No NT podemos encontrar referência a várias pessoas com o
nome de Tiago. O filho de Zebedeu, o filho de Alfeu e o meio-irmão de Jesus.
A maior parte dos
eruditos acredita que este livro foi escrito precisamente pelo meio-irmão do
Senhor Jesus. Ele tinha grande autoridade na Igreja em Jerusalém e esta carta é
o exemplo claro dessa sua responsabilidade.
Foi escrito por causa
da forma como os cristãos judaicos estavam a viver o Evangelho. Face a
isso, havia a necessidade de escrever sobre as principais consequências do
cristianismo.
É um livro com instruções
muito práticas sobre como viver a fé e como a mesma tem
implicações no nosso dia-a-dia.
A fé não é apenas para ser vista no nosso pensamento,
também é algo que nos obriga a agir de acordo com ela. Leva-nos assim a pensar
e viver segundo o padrão de Deus.
Tiago 1:1 “Da parte de Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus
Cristo, às doze tribos do povo de Deus dispersas pelo mundo”.
Muito interessante notar que os homens de Deus, em vez de
falarem do seu currículo espiritual*, apresentam-se como sendo servos de Deus.
É necessário ter
humildade para compreender que tudo o que fazemos, fazemos na força que Deus nos dá e não
com base em qualquer capacidade inata em nós.
Tiago apresenta-se assim como servo às 12 tribos que estão
dispersas pelo mundo.
Devido à divisão do reino e depois ao cativeiro na Assíria,
o povo judeu ficou disperso por toda a parte no mundo.
Por causa disso, precisavam de saber como deviam viver o
Evangelho em termos das suas consequências diárias.
O povo judeu que vivia disperso estava
a sofrer perseguições e por conseguinte, estava a desviar-se da caminhada
cristã.
1:2 Meus irmãos, devem sentir-se profundamente felizes ao
terem de passar por várias provações.
Antes de falarmos na questão da felicidade, vamos perceber primeiro
o que significa provações.
A palavra “provação”, no grego, significa problemas, como
também aquilo que, de certa forma, quebra a nossa paz, conforto e felicidade.
Resumidamente tudo o que seja adverso ao nosso conforto.
Tem também como significado
colocar alguém à prova para se descobrir a natureza ou a qualidade
dessa mesma pessoa.
Conforme temos visto, é nos momentos difíceis que
percebemos quem somos e de quem dependemos.
Num contexto de perseguição, os judeus eram odiados e
desprezados, Tiago escreve-lhes para que eles tivessem alegria
nessas provações.
O que significa ter então alegria ou satisfação quando chegam as tribulações?
Nenhum de nós, a não ser que seja masoquista, se alegra
com o sofrimento em si.
Não nos alegramos quando vem uma doença, ou o desemprego,
por termos o carro avariado, ou ter um inquilino que não paga a renda da casa.
No entanto, Tiago diz que devemos ter satisfação quando as provações
acontecem.
A verdade é que devemos ter uma boa teologia do sofrimento.
Vivemos num mundo caído e onde os efeitos do pecado são
bastante notórios. Mas foi precisamente para este mundo que Deus nos
chamou. Como sobreviver?
Ninguém tem capacidade para fugir ao sofrimento*. É uma
coisa natural que acontece.
Nós não proclamamos um Evangelho que liberta do sofrimento
terreno, porque para haver Evangelho teve de haver sofrimento.
Qual a razão da
alegria?
Em vários salmos vemos Davi e os outros salmistas a falarem
do desconsolo que sentiam em momentos
difíceis das suas vidas.
Muitos desses salmos, revelam uma profunda dor e alguns deles
mostram momentos depressivos.
Como mostrar alegria no meio do
sofrimento?
Teremos alegria pelas circunstâncias em si ou pela segurança
que podemos ter aquando essas provações?
Ao longo do AT vemos todos os profetas a terem provações
bem grandes e algumas delas
mesmo terríveis.
Elias, um exemplo de vida para todos nós, chega a ter um
momento de grande depressão depois de Deus lhe ter dado uma enorme vitória no
monte carmelo (deuses).
Jó foi um dos homens mais justos à face da terra. Teve
sofrimento como nenhum de nós teve. Pediu explicações ao Senhor Deus sobre
o que estava a passar com ele, e Deus
nunca lhe deu nenhuma resposta concreta.
No entanto, todos estes profetas, nestes momentos de grande
sofrimento, sentiram a presença de Deus de uma
forma notável.
Jesus é o exemplo máximo desta verdade.
A maior parte das afirmações que Deus faz aos seus servos
são: “Estou aqui”, “Eu estarei contigo por onde quer que andares”, “Confia em
mim”, “Eu sou o Senhor”.
Deus sempre prometeu
a Sua presença a todos os Seus filhos mas nunca prometeu que os livrava do
sofrimento terreno.
Qual a diferença entre um cristão e um não cristão quando
passam por sofrimento?
A real presença de
Deus ao nosso lado faz com que a nossa alegria seja grande.
Ao passarmos pelo “vale da sombra da morte” percebemos que não
estamos sós nesta caminhada. Caminhada essa que pode apenas acabar quando Deus
nos chamar.
Num contexto difícil para o povo, Tiago anima o coração dos
seus leitores, dizendo que eles não estariam sozinhos.
Deus estava com eles e a favor deles.
No entanto, abre também uma nova perspectiva para o
sofrimento. Vejamos:
1:3 Pois sabem que uma fé assim provada dá como fruto a
perseverança.
Segundo Tiago, as provações fazem com que a nossa fé seja provada, não no sentido
de Deus saber como nós reagimos, mas para nós sabermos quem somos, assim como
sabermos daquilo que Deus é capaz de fazer em nós e através de nós.
Depois de sermos testados ou provados temos como consequência a perseverança.
Esta palavra no original significa estabilidade,
constância ou paciência.
Um dos objectivos das provações na nossa vida, hoje veremos
apenas um, passa por dar-nos força,
longanimidade (capacidade de reagir de forma cristã às adversidades) e a necessária paciência para enfrentarmos o dia de
amanhã.
As crianças têm os seus problemas, os quais, nós, adultos,
achamos que são, na Sua maioria, coisas sem sentido.
Acharmos isso é sinal de termos memória curta e, acima de tudo, um sentimento de superioridade para com elas. Quando tínhamos aquela
idade sofríamos como elas. Ou seja, crescemos.
A verdade é que se não tivéssemos os problemas que tivemos
em criança, hoje não conseguíamos atravessar muitas das situações que
passamos.
É um ciclo… (Sinusite*).
Aquando as aflições temos
de perceber que os nossos irmãos podem ainda não ter maturidade suficiente para
passar por esse momento, sendo que para nós aquilo pode ser algo habitual e
por isso fácil de ultrapassar.
Até porque, somos sempre muito bons a gerir a vida dos
outros e a viver o problema dos outros. Quando chega a nós, parece que é o
fim do mundo.
Demonstramos graça quando ajudamos
os nossos irmãos em situações difíceis sem os julgar.
Revelamos orgulho quando dizemos “Isso não é nada, já passei
por muito pior”.
Às vezes quase que caímos no erro da oração do fariseu
“Obrigado Senhor porque não sou como ele”.
Lembre-se… Há certas situações que acontecem somente com o
objectivo de crescermos para futuramente ajudarmos outras pessoas. E se for
isso, devemos apenas dizer “Eis-me aqui”.
Há que ter uma perspectiva comunitária e não solitária.
O Evangelho faz-nos crescer e obriga-nos a ajudar outros a
crescerem também. Sempre em espírito de
humildade.
1:4 Procurem ser perseverantes até ao fim para chegarem a ser
completamente perfeitos, sem faltar nada.
Ou como diz a JFA “Ora, a perseverança deve ter acção
completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”.
O ponto é o seguinte: Mantenham
a calma e a tranquilidade no meio das adversidades, para que então sejam
perfeitos, não no sentido de viverem sem pecado mas no
sentido de terem maturidade.
Este é um grande aviso e por conseguinte um desafio: Perante
as adversidades percebermos que Deus é Senhor e que Ele é bom.
O sofrimento transforma-nos por completo e ajuda-nos a crescer rumo à perfeição.
Quando assim acontece, podem vir as maiores tempestades e a
nossa alegria não será afectada porque a nossa alegria está centrada em Cristo
e não nas circunstâncias.
As consequências do Evangelho são para ser vividas em todas
as áreas da nossa vida. Não há áreas de estimação onde podemos negar a acção do
Espírito. Somos um todo e não partes.
Deus não preenche
buracos na nossa vida. Ele é a nossa vida.
Por vezes, até quando, de forma inconsciente,
compartimentamos a nossa vida, a provação surge para percebermos que a nossa
estabilidade tem de estar no Senhor Deus.
Fugimos das provações porque as tememos e achamos que não
somos merecedores de tal.
Ao olhar para a minha vida, já coloquei muita coisa em causa
achando que eu era merecedor de algo.
Como lidar com o sofrimento? Como lidar com as provações?
1º Saber que Deus está connosco é muito melhor do que ter
a libertação de qualquer tipo de sofrimento.
Há provações das quais não somos libertos, no entanto,
tenhamos a certeza que seremos sempre
sustentados por Deus.
É na força de Deus que iremos viver no vale da sombra da
morte e por isso não temeremos mal algum, porque Ele está connosco.
Deus faz tudo para a Sua glória e por conseguinte para o
nosso bem.
Descansamos porque Deus age na Sua Graça para com os Seus
filhos e não por causa dos nossos merecimentos.
O sofrimento não é
sinal da ausência de Deus em nós.
Temos alegria no sofrimento porque sabemos que Deus está
connosco.
Em Cristo, fomos libertos do maior sofrimento que poderíamos
ter… A condenação eterna.
2º As provações fazem-nos crescer e preparam-nos para
situações futuras que de outra forma não conseguiríamos aguentar.
Há dificuldades passadas que servem apenas para nos
preparar para situações futuras. Isto é, se não acontecessem certas coisas
na nossa vida, hoje ficaríamos desesperados com as situações que nos acontecem.
Fazer exame (reacção antes e agora).
Por isso, sabendo que a provação vem, tenhamos a certeza que Deus está connosco e que tudo isso acontece, na perspectiva deste
texto, para o nosso crescimento.
O Espírito Santo limará todas as arestas necessárias da
nossa vida.
Há coisas na minha vida que na altura geraram grande
insatisfação e que hoje eu agradeço ao Senhor por ter passado por aqueles
momentos.
Ser grato é
viver em paz mesmo no meio da dor.
A nossa alegria não está na provação mas pela certeza do
resultado dessa provação.
3º Saber que Deus está connosco durante o nosso
sofrimento, é muito mais poderoso do que obter qualquer explicação face ao
sucedido.
A fé não significa perceber tudo o que acontece.
Desejarmos ter explicações para tudo o que nos acontece, coloca-nos num lugar que não é o nosso.
Além disso, iremos ficar depressivos com a ausência de
respostas sobre a acção do próprio Deus.
Quem não deseja respostas às Suas perguntas?
Em certo sentido, o melhor exercício de fé que podemos
fazer, a nível de perguntas a Deus, passa por simplesmente não as fazermos.
Quem pode esquadrinhar os planos de Deus?
Isaías 55:8-9
- “Porque os meus pensamentos não são os
vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor.
Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus
caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos
do que os vossos pensamentos”.
Jeremias 29:11
– “Porque eu bem sei os pensamentos que
tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para
vos dar o fim que esperais”.
Deus tem o melhor para nós. É a favor de nós. Nunca contra
nós.
Nada é impossível
para Deus porque Ele é Soberano.
Nos impossíveis, Deus torna possível, se essa for a Sua
vontade.
No entanto, há coisas que mesmo pedindo sinais nunca iremos
compreender.
Nós nunca iremos perceber todas as coisas que acontecem e
muito menos iremos conseguir perceber toda a acção de Deus.
1 Coríntios 13:12
- “Porque agora vemos por espelho em
enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então
conhecerei como também sou conhecido”.
Jó nunca teve respostas às Suas perguntas, no entanto obteve
aquilo que de facto fez a diferença… Saber
que Deus estava com Ele.
Será que preferimos ter a certeza da presença de Deus ou ter
a certeza que não iremos ter mais sofrimento?
Conjugar as duas será
apenas possível no céu.
A Palavra de Deus promete isso para
todo aquele que se arrepender dos seus pecados e
acreditar que Jesus morreu na Cruz no Seu lugar.
Deus está presente. Saber disto é o suficiente para percebermos
que temos tudo, ainda que possamos não ter nada.
“Eu serei contigo” é uma promessa de Deus aos seus filhos e
que se mantém para nós.
Chega-nos essa certeza? Se sim, teremos alegria nas
provações.
4º Agimos pela certeza que Deus está connosco mesmo
sabendo que determinada tarefa tenha riscos.
Em determinados momentos da nossa vida, tentamos saber qual
é a vontade de Deus para nós. Então tentamos perceber qual o caminho que terá
menores provações.
Este é um exercício errado. Se fosse assim, nenhum profeta
teria seguido a vontade de Deus.
Não é pela ausência de riscos que percebemos qual o
caminho que devemos percorrer.
Seguimos a Deus pela certeza da Sua presença mesmo que isso signifique caminhar sobre trilhos tortuosos.
Alegremo-nos pois em Cristo.
Termino com duas frases de Corrie ten Boom. Para quem não
conhece, ela salvou muitos judeus da morte. Arriscou
a sua vida porque achava que isso era o que Deus desejava para si.
Ela escreveu o seguinte: “Quando Deus nos envia por caminhos
pedregosos, Ele providencia sapatos resistentes” e “A melhor ferramenta de Deus
nas nossas vidas é a ferramenta do sofrimento.”
Que Deus nos ajude a olhar para o sofrimento com alegria.
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