10 Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo,
que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais
inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.
Paulo começou esta carta a falar daquilo que Deus fez por
eles em Cristo Jesus.
Os cristãos em Corinto viviam em desunião com Deus mas, pela
Sua Graça, viviam assim em Paz com Deus.
É isso que percebemos em Romanos 5:1…
É interessante notar, que ao olharmos para este texto, percebemos
que quando estamos ligados a Deus, haverá
consequências naturais nos nossos relacionamentos horizontais. É
impossível termos um encontro com Deus e viver como se isso não fosse.
Deus transforma todo o nosso ser. Deus não muda alguns aspectos
da nossa vida. Ele transforma-nos em novas criaturas.
A ênfase deste
texto está precisamente na procura da Verdade para que então possa surgir a Unidade. E a verdade
é Cristo o qual liberta, une vidas a Deus e une pessoas.
A união é uma consequência da Verdade e não o contrário.
Quando lutamos pela unidade sem preocuparmo-nos com a
Verdade as divisões irão surgir. A unidade não pode ser o fim último. A Verdade
é.
A unidade surge quando estamos todos ligados à verdade, em
termos de crença mas também de vivência.
Diz-nos o texto que “faleis todos a mesma coisa”.
Vemos aqui mais uma vez a importância da Verdade.
O apóstolo Paulo reforça a ideia que aquela comunidade devia ter o forte desejo de buscar unidade na
doutrina, naquilo que é essencial à fé.
Então, a doutrina não afasta pessoas, traz sim a
verdadeira união, a qual, segundo o texto, surge
pela correcta pregação da Verdade e não com histórias com uma
moral no fim. O moralismo está a entrar ou já entrou na vida de algumas igrejas.
Diz-nos ainda o texto que eles deviam ser “inteiramente
unidos”. Porquê? Por que primeiramente, como vimos a semana passada,
há um entendimento da ligação a Cristo.
A palavra no original é usada para “consertar redes, ossos e utensílios quebrados”.
Significa isso que a Igreja
é chamada a viver em união e se tiver problemas, que era o caso da Igreja
de Corinto, eles
têm de ser tratados, não pela via da separação, mas pela
reconciliação.
Percebendo a ligação dos versículos, quando a reconciliação
não é possível, é porque as pessoas ainda não perceberam aquilo que Cristo
fez por elas. Quando há grupos, não pode haver corpo.
Quando percebemos a Graça (dom imerecido) de Deus derramada nas
nossas vidas, todas as outras reconciliações são consideradas menores face à
reconciliação que tivemos em Cristo. Daí, Paulo começar esta carta precisamente
para dizer que nada fizemos, antes pelo contrário, para termos a posição que temos em Cristo.
Deus é Santo, por isso devemos ser Santos.
Deus ensina-nos a viver em união na Sua relação
trinitária. Logo, a Igreja é chamada a viver em unidade.
Nos dias de hoje, vivemos numa sociedade individualista e
pluralista. Apesar disso, a Igreja é
chamada a viver em Verdade e não em verdades. É chamada a viver em
Unidade e não em partidarismos.
A palavra Unidade, em termos bíblicos, reconhece
que pode haver diversidade num caminho único que é percorrido.
Há assuntos que podemos não concordar. Aliás, não conheço
ninguém que tenha a mesma visão do que eu em todos os assuntos*.
Tal como falei no retiro da Igreja, é normal haver pessoas que pensem de outra forma. Sempre respeitei
e respeitarei quem pense diferente de mim dento da Igreja. Aliás, somos
chamados a respeitar e a ouvir opiniões diferentes dentro de certos limites.
Como pastor é a minha responsabilidade pastorear o
rebanho de Deus mesmo sabendo que possam haver opiniões diferentes. É
a minha responsabilidade indicar o caminho, em todas as áreas bíblicas,
sabendo que tenho sempre que ministrar com amor e mansidão.
Lembrem-se que sobre os pastores recai uma grande
responsabilidade… Tiago 3:1 “Meus irmãos,
muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”.
11 Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos
da casa de Cloe, de que há contendas entre vós.
Muito interessante um aspecto deste versículo. Normalmente o
que acontece é “Nós ouvimos umas coisas*”, “Há alguém que pensa assim*”, etc.
Paulo credibiliza os seus argumentos revelando pessoas
concretas que deram a cara.
Supõe-se que a família de Cloe era considerada como uma
família que revelava maturidade cristã
para que Paulo tivesse em conta a sua opinião e usasse também o nome.
12 Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de
Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo.
Dentro da comunidade havia quem se achasse mais
importante que os outros por causa das pessoas que exerceram autoridade
espiritual nas suas vidas.
Não era apenas por haver opiniões diferentes, dentro dos
membros, mas porque consideravam-se superiores por alguma coisa.
Uns diziam que eram de
Paulo.
Relembrar que Paulo era o fundador da
Igreja e, por isso, estas pessoas achavam que
tinham mais autoridade do que as outras. Aliás, segundo William Barclay,
estas pessoas estavam a usar este argumento para transformarem a liberdade
em libertinagem.
Outros diziam que eram de
Apolo.
Apolo era tido como homem de grande sabedoria e
eloquência. Ele era da cidade de Alexandria, a qual era considerada como
o centro da actividade intelectual do mundo. Aqueles que estavam do lado de
Apolo, queriam intelectualizar o
cristianismo e por isso valorizavam bastante os discursos eloquentes em
detrimento da mensagem da cruz.
Diz ainda o texto que
outros diziam que eram de Pedro.
Segundo alguns comentaristas seriam os cristãos judaizantes e, segundo William Barclay, eram os que achavam
que tinham que obedecer à Lei para serem salvos. Os legalistas. Acredita-se
que seria um núcleo bem pequeno.
Por fim, ainda existiam aqueles que diziam que eram de
Cristo.
Provavelmente os moralistas, presume-se, que fossem
problemáticos. Achavam que eram os
cristãos verdadeiros e que quem não fosse do grupo deles, não era um
cristão na verdade. Não se submetiam à autoridade espiritual dos
presbíteros por acharem que eles eram a fonte de toda a autoridade.
Segundo Barclay, eram intolerantes e beatos.
Será que é este ensino que aprendemos das Escrituras?
13 Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em
favor de vós ou fostes, porventura, baptizados em nome de Paulo?
Muito interessante este versículo. Cristo não está dividido e, por isso, é a Ele que devemos ser
fiéis. Ele é o nosso sumo-pastor. Logo, Ele é a cabeça da Igreja.
Reparem no argumento do apóstolo para criticar os seus
seguidores… “Será que foi Paulo que foi crucificado por vós?”.
Os cristãos são baptizados em nome de quem? De Cristo. Logo,
é a Ele que devemos seguir.
No dia em que o pastor começar a ter seguidores seus,
é porque não está a levar ou não levou o rebanho até Cristo.
14 Dou graças [a Deus] porque a nenhum de vós baptizei, excepto
Crispo e Gaio;
15 Para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome.
16 Baptizei também a casa de Estéfanas; além destes, não me
lembro se baptizei algum outro.
Nestes versículos o que percebemos é que para Paulo não
importa quem baptiza, importa sim em quem fomos baptizados.
Aliás, há pessoas que foram baptizadas por pastores que hoje
em dia já nem no ministério estão e outros que até mesmo desviaram-se da fé.
Será que estas pessoas são menos importantes do que os outros?
Obviamente que não. Todos os cristãos foram baptizados em
nome de Cristo Jesus.
17 Porque não me enviou Cristo para baptizar, mas para pregar
o evangelho;
Poderíamos achar, à primeira vista, que Paulo estava a
anular a importância do baptismo, quando o próprio baptismo é uma das
duas ordenanças dadas à Igreja.
Mesmo a Missão dada por Jesus em Mateus 28, diz para
fazermos discípulos como? Indo, ensinando e baptizando.
O que quereria dizer então o apóstolo Paulo?
Vejamos o desafio que lhe foi dado por Deus em Atos
26:16-18 “Mas levanta-te e põe-te
sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e
testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te
aparecerei ainda; Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio,
para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de
Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os
que são santificados pela fé em mim”.
Entendemos assim que o baptismo não foi o objectivo primário
da sua chamada, mas sim a pregação do Evangelho. Desta forma, ele realça a
tarefa primária para o qual fora chamado.
Mais ainda e
percebendo o contexto, Paulo mostrou claramente que não foi chamado a fazer um
clube de fans à volta de si, mas sim para fazer discípulos de Jesus Cristo.
A missão da Igreja é “fazer discípulos de Jesus Cristo, no
poder do Espírito Santo, para a Glória de Deus”.
Percebemos então que Paulo combate aqueles que diziam que
eram seguidores seus.
Nós seguimos a Cristo porque fomos conquistados por Ele,
o que não invalida podermos honrar e respeitar quem Deus usou como mensageiro do Evangelho ou até mesmo
quem Deus usou para que nós crescêssemos na Fé.
V17 Não com sabedoria de palavra, para que se não anule a
cruz de Cristo.
Percebemos então que Paulo foi chamado para fazer discípulos
de Jesus Cristo.
Quando o objectivo é fazer seguidores de líderes e não de
Cristo, valoriza-se mais a eloquência do discurso do que a proclamação
clara do Evangelho. Quando isto acontece, é natural haver divisões na Igreja.
Temos que valorizar o Evangelho da Cruz. Não nos
importemos com a eloquência. Proclame simplesmente o Evangelho. O poder não
está em si, mas no Espírito Santo.
Na Igreja não podemos valorizar alguém em detrimento de
outro. Temos de ser corpo. A dignidade que temos é a dignidade que
Cristo dá.
Quando fala da sabedoria humana, nesta parte do versículo,
Paulo combate os seguidores de Apolo.
Crê-se, segundo alguns comentaristas, que provavelmente
estes seriam os dois “principais grupos” na Igreja.
Os que usavam a vida de Paulo para valorizarem-se
dentro da Igreja, como aqueles que usavam a sabedoria de Apolo para
considerarem-se a si próprios.
Paulo mostrou assim de uma forma muito clara que a Cruz não revela a nossa beleza, revela
sim a beleza da glória de Jesus Cristo.
Concluímos então…
1º Vivemos em união porque o Senhor fez-nos viver em
união com Ele.
Quando há separação é porque ainda não compreendemos o
ministério da reconciliação.
2º Vivemos em união reconhecendo que possa haver
diversidade de interpretações sobre certos assuntos.
Não há pessoas mais importante do que as outras. Não importa
o que pensa sobre um assunto, se é membro há mais ou menos tempo, ou se foi
baptizado ou discipulado por um pastor diferente. Somos um.
Somos todos iguais aos olhos de Deus, reconhecendo, porém,
que há diferentes funções dentro do corpo, no entanto, isso não faz de
alguém mais ou menos importante.
Cristo fez-se homem submetendo-se assim à vontade do Pai. E
Ele não é inferior ao Pai. Ele, o Pai e o Espírito Santo são um. Aprendamos com
esta relação trinitária.
Somos quem somos pela Graça de Deus.
Quando usamos o nosso currículo para a valorização do “eu”*,
é porque já deixamos de lado o
entendimento da Graça de Deus.
Eu como pastor comprometo-me a ensinar o evangelho e
ensinarei segundo o entendimento que Deus me concedeu. Reconheço, com todo o
amor, que os irmãos possam pensar diferente.
Se sou superior a alguém? Com toda a certeza que não,
não ouso sequer pensar que sou superior a alguém. Longe de mim gloriar-me. No
entanto, sou o pastor da Igreja e serei responsabilizado, conforme lemos em
Tiago, por todo o ensino dado às pessoas que foram colocadas ao meu cuidado.
Esta é a minha função.
Somos um corpo. Cada qual com a sua responsabilidade. Tudo
isto para a Glória do nosso Deus.
Que cada um de nós se considere um servo inútil de Deus que
não faz mais do que a sua obrigação.
A igreja da Graça é um corpo. Somos um em Cristo.
Termino com uma frase do Pastor Augustus Nicodemus… “O
verdadeiro crescimento na maturidade é inversamente proporcional à imagem que
temos de nós próprios. Quanto mais perto de Deus estamos, mais iremos ver que
nada valemos”.
Tudo é pela Graça de Deus.
Somos um, porque em Cristo somos um.
Que Deus nos ajude.