sábado, 12 de julho de 2014

Série nova sobre Tiago

No NT podemos encontrar referência a várias pessoas com o nome de Tiago. O filho de Zebedeu, o filho de Alfeu e o meio-irmão de Jesus.
A maior parte dos eruditos acredita que este livro foi escrito precisamente pelo meio-irmão do Senhor Jesus. Ele tinha grande autoridade na Igreja em Jerusalém e esta carta é o exemplo claro dessa sua responsabilidade.
Foi escrito por causa da forma como os cristãos judaicos estavam a viver o Evangelho. Face a isso, havia a necessidade de escrever sobre as principais consequências do cristianismo.
É um livro com instruções muito práticas sobre como viver a fé e como a mesma tem implicações no nosso dia-a-dia.
A fé não é apenas para ser vista no nosso pensamento, também é algo que nos obriga a agir de acordo com ela. Leva-nos assim a pensar e viver segundo o padrão de Deus.
Tiago 1:1 “Da parte de Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos do povo de Deus dispersas pelo mundo”.
Muito interessante notar que os homens de Deus, em vez de falarem do seu currículo espiritual*, apresentam-se como sendo servos de Deus.
É necessário ter humildade para compreender que tudo o que fazemos, fazemos na força que Deus nos dá e não com base em qualquer capacidade inata em nós.
Tiago apresenta-se assim como servo às 12 tribos que estão dispersas pelo mundo.
Devido à divisão do reino e depois ao cativeiro na Assíria, o povo judeu ficou disperso por toda a parte no mundo.
Por causa disso, precisavam de saber como deviam viver o Evangelho em termos das suas consequências diárias.
O povo judeu que vivia disperso estava a sofrer perseguições e por conseguinte, estava a desviar-se da caminhada cristã.
1:2 Meus irmãos, devem sentir-se profundamente felizes ao terem de passar por várias provações.
Antes de falarmos na questão da felicidade, vamos perceber primeiro o que significa provações.
A palavra “provação”, no grego, significa problemas, como também aquilo que, de certa forma, quebra a nossa paz, conforto e felicidade. Resumidamente tudo o que seja adverso ao nosso conforto.
Tem também como significado colocar alguém à prova para se descobrir a natureza ou a qualidade dessa mesma pessoa.
Conforme temos visto, é nos momentos difíceis que percebemos quem somos e de quem dependemos.
Num contexto de perseguição, os judeus eram odiados e desprezados, Tiago escreve-lhes para que eles tivessem alegria nessas provações.
O que significa ter então alegria ou satisfação quando chegam as tribulações?
Nenhum de nós, a não ser que seja masoquista, se alegra com o sofrimento em si.
Não nos alegramos quando vem uma doença, ou o desemprego, por termos o carro avariado, ou ter um inquilino que não paga a renda da casa.
No entanto, Tiago diz que devemos ter satisfação quando as provações acontecem.
A verdade é que devemos ter uma boa teologia do sofrimento.
Vivemos num mundo caído e onde os efeitos do pecado são bastante notórios. Mas foi precisamente para este mundo que Deus nos chamou. Como sobreviver?
Ninguém tem capacidade para fugir ao sofrimento*. É uma coisa natural que acontece.
Nós não proclamamos um Evangelho que liberta do sofrimento terreno, porque para haver Evangelho teve de haver sofrimento.
Qual a razão da alegria?
Em vários salmos vemos Davi e os outros salmistas a falarem do desconsolo que sentiam em momentos difíceis das suas vidas.
Muitos desses salmos, revelam uma profunda dor e alguns deles mostram momentos depressivos.
Como mostrar alegria no meio do sofrimento?
Teremos alegria pelas circunstâncias em si ou pela segurança que podemos ter aquando essas provações?
Ao longo do AT vemos todos os profetas a terem provações bem grandes e algumas delas mesmo terríveis.
Elias, um exemplo de vida para todos nós, chega a ter um momento de grande depressão depois de Deus lhe ter dado uma enorme vitória no monte carmelo (deuses).
Jó foi um dos homens mais justos à face da terra. Teve sofrimento como nenhum de nós teve. Pediu explicações ao Senhor Deus sobre o que estava a passar com ele, e Deus nunca lhe deu nenhuma resposta concreta.
No entanto, todos estes profetas, nestes momentos de grande sofrimento, sentiram a presença de Deus de uma forma notável.
Jesus é o exemplo máximo desta verdade.
A maior parte das afirmações que Deus faz aos seus servos são: “Estou aqui”, “Eu estarei contigo por onde quer que andares”, “Confia em mim”, “Eu sou o Senhor”.
Deus sempre prometeu a Sua presença a todos os Seus filhos mas nunca prometeu que os livrava do sofrimento terreno.
Qual a diferença entre um cristão e um não cristão quando passam por sofrimento?
A real presença de Deus ao nosso lado faz com que a nossa alegria seja grande.
Ao passarmos pelo “vale da sombra da morte” percebemos que não estamos sós nesta caminhada. Caminhada essa que pode apenas acabar quando Deus nos chamar.
Num contexto difícil para o povo, Tiago anima o coração dos seus leitores, dizendo que eles não estariam sozinhos.
Deus estava com eles e a favor deles.
No entanto, abre também uma nova perspectiva para o sofrimento. Vejamos:
1:3 Pois sabem que uma fé assim provada dá como fruto a perseverança.
Segundo Tiago, as provações fazem com que a nossa fé seja provada, não no sentido de Deus saber como nós reagimos, mas para nós sabermos quem somos, assim como sabermos daquilo que Deus é capaz de fazer em nós e através de nós.
Depois de sermos testados ou provados temos como consequência a perseverança.
Esta palavra no original significa estabilidade, constância ou paciência.
Um dos objectivos das provações na nossa vida, hoje veremos apenas um, passa por dar-nos força, longanimidade (capacidade de reagir de forma cristã às adversidades) e a necessária paciência para enfrentarmos o dia de amanhã.
As crianças têm os seus problemas, os quais, nós, adultos, achamos que são, na Sua maioria, coisas sem sentido.
Acharmos isso é sinal de termos memória curta e, acima de tudo, um sentimento de superioridade para com elas. Quando tínhamos aquela idade sofríamos como elas. Ou seja, crescemos.
A verdade é que se não tivéssemos os problemas que tivemos em criança, hoje não conseguíamos atravessar muitas das situações que passamos.
É um ciclo… (Sinusite*).
Aquando as aflições temos de perceber que os nossos irmãos podem ainda não ter maturidade suficiente para passar por esse momento, sendo que para nós aquilo pode ser algo habitual e por isso fácil de ultrapassar.
Até porque, somos sempre muito bons a gerir a vida dos outros e a viver o problema dos outros. Quando chega a nós, parece que é o fim do mundo.
Demonstramos graça quando ajudamos os nossos irmãos em situações difíceis sem os julgar.
Revelamos orgulho quando dizemos “Isso não é nada, já passei por muito pior”.
Às vezes quase que caímos no erro da oração do fariseu “Obrigado Senhor porque não sou como ele”.
Lembre-se… Há certas situações que acontecem somente com o objectivo de crescermos para futuramente ajudarmos outras pessoas. E se for isso, devemos apenas dizer “Eis-me aqui”.
Há que ter uma perspectiva comunitária e não solitária.
O Evangelho faz-nos crescer e obriga-nos a ajudar outros a crescerem também. Sempre em espírito de humildade.
1:4 Procurem ser perseverantes até ao fim para chegarem a ser completamente perfeitos, sem faltar nada.
Ou como diz a JFA “Ora, a perseverança deve ter acção completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”.
O ponto é o seguinte: Mantenham a calma e a tranquilidade no meio das adversidades, para que então sejam perfeitos, não no sentido de viverem sem pecado mas no sentido de terem maturidade.
Este é um grande aviso e por conseguinte um desafio: Perante as adversidades percebermos que Deus é Senhor e que Ele é bom.
O sofrimento transforma-nos por completo e ajuda-nos a crescer rumo à perfeição
Quando assim acontece, podem vir as maiores tempestades e a nossa alegria não será afectada porque a nossa alegria está centrada em Cristo e não nas circunstâncias.
As consequências do Evangelho são para ser vividas em todas as áreas da nossa vida. Não há áreas de estimação onde podemos negar a acção do Espírito. Somos um todo e não partes.
Deus não preenche buracos na nossa vida. Ele é a nossa vida.
Por vezes, até quando, de forma inconsciente, compartimentamos a nossa vida, a provação surge para percebermos que a nossa estabilidade tem de estar no Senhor Deus.
Fugimos das provações porque as tememos e achamos que não somos merecedores de tal.
Ao olhar para a minha vida, já coloquei muita coisa em causa achando que eu era merecedor de algo.
Como lidar com o sofrimento? Como lidar com as provações?
1º Saber que Deus está connosco é muito melhor do que ter a libertação de qualquer tipo de sofrimento.
provações das quais não somos libertos, no entanto, tenhamos a certeza que seremos sempre sustentados por Deus.
É na força de Deus que iremos viver no vale da sombra da morte e por isso não temeremos mal algum, porque Ele está connosco.
Deus faz tudo para a Sua glória e por conseguinte para o nosso bem.
Descansamos porque Deus age na Sua Graça para com os Seus filhos e não por causa dos nossos merecimentos.
O sofrimento não é sinal da ausência de Deus em nós.
Temos alegria no sofrimento porque sabemos que Deus está connosco.
Em Cristo, fomos libertos do maior sofrimento que poderíamos ter… A condenação eterna.
2º As provações fazem-nos crescer e preparam-nos para situações futuras que de outra forma não conseguiríamos aguentar.
dificuldades passadas que servem apenas para nos preparar para situações futuras. Isto é, se não acontecessem certas coisas na nossa vida, hoje ficaríamos desesperados com as situações que nos acontecem. Fazer exame (reacção antes e agora).
Por isso, sabendo que a provação vem, tenhamos a certeza que Deus está connosco e que tudo isso acontece, na perspectiva deste texto, para o nosso crescimento.
O Espírito Santo limará todas as arestas necessárias da nossa vida.
Há coisas na minha vida que na altura geraram grande insatisfação e que hoje eu agradeço ao Senhor por ter passado por aqueles momentos.
Ser grato é viver em paz mesmo no meio da dor.
A nossa alegria não está na provação mas pela certeza do resultado dessa provação.
3º Saber que Deus está connosco durante o nosso sofrimento, é muito mais poderoso do que obter qualquer explicação face ao sucedido.
A fé não significa perceber tudo o que acontece.
Desejarmos ter explicações para tudo o que nos acontece, coloca-nos num lugar que não é o nosso.
Além disso, iremos ficar depressivos com a ausência de respostas sobre a acção do próprio Deus.
Quem não deseja respostas às Suas perguntas?
Em certo sentido, o melhor exercício de fé que podemos fazer, a nível de perguntas a Deus, passa por simplesmente não as fazermos.
Quem pode esquadrinhar os planos de Deus?
Isaías 55:8-9 - “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”.
Jeremias 29:11 – “Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”.
Deus tem o melhor para nós. É a favor de nós. Nunca contra nós.
Nada é impossível para Deus porque Ele é Soberano.
Nos impossíveis, Deus torna possível, se essa for a Sua vontade.
No entanto, há coisas que mesmo pedindo sinais nunca iremos compreender.
Nós nunca iremos perceber todas as coisas que acontecem e muito menos iremos conseguir perceber toda a acção de Deus.
1 Coríntios 13:12 - “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”.
Jó nunca teve respostas às Suas perguntas, no entanto obteve aquilo que de facto fez a diferença… Saber que Deus estava com Ele.
Será que preferimos ter a certeza da presença de Deus ou ter a certeza que não iremos ter mais sofrimento?
Conjugar as duas será apenas possível no céu.
A Palavra de Deus promete isso para todo aquele que se arrepender dos seus pecados e acreditar que Jesus morreu na Cruz no Seu lugar.
Deus está presente. Saber disto é o suficiente para percebermos que temos tudo, ainda que possamos não ter nada.
“Eu serei contigo” é uma promessa de Deus aos seus filhos e que se mantém para nós.
Chega-nos essa certeza? Se sim, teremos alegria nas provações.
4º Agimos pela certeza que Deus está connosco mesmo sabendo que determinada tarefa tenha riscos.
Em determinados momentos da nossa vida, tentamos saber qual é a vontade de Deus para nós. Então tentamos perceber qual o caminho que terá menores provações.
Este é um exercício errado. Se fosse assim, nenhum profeta teria seguido a vontade de Deus.
Não é pela ausência de riscos que percebemos qual o caminho que devemos percorrer.
Seguimos a Deus pela certeza da Sua presença mesmo que isso signifique caminhar sobre trilhos tortuosos.
Alegremo-nos pois em Cristo.
Termino com duas frases de Corrie ten Boom. Para quem não conhece, ela salvou muitos judeus da morte. Arriscou a sua vida porque achava que isso era o que Deus desejava para si.
Ela escreveu o seguinte: “Quando Deus nos envia por caminhos pedregosos, Ele providencia sapatos resistentes” e “A melhor ferramenta de Deus nas nossas vidas é a ferramenta do sofrimento.”

Que Deus nos ajude a olhar para o sofrimento com alegria.

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