não foi até a esta cidade à procura da aprovação
dos homens. Ele foi em plena obediência à voz de Deus para defender o verdadeiro e único Evangelho.
Os falsos profetas acusavam-no de ele pregar outro Evangelho
e por isso tentavam criar divisão dentro das
Igrejas ao dizerem que Paulo pregava outra coisa que não a mensagem de Deus,
mas Deus ao ter mandado Paulo a Jerusalém, sabia que era a maneira de mais
portas se abrirem para que a missão de ministrar aos gentios – não judeus - continuasse.
Ao olharmos para a expressão final “Não queria que aquilo que tinha feito e
continuo a fazer fosse inútil”, Paulo sente que ao colocarem em causa o seu ensino,
estavam a colocar em causa tudo o que Deus
tinha feito na vida dele, como também através da sua vida.
Contudo, os apóstolos
reconheceram que o ensino de Paulo era exactamente o mesmo que o
ensino de Jesus. No entanto, Deus tinha
chamado Paulo para ministrar aos não judeus enquanto, por exemplo, Pedro tinha o seu ministério com os judeus.
Significa isso que podemos ter personalidades distintas,
como também dons, talentos e ministérios diferentes mas a única coisa que não pode ser diferente é o conteúdo da mensagem.
Existe unidade quando a mesma verdade é
pregada!
V3-4a) Ora bem, Tito, que estava comigo e que não é judeu,
não foi obrigado a receber a circuncisão, embora alguns que se faziam passar
por irmãos e se tinham juntado a nós quisessem que ele se circuncidasse.
Paulo quando levou consigo Tito serviu de exemplo para mostrar como o Evangelho era e é suficiente para salvar qualquer tipo de
pessoa – judeu ou gentio - como também era e é suficiente para salvar o ser
humano sem qualquer tipo de acção feita por ele. Nada pode ser acrescentado ao que Cristo fez!
Os falsos profetas bem tentaram que Tito fosse circuncidado,
dizendo eles, para que fosse salvo a fé em Jesus não bastaria.
Com isto, estavam a dizer que o cumprimento de regras mais
aquilo que Cristo tinha feito tornava o homem salvo. Resumidamente… Obras mais
fé.
Podemos perceber o
motivo da irritação de Paulo perante esta heresia.
Paulo era um homem flexível
no seu dia-a-dia. Coisas que ele podia exigir mas que, para Ele, por amor a
Cristo, eram coisas sem qualquer tipo de
valor.
No entanto, havia uma coisa
que o tirava do sério… Todos os ensinos ou acções que mostrassem que o
sacrifício que Jesus fez na Cruz não tinha sido suficiente…
Não se pode nem tirar e nem acrescentar nada à mensagem de
Jesus.
Esses falsos profetas propunham uma perversão completa da obra da Cruz e Paulo levou Tito para
mostrar que ele não tinha que cumprir normas
culturais ou moralistas para ser salvo. Se assim fosse, a salvação não
seria por Graça, mas sim como recompensa perante um gesto feito.
Que tipo de exigências nós colocamos para dizermos que as
pessoas são salvas? Haverá algum tipo de exigência que nós fazemos?
Só existirá unidade quando percebermos que
foi Cristo que nos uniu. Porque se a salvação fosse pelos nossos
méritos ou por acções nossas, certamente deixaria de haver unidade porque
acharíamos superiores aos outros… (Fariseu e publicano).
4b) -5 Esses tinham lá entrado como espiões para verem a
liberdade que nós temos em Jesus Cristo, a fim de nos fazerem novamente
escravos da lei. Mas nem por um momento nos deixámos levar por eles, para que a
verdade do evangelho pudesse chegar intacta até vós.
Quando se tratava do Evangelho, Paulo não brincava e nem cedia. Para ele, era muito claro que todo
aquele que distorcesse a mensagem da cruz era um anátema.
Neste versículo, no original percebe-se melhor, vemos mesmo Paulo a dizer àquelas pessoas que elas não
eram cristãs. Ele usou a expressão “falsos irmãos”.
Logo, todos aqueles que se
opõem à justificação por meio da fé, não poderão ser considerados cristãos.
Ao compreendermos a mensagem da Cruz, podemos sentir a liberdade que há em Jesus. Não para fazermos o que
queremos, mas para vivermos para a pessoa que
nos libertou… Jesus Cristo.
Cristo libertou-nos para quê? Para vivermos como queremos?
Sejamos claros biblicamente… Nós não temos liberdade para
vivermos como queremos. Os 10 mandamentos ainda têm valor para nós e servem para sabermos como devemos viver,
no entanto, não servem como sistema de salvação…
Isto é, são a nossa linha
orientadora mas não são a razão da nossa salvação*.
Quando sentirmos a liberdade que há em Cristo, seremos
gratos. Quando houver gratidão, então haverá obediência.
Livres para obedecer em amor por aquilo que Cristo fez! Esta
é a mensagem do Evangelho.
A preocupação do apóstolo Paulo estava centrada no ensino da
Verdade porque sabia que o fruto era a unidade.
Unidade entre os cristãos
existirá quando soubermos que existe apenas uma Verdade a ser vivida. Por
isso, não acreditar em nenhum tipo de ecumenismo.
Logo, a unidade bíblica não é fruto de acções de convívio. A
unidade bíblica é fruto de uma vivência diária da Verdade a qual nos faz estar
em comunhão com os nossos irmãos.
Nós não somos chamados para entreter, mas para evangelizar.
É a verdade do Evangelho
que nos une. Não existe Unidade quando a
Verdade é posta de parte.
Quanto mais próximo estamos de Cristo, mais próximo
estaremos dos nossos irmãos.
V6-9 Aqueles que eram reconhecidos como responsáveis não
alteraram em nada a minha mensagem. Na verdade, a mim nem me importa o que eles
eram, pois Deus não julga pelas aparências. Pelo contrário, eles reconheceram que Deus me
tinha encarregado de anunciar o evangelho aos não-judeus, tal como tinha
encarregado Pedro de anunciar o evangelho aos judeus. Tal como Deus actuou por
meio de Pedro, em favor dos judeus, actuou por meu intermédio para os
não-judeus. Tiago, Pedro e João, que eram os mais considerados,
reconheceram que Deus me tinha confiado esta missão e deram-nos as mãos, a mim
e a Barnabé, em sinal de acordo. E assim, concordámos em que nos dirigíssemos
aos não-judeus, e eles aos judeus.
Paulo refere que os apóstolos
reconheceram o seu ensino como sendo o
verdadeiro Evangelho. Não porque ele precisasse dessa autorização, mas como
forma, tal como vimos, de poder levar a
Palavra ainda mais longe.
Paulo não estava preocupado com o julgamento dos homens e se
eles gostavam ou não da Palavra. A sua
preocupação era ser fiel à mensagem de Deus.
Tanto é que ele não estava preocupado quando disse “Deus não
julga pelas aparências”. Ele menciona
isso porque para aqueles judeus, a aparência era importante para mostrar aquilo
que Deus e o homem tinham feito.
Estas palavras de Paulo transportam-nos para o AT - II Samuel 16:7
“Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a
grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como
vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha
para o coração.”
Nesse sentido, tal como a circuncisão não define o povo de
Deus, da mesma forma a aparência externa não
define quem são os filhos de Deus. E muitas
vezes julgamos pessoas ou coisas pela aparência.
A semana passada referi que o
meu objectivo enquanto pastor não é pretender ser “amoroso*” naquilo
que digo, mas sim amoroso na forma como
falo porque o verdadeiro amor proclama
sempre a verdade em amor.
Vimos isso também no chamado capítulo do amor… I Coríntios
13:1 “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse
amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.”
Saibamos que muitas vezes há verdades que ficam perdidas por
se dizerem da forma errada.
Não julguemos pelas aparências, mas pela fidelidade à
Palavra.
Por isso, só existirá unidade quando houver fidelidade à Palavra de
Deus. Este deve ser o nosso compromisso.
Isto tanto pode ser
aplicado à Igreja, como também nos
nossos lares. Onde há divisões, não há vivência do Evangelho. Porque em
Jesus, todas as reconciliações são possíveis.
Unidade sem fidelidade à
Palavra acontecerá quando os gostos forem iguais.
Unidade como
consequência da fidelidade à Palavra haverá
mesmo com os gostos diferentes e opiniões até contrárias.
V10 Só nos recomendaram que nos lembrássemos dos pobres,
coisa que eu sempre tenho procurado fazer.
Os apóstolos fizeram apenas uma única recomendação ao apóstolo Paulo. Que nunca se descurasse dos pobres. No entanto, como podemos ver neste
versículo e também no livro de Actos, ele já fazia isso antes. Eles apenas
disseram isso porque havia uma preocupação muito
grande com a necessidade que os cristãos estavam a passar.
Significa isto que quando
temos o coração em Deus, teremos a
boca aberta para falar d’Ele às pessoas e a
carteira pronta para ajudar os pobres.
Se de facto o nosso coração foi convertido pelo Espírito
Santo, isso será também visível no nosso bolso. Por isso, devemos estar prontos a ajudar quem não pode.
A unidade existirá quando
tivermos uma cultura de preocupação com o próximo. Qual a razão? Porque deixamos de ter a vida centrada em nós próprios
e desejaremos mais viver como Cristo.
É por amor a Cristo que investimos na vida das outras
pessoas!
Resumidamente…
Em Cristo somos livres não para vivermos como queremos, mas para vivermos como Ele quer e à
medida que isso acontece mais união haverá
entre as pessoas.
Somente em Cristo haverá
verdadeira unidade e assim seremos um, como Cristo é um com o Pai e com o
Espírito Santo.
Que Deus nos ajude a
sermos uma comunidade onde exista unidade e isso
só acontecerá quando o Evangelho for pregado como também vivido.
Onde houver
falta de unidade, foi porque houve falta de Evangelho.
Que Deus nos ajude.