sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

"O pão nossa cada dia dá-nos hoje"

Nestes 3 últimos Domingos, temos estado ao olhar para a oração do “Pai nosso”.
Relembrar que esta oração foi dada por Jesus aos Seus discípulos como modelo para as nossas orações. Não há nada de supersticioso.
Vimos até agora 3 petições:
1.      Santificado seja o teu nome” – quem devemos ser;
2.      Venha o teu reino” – prioridade da nossa vida;
3.      Seja feita a tua vontade assim na terra como nos céus” – desejo para a nossa vida;
Estes 3 pedidos são respeitantes a Deus, quanto ao Seu domínio e à Sua glória, para podermos perceber como o ser humano deve lidar com essas verdades na sua vida.
As próximas petições são respeitantes às nossas necessidades.
Isso indica-nos que podemos orar a Deus sobre as nossas necessidades mediante o padrão que Jesus nos deixou.
Mateus 6:11 “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje
Antes de olhar para este versículo devemos ter em mente algumas coisas face a oração:
1.    É uma bênção podermo-nos dirigir a Deus
Isto só acontece por termos a ligação restabelecida com Ele.
Podermos orar e saber que vamos ser ouvidos é simplesmente um acto de bondade e generosidade de Deus para connosco;
2.    É uma bênção não só de nos dirigirmos a Deus como também levar os nossos pedidos até Ele
Se Deus não nos deve nada e ainda permite que possamos pedir alguma coisa, isto deve ser sempre encarado como um privilégio.
Se compreendermos a fundos estes dois aspectos, iremos valorizar cada palavra nesta oração sobre as nossas necessidades.
Vamos perceber se diante dessas necessidades nós ficamos passivos ou, pelo contrário, temos outro tipo de postura.
Pão
Esta palavra indica alimento sólido o qual era considerado mais acessível como mais simples.
Isso mostra-nos, de forma clara, que este pedido a Deus refere-se as nossas necessidades mais básicas tais como o comer, o beber e o vestir.
Curiosamente, podemos ver que são as necessidades que Jesus disse, no final deste capítulo, que não nos devemos preocupar. Devemos, sim, confiar que Ele suprimirá essas mesmas coisas.
Porque é que Jesus falou do “pão” e não de outra coisa qualquer?
Vou levantar aqui algumas ideias as quais, pelo contexto, parecem-me óbvias:
 -> Jesus cuida das nossas necessidades básicas e não das luxuosas
Devemos viver vidas com sentido, sem preocupação com o dia de amanhã e nem preocupados em ter grandes luxos.
Creio que às vezes, por queremos tantas coisas, colocamos a nossa vida familiar em risco. Além disso, esquecemo-nos de celebrar as pequenas coisas que temos.
É raro ver alguém a celebrar o pouco que vai tendo no dia-a-dia. Além disso, se ouvirmos alguém a celebrar esse pouco, talvez achemos que há algo de errado com essa pessoa.
Outro aspecto-> Até nas coisas mais simples, como o pão, precisamos de Deus
Por exemplo, se repararmos em tantas coisas que precisam de acontecer (cereais, combustíveis, água, etc.) para termos o pão, apenas nos resta agradecer a Deus por isso.
Contudo, o ponto não é o “pão” em si.
A principal lição que aprendemos com o “pão” é que Deus cuida realmente das nossas necessidades mais básicas. Então, a preocupação é a evidência de um coração que não confia nas promessas de Deus.
Devemos aprender, também, a agradecer a Deus por tudo o que temos porque tudo o que temos se deve ao próprio Deus.
Pensemos: será que temos mostrado o quanto precisamos de Deus na nossa vida mesmo nas coisas mais básicas como o “pão”?
Por outro lado, quando é que não mostramos o quanto dependemos de Deus na nossa vida? Creio que quando achamos que aquilo que temos se deve ao nosso mérito ou, por outro lado, achamos que conseguimos ser auto-suficientes (conseguimos por nós mesmos).
Por isso, é que muitas vezes perdemos coisas na nossa vida para valorizarmos aquilo que tínhamos.
Atenção que quando eu disse “valorizar”, não é valorizar a coisa em si, caso contrário, cairíamos na idolatria. É valorizar, sim, no sentido de aprendermos a louvar a Deus independentemente do que temos até porque tendo a Cristo, temos tudo.
É importante também sabermos que o facto de pedirmos o “pão nosso” a Deus, não invalida que trabalhemos para ter o pão até porque acreditamos que o trabalho é uma dádiva de Deus.
Algumas notas sobre o trabalho e vamos tentar relacioná-lo com o “pão”:
Génesis 3:19 - mostra-nos que é nossa responsabilidade trabalhar.
Além disso, vemos também que a consequência do pecado não é o trabalho em si (já havia antes da queda). A consequência do pecado é termos dor quando estivermos a trabalhar: como ter ambientes difíceis, pessoas complicadas, ou as pressões que enfrentamos no dia-a-dia.
Nesta perspectiva, devemos saber que ter problemas no trabalho é algo normal neste mundo. Estas coisas são fruto da queda do ser humano no Jardim do Edem.
Em II Tessalonicenses 3:10  Paulo disse “quando aí estivemos, uma das nossas regras de conduta era que quem não trabalha também não tem direito a comer”. 
Significa isso que as pessoas têm que trabalhar para comer. Esta é uma responsabilidade pessoal de cada um de nós.  
Atenção: devemo-nos lembrar sempre que dependemos da providência de Deus mesmo trabalhando.
Também é importante sabermos que há momentos na vida que as pessoas podem ficar sem trabalho e estarem a precisar de ser ajudadas.
Este versículo é um sério aviso para dizermos “não” à preguiça.
Por isso, o melhor que podemos fazer pelas pessoas que não querem trabalhar não é dar-lhes o pão, mas sim ensiná-las a trabalhar.
I Timóteo 5:8 mostra-nos que se alguém não cuidar da família quando esta estiver a precisar, essa pessoa é pior do que a pessoa que não conhece a Cristo.
Curiosidade: foi engraçado estar a preparar a mensagem e ouvir que o preço do “pão” vai subir 20% devido ao aumento dos preços dos cereais, da electricidade, dos combustíveis, dos salários, etc.
Naquele momento, pensei que talvez isto esteja a acontecer para sabermos dar valor àquilo que temos e que nos parece ser algo tão normal.
“Nosso”
Vemos mais uma vez o plural “nosso” o que nos remete para uma oração comunitária com pedidos igualmente comunitários.
Isso obriga-nos a deixar de pensar somente em nós para pensar também nos nossos irmãos.
Temos orado pelos nossos irmãos e pelas suas necessidades?
Temos feito alguma coisa por quem está a precisar?
Temos abençoado alguém? Temos perguntado: “como posso abençoar-te”?
Como reagíamos quando algum irmão pede para orarmos por ele?
Se orámos, é bom dizer que estivemos a orar por ele. Creio que é uma grande bênção poder ouvir alguém a dizer: “eu orei por ti” mais até do que um “vou orar por ti”.
Agora reparemos: assim como pedir o “pãoimpele-nos a trabalhar, também quando pedimos o “pão nosso” implica cuidar dos nossos irmãos na fé que estão a passar por dificuldades.
Este é o grande desafio que encontramos em Gálatas 6:10 “(…) Enquanto é tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos que pertencem à nossa família na fé”.
Quando amamos a Deus, amamos o Seu povo. E amamos o povo de Deus quando oramos e servimos nas suas necessidades.
John Piper “Enquanto houver algum irmão a passar dificuldades na Igreja é porque não estamos a ser Igreja”.
Cada dia
Vemos neste versículo que devemos orar para que o Senhor nos sustente no nosso dia-a-dia com a Sua providência.
Qual a razão de Jesus dizer que devemos pedir a Deus que nos dê o pão nosso para cada dia e não para o ano todo?
Creio que isso se deve ao facto que se recebêssemos tudo de uma vez, talvez nos esquecêssemos como devemos depender de Deus em todos os momentos.
É curioso notar a oração de Agur em Provérbios 30:8-9não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me apenas o pão que eu necessito para viver. Para que, porventura, estando na riqueza não te negue, e venha a dizer: Quem é o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão”.
É interessante olhar para estas palavras… não me dês nem a riqueza para que não me esqueça de ti e nem a miséria para que não venha a roubar e blasfemar o nome de Deus.
É muito comum quase todos dizermos “bastava um pouco mais e ficava melhor”.
No entanto, a falta desse “pouco mais”, muitas vezes, é a maneira que Deus usa para dependermos d’Ele.
Talvez, e contra mim falo, precisamos que fossem retiradas mais coisas na nossa vida para haver mais entrega das nossas vidas a Deus.
Creio, também, que Jesus disse para pedirmos para o dia-a-dia para percebermos que a nossa dívida foi paga na totalidade por Jesus Cristo.  
Este pagamento feito por Jesus é diferente dos outros pagamentos pois além de saldar a dívida garante também dividendos diários na nossa vida. Além disso, o Espírito Santo é a garantia que esses dividendos serão dados pois iremos receber tudo aquilo que precisamos para viver.
Pensemos nisto: o acto de recebermos o pão é a evidência que ainda continuamos a receber bênçãos por causa do amor de Cristo mostrado naquela Cruz.
recebemos bênçãos porque Jesus perdeu tudo na Cruz
Somos desafiados também a pedir para o dia-a-dia porque Deus tem prazer que nos acheguemos a Ele diariamente até porque Ele cuida de nós, também, diariamente.
Precisamos de ter fé para vivermos na dependência de Deus dia após dia. E quando aprendamos a ter esta confiança estamos também a aprender a não ter medo.
A oração lembra-nos que não devemos ter medo de nada até porque Deus é Senhor de ontem, de hoje, do amanhã e para todo o sempre.
Quando o medo chegar até nós (devemos assumir que é uma realidade bem possível), viremo-nos para Deus e digamos: “Pai, eu aceito o Teu cuidado e a Tua provisão nesta momento de aflição”.
Foi esta a certeza do salmista David quando estava a ser quase apanhado pelos filisteus “Quando tiver medo, confiarei em Ti” – Salmos 56:4
Dá-nos hoje
Compreenderemos melhor a bênção da palavra “dá-nos” quando entendemos que tudo o que de bom recebemos é fruto da Graça e onde há Graça não há merecimentoTiago 1:17Tudo o que recebemos de bom e perfeito vem do céu, do Pai”.
Só há “dá-nos” porque Deus na Sua bondade permitiu que pedíssemos.
E enquanto estivermos a pedir a Deus, ao mesmo tempo, devemos reconhecer a nossa incapacidade.
Ao orarmos nestes momentos de necessidade, estamos a afirmar a Deus o seguinte: “Que a Tua luz possa brilhar através das minhas necessidades. Que nestes momentos não seja vista a minha preocupação. Seja vista, sim, a confiança na Tua provisão”.
E confiar na provisão de Deus é desejar que Deus seja glorificado no nosso viver quer quando perdermos, ganharmos, ou até quando somos chamados a viver com contentamento com o que temos.
Deus tem prazer em responder às nossas orações cujo objectivo seja glorificá-lo.
J. I. Packer “A oração de um cristão não é uma tentativa de forçar a mão de Deus, mas é um reconhecimento humilde do nosso desamparo e dependência”.
Quando estivermos a pedir a Deus devemos reconhecer também o nosso desmerecimento
Temos visto vez após vez: receber de Deus nunca é acerca do nosso mérito. Recebemos por causa do mérito de Cristo.
Há promessas na Bíblia para os filhos de Deus (provisão e salvação), mas também há promessas para aqueles que não têm conhecem a Deus (condenação).
Perante a certeza do nosso desmerecimento tenhamos a mesma certeza que o escritor da carta aos Hebreus (4:16): “Aproximemo-nos, pois, com toda a confiança do trono da graça e assim conseguiremos alcançar misericórdia e graça e encontrar ajuda no momento oportuno”.
Só há esperança para a nossa vida quando houver primeiro desespero por sabermos que sem Cristo não somos nada!
O pão nosso cada dia dá-nos hoje” é assim uma afirmação de dependência de Deus perante a nossa incapacidade como também um pedido para sermos bênção para a vida de alguém.
Tenho compreendido que as nossas acções, muitas vezes, são usadas por Deus para responder as orações de alguém. É comum ouvir dizer e até sem sabermos “foste a resposta às minhas orações”.
Que Deus nos ajude!


"Venha o Teu reino"

Temos estado a meditar na oração do “Pai nosso” e o significado de cada uma dessas sentenças.
Começámos por ver que Jesus deseja (os seus desejos devem ser encarados como ordens) que os seus discípulos orem sem qualquer tipo de hipocrisia espiritual não estando para isso preocupados em agradar as pessoas, mas sim em glorificar a Deus através das suas vidas.
Não há fórmulas mágicas na oração pois a oração é o local de submissão da nossa vontade à vontade do nosso Deus.
Na semana passada, vimos que a oração deve começar pela exaltação do nosso Deus reconhecendo que Ele está no controlo de todas as coisas como também devemos reconhecer, com as nossas vidas e com as nossas palavras, aquilo que Ele fez por nós.
Devemos ter sempre isto na nossa mente: para sermos filhos de Deus, o próprio Deus teve que abandonar o Seu filho na Cruz, para que pudéssemos viver de um modo santo.
Vimos, também, que devemos orar a Deus Pai, em nome do Deus-Filho, no poder do Deus-Espírito Santo.
Hoje vamos falar sobre uma expressão pequena que se encontra na oração do “Pai nosso”.
Creio que será a primeira vez que pregarei apenas sobre 4 palavras.
Normalmente esqueço-me desta expressão quando cito esta oração. Não sei se é pelo tamanho ou por achar que estava desligada, erradamente, do seu contexto.
Vamos abrir as Bíblias em Mateus 6:10 e pensar sobre: “Venha o Teu reino” ou parafraseando “que o Teu reino seja manifesto”.
É a segunda petição desta oração modelo dada por Jesus aos Seus discípulos e significa “domínio sobre a vida”.
Esta expressão “reino” é usada 34 vezes no Evangelho de Mateus, poucas vezes em Marcos, algumas vezes em Luscas e quase nenhuma vez em João.
Depois, é usada muito residualmente ao longo do NT e aumenta um pouco (5) no livro de Apocalipse.
Além disso, em Mateus ou aparece “reino” ou “reino dos céus” enquanto nos outros livros maioritariamente é usada a expressão “reino de Deus” sendo que significam a mesma coisa.
Qual o motivo desta diferença entre Mateus e os outros livros mesmo considerando os outros evangelhos?
Quando olhamos para uma passagem do texto bíblico, convém sabermos a quem foi escrito originalmente.
É importante conhecermos o “panorama do livro” para entendermos melhor cada palavra.
Foi por este motivo que durante muito tempo estudámos o panorama do NT para que pudéssemos compreender melhor as ênfases de cada livro.
Vamos olhar para estas expressões “reino dos céus” ou “Reino de Deus” a partir de 3 perspectivas:
1.      “Reino de Deus” e os judeus
·         Contexto judaico
O Evangelho de Mateus originalmente foi escrito para os judeus e isso ajudar-nos-á a compreender melhor o alcance destas palavras ditas por Jesus.
Como sabemos, o nome de Deus era muito importante para os judeus e, inclusive, para escrever o tetragrama (iniciais do nome de Deus) tinha que ser com uma pena especial pois seria profano usar a pena com que escreviam as outras coisas.
Também não pronunciavam o nome de Deus com medo de estarem a blasfemar.
É devido a isso que no evangelho de Mateus encontramos a expressão “reino” ou “reino dos céus” para que os judeus ao lerem estas palavras não ficassem logo escandalizados e nem desejassem ouvir o que vinha a seguir.
                  ·         Expectativas judaicas
Os judeus não viram, como também não vêem, Jesus como sendo o Messias precisamente porque Jesus não correspondeu às expectativas que os judeus tinham acerca do seu ministério aqui na terra.
Os judeus um Messias em termos políticos e religiosos ao libertá-los do império romano e a restaurar o reino terrestre de Israel.
Curiosamente, na Bíblia vemos precisamente o contrário.
- Jesus nunca quis ser rei em termos políticos ou militares. Aliás, assumiu que o seu reino não era neste mundo João 18:36 - “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui”.
- Não procurou a violência. Pelo contrário, disse que as pessoas deviam ter uma postura diferente para com os seus inimigos: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” - Mateus 5:44
- Jesus disse que os judeus deviam pagar impostos ao império romano*: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” – Mateus 22:21.
Nestes 3 aspectos, podemos ver que Jesus não cumpriu as expectativas que os judeus tinham em relação a si ou até ao Seu reino.
Os judeus tinham falsas expectativas em relação a Jesus.
Foi por isso que rejeitaram Jesus e o entregaram aos romanos para que fosse morto.
E quanto a nós? Quais são as nossas expectativas em relação a Jesus e ao Seu reino?
Sentimo-nos defraudados ou satisfeitos?
Vale a pena pensarmos sobre a expressão “venha o teu reino” e quais as nossas expectativas em relação a isso.
Afinal, Jesus veio para quê?
Qual a razão pela qual devemos pedir que o Seu reino venha?
Vamos tentar perceber o alcance do “reino dos céus” ou “reino de Deus”…
·         Passado
João Baptista disse que Jesus veio inaugurar o Reino.
Qual o motivo? Para libertar o Seu povo da escravidão do pecado para transportá-lo para o Seu maravilhoso reino.
Por isso, nós, cristãos, temos a certeza que o nosso passado está resolvido em Cristo e que por isso não devemos carregar mais sobre nós esse passado.
É libertador saber que Jesus pagou o preço.
Logo, não pensemos que temos que pagar o preço de alguma forma ou carregar com esse pecado o resto da nossa vida.
Vejo que ainda há muitos cristãos que sofrem com as coisas terríveis que fizeram no passado.
Às vezes até acham que certos sofrimentos acontecem nas suas vidas porque há alguns anos fizeram determinada coisa.
Lembremo-nos: Em Cristo temos perdão dos nossos pecados… como também “não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus” - Romanos 8:1.
É verdade que o pecado traz consequências, mas a nossa mente deve descansar no perdão do nosso bom Deus.
Temos sentido este descanso?
Como é bom saber que o reino foi inaugurado por Jesus.
Como é bom saber também que este domínio ou reino alcançou todos aqueles que se arrependerem dos seus pecados e reconhecerem a necessidade de Jesus para serem salvos.
Se isto já aconteceu na nossa vida, teremos ousadia para pedir que o reino venha quando entendemos que o nosso passado está resolvido em Cristo.
·         Reino de Deus envolve o nosso presente
Neste mesmo capítulo 6, a partir do V25, vemos que “não devemos andar ansiosos com a nossa vida quanto ao que devemos comer, beber e vestir”.
Isto é, teremos coragem para pedir a Deus que o reino dele venha quando estivermos satisfeitos com a vida que temos independentemente das circunstâncias que estivermos a passar porque a nossa felicidade está no Rei deste reino.
Encontramos essa verdade no V33 quando lemos que devemos “buscar primeiro o reino do Pai celeste e a sua justiça, e todas as outras coisas serão acrescentadas”.
Isso significa que o desejo da nossa vida não deve ser viver como aqueles que não conhecem a Cristo cujo objectivo de vida é apenas com as coisas temporaiscom o seu (pessoal) reino terreno.
Pelo contrário, nós, cristãos, devemos saber que a preocupação é um desperdício de tempo e faz com que desacreditemos na bondade de Deus.
Por isso, que o foco da nossa vida não seja com as coisas temporais, mas sim com as coisas celestiais.
Deus providencia tudo aquilo que precisamos. Não há como não andar lado-a-lado com Ele.
No V33 podemos reparar também que devemos buscar “a Sua justiça”.
Isto significa que devemos buscar uma vida justa em total submissão à vontade de Deus para que possamos afirmar categoricamente quem é o Rei da nossa vida.
Como temos vivido a nossa vida no presente?
A pensar no nosso reino ou no reino dos Céus?
Temos sido submissos ao Rei?
Este é um grande desafio: vidas que se submetam aquele que foi, é e sempre será fiel às Suas promessas.
·         Reino de Deus envolve o futuro
É bom saber que o reino de Deus já foi estabelecido e um dia estender-se-á a todas as áreas deste mundo.
Além disso, todas as pessoas, segundo Fil. 2:11, “irão reconhecer Jesus Cristo como Senhor para a glória de Deus Pai”.
Esta era a certeza do profeta Jó quando disse: “Eu sei que o Deus da vida é o meu libertador e ele tem a última palavra contra a morte. E, depois de assim se ter desfeito a minha pele, de novo vivo poderei ver a Deus. Hei de vê-lo a meu favor, hei de vê-lo com os meus olhos, sem estranhar. O MEU CORAÇÃO ANSEIA POR QUE ISSO ACONTEÇA*” – Jó 19:25-27.
Quando temos os olhos postos no Reino de Deus teremos também esta certeza e sentiremos cada palavra para sabermos lidar com as dificuldades do dia-a-dia.
É esta verdade que aprendamos na Bíblia em II Coríntios 4:17 -As aflições do momento presente são leves, comparadas com a grande e eterna glória que elas nos preparam”.
A ideia deste versículo é “ponham as coisas numa balança. Se os fardos desta vida forem pesados, lembra-te que aquilo que está reservado para nós será muito maior e melhor”.
É esta esperança que deve alimentar a nossa vida e colocar-nos de pé quando o mundo quer derrubar-nos.
Vimos, até agora, o significado de reino de Deus e a nossas expectativas em relação a ele, percebemos como o Reino de Deus é visto e sentido em relação ao passado, presente e na esperança que ele se concretize no futuro.
Como é que estas verdades sobre o reino de Deus influenciam a nossa forma de viver?
3.      O reino de Deus envolve os nossos relacionamentos ;
·         Na nossa vida pessoal
Quando oramos e pedimos que o reino de Deus se manifeste, estamos a dizer que temos o desejo que as nossas vidas glorifiquem o Seu nome, devido à satisfação que sentimos em Cristo*, como também estamos a mostrar que o Evangelho é o motor da nossa vida.
Volto a insistir na mesma tecla, até porque o pecado faz esquecer-nos desta verdade essencial, que devemos ligar o Evangelho a todas as áreas da nossa vida.
3 exemplos rápidos como podemos ligar o Evangelho à nossa vida para que o “reino de Deus” em nós seja uma realidade:
1.      Como temos mostrado este reino na nossa vida pessoal quando temos alguma decisão a tomar?
É a glória de Deus que nos preocupa ou é a nossa glória?
2.      Como temos mostrado este reino quando lidamos com a nossa família?
Como o Evangelho está a ser cultivado no nosso lar?
Isto é algo que me incomoda várias vezes porque penso muito nisto: Será que a minha mulher e os meus filhos vêem que Deus é o meu Rei e que estou a trabalhar para o Seu reino e reino não é a Igreja?
Será que a minha mulher acredita que Deus é o Rei da minha vida se eu não orar por ela e com ela?
Será que eu também cuido dela como Cristo cuida da Sua Igreja?
Não é apenas darmo-nos bem porque há muitos casais sem Cristo que se dão bem. É vivermos o reino de Deus no casamento.
Se não estamos a viver o plano de Deus para o casamento, que possamos fazer as mudanças necessárias nem que tenhamos de nos privar de muitas coisas que por vezes achamos que são nossas por direito próprio.
Mais vale pouco ou nada com Deus do que muito sem Deus.
Atenção que se quisermos ser sérios iremos reparar que não é fácil responder a estas perguntas.
3.      Como podemos mostrar este reino de Deus no nosso trabalho quando estamos no meio de tanta provação, intrigas e corrupção?
Sendo fiéis em todo o momento sabendo que Deus honra os Seus filhos mesmo que possa vir a fome…
 “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” - Romanos 8:35.
Tenho compreendido que teremos mais ousadia em pedir que Deus se manifeste na nossa vida quando a mesma é vivida em espírito de oração e quando passamos mais tempo a ler e a meditar na Palavra de Deus.
Deixem-me provocar-vos ao mesmo tempo que estou a provocar a mim mesmo: temos tido alegria quando oramos e lemos a Bíblia? Será que essas disciplinas espirituais devem ser feitas apenas quando há alegria?
Sentimos ausência do reino de Deus – domínio - na nossa vida?
Se sim, será por falta de oração e da leitura da Palavra de Deus?
Quando a nossa vida está centrada no reino, isso irá ter reflexo na forma como encaramos o reino na relação com o próximo…
·         O Reino e a nossa vida com os outros
Os apóstolos tinham a preocupação Jesus estabelecesse o Seu reinado de forma plena quando ainda estava no meio deles.
Vejamos isso em Actos 1:6-8:
6 Uma vez, quando os apóstolos estavam reunidos com Jesus, perguntaram-lhe: “Senhor, será agora que vais restaurar o reino para o povo de Israel?”
Era uma pergunta sincera… “quando vais restaurar o teu reino”?
7Jesus respondeu: «Não vos é dado conhecer o tempo ou o dia que o Pai fixou com a sua própria autoridade.
Jesus disse-lhes que o Pai determinou quando isso aconteceria e que a eles não lhes competia saber o tempo*. Contudo, enquanto isso não acontecesse, havia algo que eles tinham que saber e fazer
8Mas receberão poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos lugares mais distantes do mundo.»
Aplicando às nossas vidas, Jesus disse que íamos receber poder*… poder para quê? Para sermos suas testemunhas quer, vou parafrasear, em Lisboa, em Portugal, na Europa e no mundo.
Significa isso que uma das formas de vivermos o Reino de Deus passa por testemunharmos do Reino às pessoas que ainda o conhecem.
Venha o teu reino” é um pedido para uma vivência missionária. E eu, sinceramente, nunca tinha pensado nisto.
Assumi recentemente, enquanto pastor da Igreja da Graça, que desejo, oro e trabalho para que cresçamos espiritualmente (esta sempre será a essência principal) e também crescer estruturalmente* e numericamente.
Uma Igreja que só se preocupa com números aposta muito nos eventos e no entretenimento. Não se preocupa se as pessoas estão a crescer espiritualmente.
Digo isto com toda a firmeza: não vale a pena crescermos* se não for para investirmos nas pessoas… no discipulado. E isto não é só tarefa do pastor. É de toda a Igreja.
Por isso, não devemos convidar as pessoas a assistir ao culto, mas a participar no culto como também a participar naquilo que Deus está a fazer… a participar no Reino.
Temos que dizer chega ao “adepto de bancada” para passarmos a estar mais tempo no terreno.
Quem abençoou ao longo desta semana com as suas palavras, gestos ou dinheiro?
Quem ajudou a carregar os fardos nesta caminhada?
Quem honrou com as suas palavras* (Pessoal: “Deus usou-te”*)?
Quando uma Igreja cresce saudavelmente criará um impacto muito maior na sociedade para que mais pessoas cheguem ao conhecimento da verdade porque a nossa missão sempre foi e sempre será fazer discípulos do Senhor Jesus Cristo, para a glória de Deus Pai, no poder do Espírito Santo.
Posto isto, não está no meu horizonte pensar em abrir novas Igrejas em Lisboa, acho que actualmente é quase insustentável, mas sim em tornar a Igreja da Graça forte trabalhando nos lares e podendo ajudar a revitalizar alguma Igreja (algo que precisamos muito*).
Venha o teu reino” Senhor Deus… que isto seja uma realidade através da forma como vivemos o Evangelho e pela maneira como partilhamos o Evangelho com quem ainda não conhece a Jesus.
Eu acredito que Deus tem muito povo para salvar e não vou descansar até perceber que estamos a fazer tudo ao nosso alcance.
Termino com uma frase forte de alguém que tem influenciado fortemente a minha vida… Charles Spurgeon - “Todo cristão ou é um missionário ou é um impostor”.


"Pai nosso que estás no céu santificado seja o Teu nome"

Começámos a semana passada a falar sobre a oração e olhámos para Mateus 6:1, 5-6 e vimos que os judeus tinham 3 actos piedosos: a oferta, a oração e o jejum.
E foi sobre esses 3 actos que Jesus falou aos seus discípulos. E falou para que tivessem cuidado com a hipocrisia espiritual que muitas vezes invade a nossa vida quase sem darmos conta.
Reflectimos também se a nossa preocupação tem sido a oração ou a reputação e tentamos analisar as motivações com que fazemos as coisas.
Se estivermos preocupados com a nossa reputação espiritual, estamos apenas a desejar que a nossa vida seja glorificada por aqueles que estão à nossa volta.
Como também se a nossa vida espiritual for “melhor” na esfera pública do que na nossa vida privada*, isso mostrar-nos-á que estamos mais preocupados com a nossa reputação diante dos Homens do que diante de Deus.
Terminámos vendo que devemos orarnão para mostrar a Deus as nossas necessidades, como se Ele não soubesse, mas devemos orar para submetermos a nossa vontade e a nossa necessidade àquilo que Deus tem para oferecer.
Vamos ler o versículo de hoje e perceber a ligação com aquilo que vimos anteriormente…
Mateus 6:9
“Portanto”
Esta palavra é uma conjunção conclusiva. A ideia é mostrar a consequência de acreditarmos que Deus tem o melhor para os Seus filhos e se Deus tem o melhor para os Seus filhos, então podemos fazer aquilo que Ele nos pede com toda a confiança.
“Vós orareis assim”
Na semana passada vimos que Jesus dá como adquirido que os Seus discípulos orem porque sabe que é impossível um cristão viver sem oração.
Inclusive, Jesus não teve ousadia de viver a sua vida sem oração.
Quando não oramos, inconscientemente ou conscientemente, estamos a achar que temos mais coragem do que Jesus... e a viver a nossa vida sem o poder de Deus.
É uma hipocrisia espiritual dizermos que somos de Deus e depois não passarmos tempo com Ele.
No fundo, é como chegarmos ao pé de alguém e perguntarmos se é casado e ele responder: “sou. Mas não ligo nenhuma à minha mulher… não a quero ouvir e também não quero falar com ela”.
O que diríamos nós se ouvíssemos uma coisa destas?
Certamente diríamos que não faz qualquer sentido porque isto não é um casamento segundo o coração de Deus pois o mesmo requer amor… amor que nos leva a ter uma vida de intimidade.
O mesmo se passa no nosso relacionamento com Deus.
Se queremos saber como está a nossa vida espiritual, não há melhor termómetro do que vermos a nossa vida de oração até porque é a oração que faz a diferença entre um “profissional da fé” e alguém que vive pela fé.
É verdade que esta análise pode ser assustadora.
Teremos nós o desejo de orar?
Devemos ter o desejo de orar com todas as nossas forças mesmo que tudo à nossa volta lute contra isso.
Devemos ser desesperados, no bom sentido, pela oração.
Podemos orar com grande confiança porque sabemos que teremos ajuda da parte de Deus: Hebreus 4:16“Aproximemo-nos, pois, com toda a confiança, do trono da graça e assim conseguiremos alcançar misericórdia e graça e encontrar ajuda no momento próprio”.
Saibamos que não há palavras e nem fórmulas mágicas de conseguirmos o favor de Deus.
Devemos, sim, descansar na verdade que o “Espírito Santo nos ajuda a nós que somos fracos porque nós não sabemos orar como convém, mas o próprio Espírito pede a Deus por nós” – Romanos 8:26.
Isto traz grande alento para as nossas vidas porque devemos saber que nós não oramos porque a nossa vida está em condições (se assim fosse, talvez orasse menos), nós oramos para que Deus nos coloque em condições.
Além disso, se passarmos mais tempo a falar com Deus, como consequência, saberemos falar e abençoar melhor as pessoas que estão ao nosso lado.
Um pormenor muito rápido: podemos orar também quando estamos no carro ou noutro sítio qualquer, ao estarmos a falar com Deus e ao meditarmos no Evangelho… orar não é só aquela “oração mais formal”.
“Pai nosso”
2 aspectos importantes nestas 2 palavras:
1.      Filiação
Vimos que podemos ir até Deus com toda a confiança.
Aqui, percebemos melhor o motivo para isso acontecerDeus é o nosso Pai.
O que tem isso de tão especial?
Será que já percebemos a enorme bênção de chamarmos “Pai” ao nosso Deus?
Será que já percebemos a bênção de sermos tratados como Seus filhos?
No AT, a paternidade de Deus parece que não é encarada da mesma forma como no NT.
Se formos a ver alguns textos, temos apenas algumas analogias (5 vezes) ou referências mais directas a Deus como sendo Pai de uma nação e não tanto a Deus como alguém mais pessoal.
Normalmente, os judeus exaltavam os atributos de Deus como a Sua soberania, a Sua glória, a Sua graça e por aí em diante.
Jesus, ao falar para os judeus, trouxe-lhes um novo conceito ou uma nova ênfase sobre a paternidade de Deus ao dizer “Pai nosso”
Deus não está apenas no Céu, como já iremos ver, como também está perto de nós.
Jesus correu o risco de acharem que Ele era arrogante ou ousado por falar dessa forma podendo até ser acusado de usar o nome de Deus em vão.
Deus é pai
Porque é que devemos valorizar a paternidade de Deus?
Todos nós nascemos como inimigos de Deus devido ao nosso pecado.
Nós não somos por natureza filhos de Deus. Nós somos, sim, filhos da ira de Deus (Efésios 2:3).
Contudo, mesmo sendo Seus inimigos, Deus mostrou todo o Seu amor ao enviar o Seu único filho para pagar o preço do nosso resgate para recebermos de volta não mais como Seus inimigos, mas sim como seus filhos.
Deus teve que abandonar o Seu filho na Cruz para ser nosso Pai.
O filho teve que deixar o Seu Pai para ir até àquela Cruz para levar sobre si a Ira de Deus que estava destinada a nós.
Como podemos ficar indiferentes a este enorme acto de bondade?
Quantas vezes pensamos no Evangelho?
Em Cristo temos uma nova identidade*… passamos a ser filhos de Deus.
É por isso que na oração devemos dizer “Pai” pois ao fazer isso estamo-nos a lembrar do amor de Deus por nós e, ao mesmo tempo, faz-nos recordar quem nós éramos e quem agora somos.
Chamar Deus de Pai é uma bênção precisamente porque Ele é Santo.
O nosso pai terreno pode não ter sido a melhor referência para a nossa vida. No entanto, o amor do Pai celestial é suficiente forte para colmatar ou conseguir lidar com todas as lacunas na nossa vida.
Nota rápida: às vezes nós oramos ao Senhor Jesus quando devemos orar a Deus em nome do Senhor Jesus. Não há problema em si, mas Jesus diz-nos que nos devemos dirigir ao Pai em oração.
Oramos a Deus por meio do Senhor Jesus no poder do Espírito Santo.
2.      Aspecto: “nosso”
Jesus ao assumir que todos os discípulos devem orar, ao mesmo tempo, assume também que devem orar em comunidade.
A oração comunitária é fundamental para a vitalidade da Igreja além de fazer compreender que nada depende de nós e que tudo depende de Deus.
A oração mostra-nos claramente que a Igreja não é nossa.
Temos reconhecido a importância da oração como Igreja?
Temos tido oportunidades para dizer “Pai nosso”?
Confesso, mais uma vez, que as nossas igrejas (estou a incluir-me aqui porque eu sou Igreja convosco) ainda não reconhecem o poder da oração.
Vejamos (tónica de sempre): se somos chamados para uma festa, um cinema, ou para um jantar, tentamos arranjar tempo e vamos. Fazemos até grupos para isso. Reparem que isto não está errado em si.
Contudo, será que a nossa motivação é igual quando somos chamados a orar?
Deus sempre agiu quando o Seu povo orou.
Acreditamos no poder da oração?
“Que estás nos céus”,
Depois de termos visto a proximidade de Deus com o Seu povo, parece que vemos aqui a Sua distância. Ele está nos céus e nós aqui na terra.
Em teologia há 2 termos relativamente a isto: a imanência de Deus (a sua manifestação na criação) e a transcendência de Deus (está nos céus, acima do mundo e é independente dele).
Deus é o criador de todas as coisas e daí o versículo dizer “Pai nosso que estás nos céus”. Além de criador, Ele também é o sustentador porque se envolve com a criação.
É muito importante termos presentes estas duas realidades, podendo não saber os nomes, para sabermos que apesar de Deus estar presente nas nossas vidas, Ele não está em tudo.
Se assim fosse, cairíamos no “panteísmo”. Isto é, se Deus está em tudo, então temos que adorar todas as coisas.
Ao olharmos para a oração do “Pai nosso” vemos esta aparente separação para mostrar que devemos reverenciar a Deus pela obra das Suas mãos.
Teremos nós reverenciado a Deus nas nossas orações?
Já uma vez falámos sobre isto e volto a insistir: as nossas orações normalmente começam com uma invocação “Senhor Deus e nosso Pai” e logo a seguir começamos a agradecer as bênçãos de Deus.
Aparentemente pode parecer normal, atenção que pode não ser totalmente errado, contudo normalmente não há um momento de exaltação pela Sua grandeza.
Qual a importância da exaltação na oração?
1.      Quando reconhecemos a grandeza de Deus, no início da oração, colocamo-nos no devido sítio como também percebemos que as bênçãos que recebemos não são devido aos nossos méritos, mas sim devido à enorme bondade de Deus para connosco.
2.      Quando reconhecemos a grandeza de Deus, entendemos que temos que confessar os nossos pecados porque Deus é santo e todo o nosso pecado é uma ofensa contra Ele.
3.      Quando reconhecemos a grandeza de Deus ao pedirmos alguma coisa, já não vamos com o sentido de exigência. Vamos sim com uma atitude de gratidão porque reconhecemos que Deus é bom pois sabe dar ou retirar o que é melhor para a vida dos Seus filhos. Além disso, podemos agradecer a Deus porque em Cristo já recebemos sempre mais do que merecemos.
Na verdade, a grande questão é esta: temos exaltado a Deus nas nossas orações ou vamos logo para a parte que, em certo sentido, mais nos convém*?
Analisemos as nossas orações…
“Santificado seja o teu nome”
Em Isaías 6, por exemplo, vemos que “Deus é Santo, Santo, Santo”. O grau máximo de santidade.
Não podemos fazer nada para aumentar ou diminuir a santidade de Deus porque o Seu ser é santo.
Algo contrário ao nosso ser porque vivemos, até ao fim da nossa vida, num processo de santificação (sermos mais santos) sabendo que este processo só terminará quando estivermos juntos a Deus.
O que significará então este versículo?
A melhor tradução, para mim, deste versículo seria: “que o teu nome seja tratado como santo”.
É precisamente a ideia de 1 Pedro 1:15-16: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo”.
Na oração do “Pai nosso” esta é a primeira petição que devemos fazer e é uma petição muito forte. É um pedido para que o nosso viver glorifique o nome santo de Deus.
Em Malaquias vemos que Deus condenou o Seu povo porque estavam a desprezar o Seu nome pela forma como viviam.
A grande questão é: como podemos glorificar a Deus, segundo I Cor. 10:31, no comer, ou no beber, ou noutra coisa qualquer?
- Ao influenciarmos através do Evangelho a nossa esfera pública, familiar, pessoal, ou o nosso relacionamento com a Igreja e com a sociedade.
- Ao termos uma vida de oração pois a oração faz-nos andar nos trilhos de Deus e ajuda-nos a perceber que nada é sobre nós e que tudo é acerca de Cristo.
Lembremo-nos: a melhor oração não é somente aquela que fazemos com a nossa boca, mas também é aquela que fazemos com a nossa vida.
Santificar o nome de Deus não é dizer o Seu nome de forma correcta*. É sim viver a viva cristã de forma santa.
Que as pessoas ao olharem para a forma como vivemos a nossa vida, nos perguntem a razão de sermos diferentes.
Tem sido a nossa vida vivida de tal forma que seja questionável neste sentido por aqueles com quem nos relacionamos?
Que Deus seja sempre glorificado e isso só acontecerá se tivermos em mente a máxima de João Baptista (João 3:30) – “É importante que Ele cresça e eu diminua”.
A oração do “Pai nosso” ajuda-nos, desde o seu início, que tudo é acerca de Cristo!

Que Deus nos ajude.

Oração vs Reputação

Hoje começamos uma nova série sobre “Oração”.
Creio que esta é, e quando a mim falo, uma das disciplinas espirituais que menos praticamos. Talvez por não lhe darmos a devida importância pelo menos na forma como a encaramos na nossa vida.
É fácil encontrarmos momentos na nossa vida onde haja quietude para estarmos em comunhão com Deus?
É verdade que muitas coisas acontecem nesta vida para retirar a primazia de Deus na nossa vida como tirar tempo na nossa caminha cristã*. Mas também é verdade que quando queremos ter tempo para aquilo que desejamos, com mais ou menos dificuldade, conseguimos.
A desculpa do tempo é, quanto mim, uma das maiores falácias porque na verdade estamos a dizer que quem ora é porque não faz muito na vida e isso, até historicamente, não é de todo verdade.
Por outro lado, quando temos orado, quais têm sido as nossas reais motivações?
É precisamente sobre isto que iremos meditar hoje.
Vamos ler alguns versículos de Mateus 6 e depois, nos próximos Domingos, iremos olhar para a oração do “Pai nosso”.
Hoje o subtema da pregação é “oração vs. reputação”.
Mateus 6:1, 5-8
Estes versículos fazem parte do “sermão do monte” onde Jesus deu conselhos bastante práticos aos seus discípulos sobre a vida cristã.
Relembrar que o evangelho de Mateus foi escrito para os judeus os quais têm 3 actos considerados piedosos: a esmola, a oração e o jejum.
São precisamente os aspectos que Jesus tratou desde o v1 deste capítulo 6 até ao v18.
Para compreendermos melhor os versículos que iremos estudar - v5 ao v8 - precisamos entender a ligação à verdade central que se encontra logo no v1.
1 Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto de vosso Pai celeste.
A expressão “guardai-vos” perde-se muito na tradução para português.
No original esta palavra significa “estar em estado de alerta para saber responder de forma adequada a qualquer situação”.
Jesus, nestas palavras, estava a alertar os discípulos sobre o perigo da hipocrisia espiritual no dia-a-dia.
O que significa “hipocrisia espiritual”?
É fazermos alguma coisa com a motivação de sermos bajulados pelas pessoas.  Isto é algo que pode acontecer connosco quase sem darmos conta.
Como avaliar a nossa motivação?
Pensemos um pouco: se as nossas obras não forem admiradas por aqueles a quem servimos, como reagimos? Ficamos deprimidos? Angustiados? Revoltados? Tristes? Com vontade de desistir?
Se isso acontecer, convém analisarmos o nosso coração para percebermos qual tem sido a nossa motivação.
No v2 ao v4, Jesus falou sobre as esmolas mostrando que o problema não era o dar, mas o querer receber louvores pelas ofertas que se dão.
Foi por isso que Jesus disse que quando dermos as nossas ofertas “a nossa mão esquerda não deve saber o que dá a direita” … nada de publicidade.
A partir do v5 Jesus falou sobre a oração…
5 E, quando orardes, não sereis como os hipócritas; porque gostam (amam) de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa.
Este versículo começa logo com uma conjunção “e” que liga à verdade central que vimos no v1.
É curioso notar que Jesus ao dizer “e, quando orardes” assume desde logo que os seus discípulos têm uma vida de oração como que a dizer que “a oração está para o cristão como o oxigénio está para uma pessoa”. É vital.
Vamos perceber algumas coisas neste versículo:
1.      A atitude que Jesus condenou;
2.      Os actos que revelavam essa atitude;
3.      O objectivo da hipocrisia;
4.      A consequência da hipocrisia;
1.      Atitude - “quando orardes, não sereis como os hipócritas”
Jesus disse aos seus discípulos que quando orarem não deviam ser como os hipócritas.
A palavra “hipócrita” era usada para descrever o “actor ou actriz”.
A ideia é mostrar que o “hipócrita” é aquele que pretende mostrar aos outros aquilo que na verdade não é. Deseja convencer também os outros de uma moral que não tem e nem sequer tenta vivê-la.  
Como podemos ver se estamos a ser hipócritas nas nossas orações? Através dos nossos actos.
2.      Actos: “porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças”
É preciso saber que Jesus não criticou a oração que é feita em pé.
Há uma tendência, na ala mais conservadora, que a oração ou a leitura da Palavra de Deus deve ser lida em pé. Na Bíblia vemos que estas duas disciplinas espirituais eram feitas de todas as formas.
O problema pode estar na atitude com que se faz as coisas e não na forma.
A forma é sempre uma forma e muitas vezes isso é circunscrito a um determinado contexto. Logo, a forma não pode ser mais importante do que a essência.
Jesus criticou, sim, as orações feitas em determinados sítios, como nas sinagogas e nos cantos das praças*, porque queriam cumprir um determinado objectivo… o objectivo dos hipócritas.
Qual seria?
3.      Objectivo: “para serem vistos dos homens”.
A ideia era fazer algo que fosse visto e admirado pelas pessoas ao dizerem, por exemplo: “que pessoa extraordinária”; “que maravilha”; “quem me dera ser assim”; “talvez ele tenha muito para nos ensinar”; “um dia tenho que ser assim”; “esta pessoa é perfeita”.
Contudo, a oração sem hipocrisia deve surgir como consequência de uma devoção sincera pela certeza de quem Deus é e por aquilo que Ele fez na nossa vida.
4.      Consequência: “em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa”.
Aqueles que procuram o reconhecimento dos homens, na verdade, receberão unicamente o louvor dos seres humanos em vez do louvor da parte de Deus.
O que desejamos quando fazemos alguma coisa?
Reagimos mal quando algo não é feito como queremos?
Se reagirmos mal, não poderá ser um indício de uma atitude errada na nossa vida?
Pensemos: desejamos o louvor humano (devemos admitir que sabe bem) ou o louvor divino (não se ouve, não se vê, mas traz uma paz incrível)?  
6 Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará.
Jesus virou-se para os discípulos e disse-lhes “tu, porém”.
A palavra “porém” é uma conjunção adversativa e mostra-nos que aquilo que vem a seguir é totalmente diferente do que foi dito anteriormente.
Vamos ver o contraste na atitude, nos actos, no objectivo e na recompensa.
1.      Atitude: humildade que é totalmente contrária à da hipocrisia.
Como ver se temos sido humildade? Nos actos…
2.      Actos: “quando orares, entra no teu quarto e, fecha a porta”
Jesus assume, mais uma vez, que a oração é uma realidade na vida do cristão.
E, ao orarem, deviam entrar no quarto - uma despensa sem janelas que as casas tinham - e depois fecharem a porta.
Jesus pretendeu mostrar assim que as pessoas não devem orar com a motivação de serem vistas ou contempladas pelos outros.
Mais uma vez… estamos a falar da essência ou atitude dos actos e não na forma.
Obviamente que nós podemos e devemos orar em público, como num restaurante*, até porque, no limite, podemos não ter esta despensa em casa.
Qual o objectivo de Jesus dizer estas palavras?
3.      Objectivo: “orarás a teu Pai que está em secreto
Precisamente para sabermos que a oração deve ser para Deus porque é Deus que tem de ser louvado enquanto oramos.
É Deus que tem de estar no centro das nossas orações.
Isto pode parecer trivial. Mas se olharmos para a parábola do fariseu e publicano poderíamos ver que o fariseu orava para si contemplando os seus feitos além de dizer mal do publicano.
O fariseu usou a sua suposta vida espiritual como um feito e para fazer-se superior aos outros.
Este é um aviso sério para nós:
Temos orado a quem?
Temos contemplado os feitos de quem?
Temos usado a oração para dizer mal de alguém*?
Se a oração for dirigida a Deus e tivermos o desejo de glorificá-lo, certamente que haverá uma consequência
4.      Consequência: “te recompensará”.
Jesus é muito claro que se tivermos a atitude correcta seremos “recompensados”.
Esta palavra não significa de alguma forma que Deus nos deve algo e então recompensará pelo que fizemos.
A resposta às nossas orações serão sempre manifestações de Graça de Deus… não são uma resposta ao nosso merecimento.
A ideia do versículo é a seguinte: “Deus manifestará o Seu cuidado se orares com a atitude certa”.
7 E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos.
Jesus continuou a dizer aos discípulos que quando orassem não deviam usar vãs repetições.
Como quem? Como os gentios.
Qual a razão? Os “gentios presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos”.
Quem eram estes “gentios”? Eram aqueles que estavam envolvidos com o paganismo os quais, através de serviços e sacrifícios aos deuses, buscavam os Seus favores. Era um contracto na verdade.
Isto é, cumpres determinados passos ou dizes determinadas palavras e terás os devidos resultados. Basicamente é a ideia do mantra.
Nesse sentido, as “vãs repetições” não estão relacionadas com o pedir várias vezes a Deus sobre algum assunto, mas achar que se usarmos palavras específicas, iremos ter os resultados que queremos.
Também podemos achar que se Deus ficar muito satisfeito com a eloquência da nossa oração aí talvez possa responder.
É muito normal ouvir dizer “eu não sei as palavras certas”. Na oração não interessa as palavras, mas sim a intenção e a motivação com que as dizemos a Deus.
Recordo-me que, quando era mais novo, achava que nunca seria abençoado porque não conseguia fazer, na Igreja, aquelas orações grandescheias de palavras que se repetiam umas às outras porque era sempre muito conciso e objectivo.
Depois, à medida que fui crescendo, a nível de maturidade, comecei a perceber que havia muita repetição e aquilo que tinha sido dito em 5 minutos bastava ter dito num minuto.
No meu ponto de vista, creio que também podem ser vãs repetições se estas palavras não surgirem de um profundo desejo de estar a falar com Deus.
Além disso, creio que deve haver diferença entre a oração pessoal e a oração feita na Igreja (falaremos sobre isso nesta série).
Também não devemos cair no outro extremo de fazer orações tão curtas que parece que estamos quase a cumprir um dever* para sermos abençoados ou fazermos para cumprir algo como se de um ritual ou formalismo tratasse.
8 Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai, sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais.
Jesus foi bem enfático ao dizer que não nos devemos “assemelhar” ou ser como aquelas pessoas (os gentios) que achavam que se cumprissem determinados passos ou usassem certas palavras iriam ter um o seu desejo cumprido tal como, conforme vimos, um contracto.
No nosso meio cristão, essas coisas podem acontecer como por exemplo a chamada “oração do pecador”: a pessoa faz aquela oração e é salva. Ou a oração da “cura”. Ou a oração da “libertação”.
Lembremo-nos que na vida cristã não há nenhum contracto porque Deus não é obrigado a dar nada. Há, sim, algo bem mais forte e melhorhá uma aliança firmada pela sua graça e pelo seu amor.
No casamento, nós trocamos a aliança com o nosso cônjuge para mostrar que só a morte nos deve separar.
No Evangelho, Deus faz uma aliança connosco e nem a morte nos irá separar. Alias, vai unir-nos ainda mais pois vai ser algo pleno, perfeito e para todo o sempre.
Jesus foi claro neste versículo… nós devemos orar sem pensar que há formulas mágicas para termos algo. Devemos orar, sim, com uma enorme confiança sabendo que Deus sempre soube o que era melhor para os Seus filhos antes mesmo de lhe pedirmos.
Oremos não para mostrar a Deus as nossas necessidades, como se Ele não soubesse, mas oremos para submetermos a nossa vontade e a nossa necessidade àquilo que Deus tem para oferecer.
A oração não deve servir para mostrar a nossa reputação diante de Deus e dos Homens.
Deve servir, sim, para percebermos como Deus é bom quer nos bons momentos como nas circunstâncias mais duras porque em todo o momento nós devemos ser felizes com Jesus.
Termino com algumas aplicações práticas
Qual tem sido a nossa motivação quando oramos?
Se estivermos preocupados com a nossa reputação espiritual, estamos apenas a desejar que a nossa vida seja glorificada por aqueles que estão à nossa volta.
Se a nossa vida espiritual for “melhor” na esfera pública do que na nossa vida privada*, isso mostrar-nos-á que estamos mais preocupados com a nossa reputação diante dos Homens do que diante de Deus.
Qual tem sido a nossa preocupação?
O desempenho público ou a nossa devoção pessoal?
Braga – movimento ou campanha evangelística – vão para casa*.
Libertemo-nos da pressão de mostrarmos aquilo que na verdade não somos.
Vivamos sem máscaras e aí iremos perceber que vivemos todos na luta… e quem vive na luta será sempre mais humilde com os outros principalmente com aqueles que falham.
Por outro lado, se vivermos com a motivação certa, desejaremos que Deus seja glorificado em todos os momentos da nossa vida mesmo que seja através do nosso sofrimento.
E a oração ajuda a compreender esse propósito e isso irá trazer paz à nossa vida que é muitas vezes tão agitada…
É por isso que há coisas que parecem muito estranhas - como sentirmos paz nestes momentos tão duros - porém compreensíveis quando entendemos que são fruto da graça de Deus e que chegaram até nós por meio da oração.
Nas igrejas o maior problema, muitas vezes, não é a doutrina. O maior problema, quanto a mim, é o coração estar distante das verdades que proferimos.
Que cada um de nós possa descobrir o prazer que há em Deus e que não sejamos como aquele filho que só se aproxima dos pais apenas para pedir coisas sem perceber o valor da intimidade.
Que Deus nos ajude.