Hoje entramos na 1ª Carta aos Coríntios.
É importante conhecermos o contexto da cidade para percebermos a dimensão e os objectivos
com que a carta foi escrita pelo apóstolo Paulo.
Sendo assim, percebemos em Actos 18 (Leitura feita) que foi Paulo quem fundou a Igreja e permaneceu
lá durante 1 ano e meio. Foi precisamente no final da sua segunda viagem.
Depois da saída de Corinto foi para Éfeso e foi certamente
lá que escreveu esta carta.
A cidade de Corinto
era muito importante. Estava na principal rota entre Roma e o Oriente.
Era, naquela altura, um centro de negócios, comércios e cultura. Consideravam-se
todos muito sábios.
Tinha um porto muito importante e, por isso, era uma cidade
estratega para a proclamação do
Evangelho.
A ideia de Paulo era que as pessoas ouvissem o Evangelho e
depois quando fossem para as suas terras proclamassem a outras.
Era uma cidade relativamente nova porque em 146 AC fora destruída totalmente pelos
romanos e apenas em 46 AC fora reconstruída por César Augusto.
Em Corinto confundia-se
religião com a prática sexual. Por exemplo, tinham um templo, na parte mais
alta da cidade, onde adoravam uma deusa (Afrodite) e tinham cerca de mil
sacerdotisas, as quais se envolviam com os frequentadores daquele sítio e
chegavam ao ponto de ir até à cidade à procura de pessoas para se relacionarem.
Este pormenor será importante para depois compreendermos certos aspectos nesta
carta.
Era uma cidade também marcada pelo homossexualismo, bebedeira
e glutonarias.
Paulo escreve esta carta, acredita-se que esta tenha sido a
segunda, como resposta ao que ouviu de Cloé sobre aquilo que se estava a
passar na comunidade.
Assim, o apóstolo tem a necessidade de reafirmar como a
Igreja deve ser e por que deve ser assim.
I Coríntios 1:1 Da parte de Paulo, chamado por Deus para ser
apóstolo de Cristo Jesus, e o irmão Sóstenes,
Partindo da certeza de que a sua vida é Deus, Paulo, no
início desta carta, mostra quem ele é.
Ou seja, não são as circunstâncias que o definem. Em Deus
ele tem a sua identidade.
Vejamos… Paulo chamado por Deus. Então, ele é quem é não pelo seu mérito, mas porque Deus o chamou.
Quando Paulo percebeu a chamada de Deus, entendeu que essa
convocatória era uma tarefa que lhe estava a ser destinada.
Dessa forma, Paulo
fez o que fez não por causa dele ou das suas ideias, mas fez por causa de quem
o chamou.
Diz-nos o texto, Paulo foi chamado por Deus para ser
apóstolo.
Isto é, alguém
enviado por Deus com autoridade dada pelo próprio Deus.
Paulo sabe assim quem era e o que devia fazer até Deus o
chamar para Si.
A definição da
vida de Paulo e do que ele fazia era sempre em relação a Deus e
não às coisas. A sua vida tinha significado
sempre a partir de Deus.
Por outro lado, certas coisas que Paulo antes considerava
como importantes, deixaram de o ser
depois de ele definir a sua identidade a partir de
Deus.
Vejamos… Filipenses 3:7 “Mas todas essas coisas, que eu julgava proveitosas, considero-as
agora como esterco por amor a Cristo” ou por estar em Cristo.
Vivemos hoje numa sociedade que procura que as pessoas
arranjem significado para a sua vida pelo que têm ou por aquilo que
podem obter.
O mundo actual obriga-nos a pensar que somos alguém
quando temos certas coisas, que devemos agir de acordo com o nosso
coração ou até mesmo por aquilo que nos parece que irá trazer felicidade.
É curioso notar que o desespero ou a angústia tomam conta
de nós quando não é possível adquirirmos tais coisas ou percebermos que determinada
acção apenas nos trouxe felicidade momentânea e que, afinal, a angústia
ainda toma conta de nós.
Quem procura significado nas coisas ou naquilo que pode
fazer, é porque a posição que tem em Cristo, para si, não é
suficiente e satisfatória.
Lembremo-nos… Não são
as coisas que nos definem, nós é que, a partir da identidade que temos
em Cristo, devemos perceber na verdade o que essas coisas devem
significar para nós.
É apenas possível viver neste mundo, que procura apenas a
sua definição no prazer momentâneo não pensando nas consequências, quando percebemos
o verdadeiro valor de termos a nossa definição garantida em Cristo.
Daí o conselho muito prático que não nos devemos
conformar com este mundo.
Foque o seu
olhar para Cristo que é o autor e consumador da nossa fé (Heb. 12:2)
e assim irá viver a vida com um objectivo claramente definido.
Resultado? Não precisará de obter nada para encontrar paz
para si, ou para a sua família, ou até mesmo para a nossa Igreja.
Somos muito hábeis a comparar a nossa vida com os outros,
em vez de olharmos para a vida com a perspectiva de que já fomos
conquistados por Cristo. E isso nos chega.
Paulo é muito claro. Sei quem sou em Cristo e sei para onde
vou. Sou santo… Separado para Deus.
É nesta perspectiva que ele escreve para a Igreja de
Corinto,
V2 “À Igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em
Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todo o lugar
invocam o nome do nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso”.
Neste versículo percebemos os destinatários da carta.
A Igreja de Corinto e também a todos os cristãos espalhados pelo mundo fora.
Percebamos primeiro o que Paulo diz sobre Igreja…
“À Igreja de Deus”.
Atos 20:28 – “Cuidai pois de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o
qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de
Deus, que ele adquiriu com seu próprio sangue”.
A Igreja é de Deus porque Ele comprou-a a Si mesmo com o
seu próprio sangue, o sangue do Seu filho Jesus.
É tendo esta noção que podemos perceber quem Deus é e
o que Ele deseja para as nossas vidas.
Não iremos obedecer a Deus com alegria, enquanto não
percebermos o valor desta conquista.
Tal como vimos, é apenas olhando para Deus que percebemos
quem somos. É apenas olhando para Deus que percebemos a nossa missão.
É apenas olhando para Deus que sabemos para onde vamos. Por isso… Temos
Esperança.
Dessa forma, a Igreja Baptista da Graça
deve reflectir em tudo aquilo que faz a imagem do Deus vivo.
Deus tem plena liberdade de decidir o que quer fazer da
nossa Igreja porque a Igreja é d’Ele. Comprou-a a Si mesmo.
Isso é o melhor para nós porque também sabemos que toda a Sua
vontade é Santa e boa para nós. Ou confiamos ou não. Ou fazemos com
alegria ou não.
Se Deus nos comprou, então é porque nós estamos separados para Ele. Logo somos santos.
Já estamos livres
da escravidão do pecado. Já temos liberdade para fazer aquilo
para o qual fomos chamados.
Para entendermos este versículo e os versículos a seguir,
temos que perceber que Paulo fala aqui da, como chamamos em Teologia, “Santificação Posicional” a qual
acontece apenas uma vez.
No entanto, o texto diz que somos santos e chamados para
ser santos.
O que significará isto? Então estamos ou não estamos com a
nossa posição definida? Será que ainda temos que fazer algo? Afinal
somos legalistas?
Apesar de a nossa posição já estar definida em Cristo e sabermos que nenhuma condenação há para os que
estão em Cristo Jesus, a Igreja (todos nós) somos chamados a
viver uma vida de santidade.
A verdade é que é um processo
que é longo e quando vencermos algumas etapas, lembremo-nos que podemos
voltar a cair.
Esta é a santificação progressiva a qual termina apenas
quando partirmos ou então quando Jesus vier.
A santificação não é a maneira pela qual Deus sabe o
quanto nos deve amar*. Serve sim, para mostrarmos o quanto amamos a Deus
no nosso dia-a-dia. E a melhor forma, caso erremos, é através do
arrependimento.
Deus ama-nos
incondicionalmente, poderosamente e eternamente.
Deus amou-nos antes da fundação do mundo.
Ele chamou-nos para sermos santos (separados) e nós
respondemos a esse chamado em Santidade.
Deus é Santo e por isso nós também o devemos ser (I
Ped. 1:16).
Devemos ser sempre na
medida em que Deus é*.
Somos chamados cada vez mais a reflectir a imagem do Deus
vivo e assim espelhar a imagem de Cristo no mundo.
Isto tudo acontece, tal como diz o texto, porque
invocaram o nome do Senhor Jesus. Isso foi consequência da Graça do
nosso Deus que transformou os corações de pedra.
Ezequiel 11:19-20
“E lhes darei um só coração, e um
espírito novo porei dentro deles; e tirarei da sua carne o coração de pedra, e
lhes darei um coração de carne; Para (consequência) que andem nos meus
estatutos, e guardem os meus juízos, e os cumpram; e eles me serão por povo, e
eu lhes serei por Deus”.
Tal como percebemos neste versículo de Coríntios, 3 coisas
aconteceram… 1º Fomos
santificados/separados para Cristo Jesus; 2º
Somos chamados a ser santos; 3º
Invocámos o nome do Senhor Jesus (Rom. 10).
V3 Que Deus, nosso Pai, e Jesus Cristo, nosso Senhor, vos
dêem graça e paz.
V4 Sempre dou graças a Deus a vosso respeito, a propósito da
Sua graça, que vos foi dada em Cristo Jesus;
Depois de termos percebido que as nossas vidas estão
definidas em Cristo Jesus, percebemos neste versículo o propósito do
chamado de Deus… Sermos santos.
Através desta oração de gratidão de Paulo iremos perceber os
verdadeiros motivos pelos quais devemos
ser santos e o porquê de isso ser
possível.
Tudo muda quando percebemos que, tal como lemos neste
versículo, somos salvos pela Graça de Deus e
não pelos nossos méritos.
O que Deus fez com o nosso pecado, em Cristo, é poderoso*.
Saber disto muda a nossa visão, faz com percebamos que em
Cristo temos tudo, devido ao Seu amor
por nós.
Deus não precisava de nós, Ele não se sentia sozinho,
mas decidiu partilhar o amor que tinha com o Seu filho connosco. Por
isso, podemos chamar Deus de Pai.
Entender e ter Deus como Pai é a melhor bênção que pode
haver. É sinal de termos tudo.
V5 Pela união com Ele tornaram-se ricos em tudo:
Quando estamos em Cristo temos tudo. Nada nos faltará
enquanto Igreja.
Paulo saudou aqueles irmãos da Igreja de Corinto e saudou-os
na medida em que Deus estava a actuar na vida deles.
A questão não era tanto o que eles estavam a fazer
(mais tarde iremos ver várias repreensões sobre as suas acções) mas sim aquilo que Deus estava a conceder-lhes
em Cristo.
Diz-nos o texto que, em Cristo, todos os cristãos são
ricos. Nada lhes faltará.
Mesmo podendo não ter dinheiro, eles continuavam a ter tudo o que era necessário em
Cristo.
A vida do cristão tem de apontar sempre em Cristo. Sempre!
Percebemos também que os cristãos são capacitados por Deus,
através de dons, para realizarem o ministério para o qual foram chamados.
“Fazer discípulos de Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo, para a Glória de
Deus.”
Na Igreja também nada
nos faltará.
Aliás, se faltar, é porque algum de nós, por exemplo, não
está a colocar os seus dons ao serviço para o qual lhes foram concedidos*. Edificar
o corpo de Cristo.
Somos ricos em quê?
V5 Na capacidade para comunicar e para entender a mensagem
divina.
Muito interessante este texto… Pelo facto de estarem ligados
a Cristo, eles eram ricos.
Receberam 2 bênçãos
muito especiais as quais estavam relacionadas com a Palavra de Deus.
A verdadeira riqueza está na Palavra de Deus.
É através dela que temos conhecimento da verdade (EBD).
Vejamos…
1º Eles eram ricos porque Deus deu-lhes a
capacidade de partilhar a Palavra.
Já alguma vez associámos a riqueza a este aspecto?
Os cristãos são
capacitados por Deus quando testemunham da Sua Palavra*.
O poder não está nas nossas palavras mas naquilo que o
Espirito Santo faz através delas. Não estamos sós. Não tenhamos medo de evangelizar.
O poder não está em nós.
Então devemos orar para que Deus nos capacite antes de
falarmos. Não vai ser o medo que nos vai dominar mas sim o Espírito Santo
que nos vai orientar.
Efésios 6:18-19:
“Orando em todo o tempo com toda a oração
e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por
todos os santos, e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a
palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho”.
2º Eram ricos pela capacidade de entender a
mensagem.
A verdade é que também precisamos
de meditar e conhecer a Palavra, para que o Espírito Santo use a nossa
mente (Catecismo).
Quando assim é, o Espírito dar-nos-á entendimento e
percepção do poder da Palavra de Deus, caso contrário, acharíamos que era tudo
loucura (Ler 1:18).
Mais para a frente iremos perceber que o apóstolo Paulo
repreende-os por causa do abuso destes dons. Vamos deixar isso para depois.
Nota: Somos ricos porque podemos falar e entender a
Palavra que é poderosa.
V6-7 Uma vez que o testemunho de Cristo está arraigado no
vosso meio, já nenhum dom vos faltará, enquanto esperarem a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo.
As pessoas em Corinto eram muito orgulhosas pela sabedoria
humana que mostravam.
Isso fazia com que não dessem valor àquele que é poderoso
para actuar na vida deles… Deus.
Quando achavam que era pela sabedoria humana é porque já
tinham deixado de lado ou nem sequer conheciam a sabedoria de Deus.
Daí Paulo dizer que tudo isto aconteceu não por causa da sabedoria deles mas por causa da Palavra de Deus
que estava arraigada nos seus corações.
Analisando com o V2, a Palavra chegou até eles e assim
puderam invocar o nome do Senhor, isto é, por meio da fé.
Deus é poderoso e Paulo garantiu-lhes que nenhum dom lhes iria
faltar até à vinda de Cristo. Ou seja, nenhum
dom nos irá faltar.
Em Cristo temos tudo o que precisamos, quer a nível pessoal
quer a nível de Igreja. Sentimos este poder?
V8 Ele há-de fazer com que continuem firmes até ao fim, de
modo que ninguém tenha de que vos acusar no dia da sua vinda.
V9 Deus chamou-vos a viver em comunhão com o seu Filho, Jesus
Cristo, nosso Senhor. E Deus cumpre a sua palavra.
Até agora percebemos que pela Graça de Deus somos santos (separados), lutando para ser santos (santificação) e que somos enriquecidos n’Ele enquanto Igreja para abençoar
outras vidas com a Palavra de Deus.
Nestes dois versículos vemos algo poderoso e edificante para
nós enquanto cristãos.
A perseverança não é
o sinal da nossa fidelidade ou da nossa força. É sim sinal de fidelidade
de Deus a Ele mesmo para connosco.
Significa isso que aquilo que nos fará aguentar até ao
fim, não são as nossas forças ou capacidades, daí cairmos, mas sim o
agir de Deus em nós, através do Seu Santo Espírito, dando-nos a capacidade e a vontade de arrepender.
Desistir não é de Deus*. Se caímos, lá está Deus para nos
levantar.
Se nós merecíamos perder a Salvação? Oh sim… Com toda
a certeza que sim. Quantas vezes?
Se nós iremos perder a Salvação? Temos a certeza absoluta que não, porque pela Sua Graça Ele irá
ajudar-nos a perseverar até ao fim.
Se nós perdêssemos a Salvação, era porque o amor e a
fidelidade do nosso Deus eram falíveis. E isso… É impossível.
Estamos na luta… Não desistamos. Deus é por nós e a favor
de nós. Ele é o nosso Pai.
Lutemos para enquanto Igreja sermos santos para que, em tudo
aquilo que fizermos, as pessoas possam
render glórias ao nome de Deus.
Há pessoas vivas que na verdade estão mortas*. Há pessoas
mortas que afinal estão vivas*.
Se nos arrependermos dos nossos pecados e acreditarmos que
Jesus foi à Cruz no nosso lugar, poderemos dizer com toda a segurança que estamos
duplamente vivos. Sentimos esta alegria?
Olhemos para as coisas não no sentido do que elas têm
para nos oferecer, mas no sentido do que Deus pode oferecer por meio
delas*.
Então meus irmãos, a
Igreja é chamada a ser Santa porque Deus é Santo. Somos sempre na medida
em que Deus é. A Igreja deve ser a imagem do Deus vivo.
Não é em vão que quando dou aconselhamento às pessoas pergunto-lhes
“Qual a lição que aprendem do Evangelho?” antes de fazer determinada coisa.
Nós não fazemos para conseguir o merecimento de Deus
(legalismo). Nós fazemos na medida em que já fomos aceites por Deus
(Evangelho).
Logo, o problema do
Legalismo é vencido com o Evangelho.
Termino apenas com uma frase do Kevin DeYoung… “Santificação,
portanto, será marcada por mais arrependimento do que perfeição”*.
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