sábado, 12 de julho de 2014

Série nova sobre Tiago

No NT podemos encontrar referência a várias pessoas com o nome de Tiago. O filho de Zebedeu, o filho de Alfeu e o meio-irmão de Jesus.
A maior parte dos eruditos acredita que este livro foi escrito precisamente pelo meio-irmão do Senhor Jesus. Ele tinha grande autoridade na Igreja em Jerusalém e esta carta é o exemplo claro dessa sua responsabilidade.
Foi escrito por causa da forma como os cristãos judaicos estavam a viver o Evangelho. Face a isso, havia a necessidade de escrever sobre as principais consequências do cristianismo.
É um livro com instruções muito práticas sobre como viver a fé e como a mesma tem implicações no nosso dia-a-dia.
A fé não é apenas para ser vista no nosso pensamento, também é algo que nos obriga a agir de acordo com ela. Leva-nos assim a pensar e viver segundo o padrão de Deus.
Tiago 1:1 “Da parte de Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos do povo de Deus dispersas pelo mundo”.
Muito interessante notar que os homens de Deus, em vez de falarem do seu currículo espiritual*, apresentam-se como sendo servos de Deus.
É necessário ter humildade para compreender que tudo o que fazemos, fazemos na força que Deus nos dá e não com base em qualquer capacidade inata em nós.
Tiago apresenta-se assim como servo às 12 tribos que estão dispersas pelo mundo.
Devido à divisão do reino e depois ao cativeiro na Assíria, o povo judeu ficou disperso por toda a parte no mundo.
Por causa disso, precisavam de saber como deviam viver o Evangelho em termos das suas consequências diárias.
O povo judeu que vivia disperso estava a sofrer perseguições e por conseguinte, estava a desviar-se da caminhada cristã.
1:2 Meus irmãos, devem sentir-se profundamente felizes ao terem de passar por várias provações.
Antes de falarmos na questão da felicidade, vamos perceber primeiro o que significa provações.
A palavra “provação”, no grego, significa problemas, como também aquilo que, de certa forma, quebra a nossa paz, conforto e felicidade. Resumidamente tudo o que seja adverso ao nosso conforto.
Tem também como significado colocar alguém à prova para se descobrir a natureza ou a qualidade dessa mesma pessoa.
Conforme temos visto, é nos momentos difíceis que percebemos quem somos e de quem dependemos.
Num contexto de perseguição, os judeus eram odiados e desprezados, Tiago escreve-lhes para que eles tivessem alegria nessas provações.
O que significa ter então alegria ou satisfação quando chegam as tribulações?
Nenhum de nós, a não ser que seja masoquista, se alegra com o sofrimento em si.
Não nos alegramos quando vem uma doença, ou o desemprego, por termos o carro avariado, ou ter um inquilino que não paga a renda da casa.
No entanto, Tiago diz que devemos ter satisfação quando as provações acontecem.
A verdade é que devemos ter uma boa teologia do sofrimento.
Vivemos num mundo caído e onde os efeitos do pecado são bastante notórios. Mas foi precisamente para este mundo que Deus nos chamou. Como sobreviver?
Ninguém tem capacidade para fugir ao sofrimento*. É uma coisa natural que acontece.
Nós não proclamamos um Evangelho que liberta do sofrimento terreno, porque para haver Evangelho teve de haver sofrimento.
Qual a razão da alegria?
Em vários salmos vemos Davi e os outros salmistas a falarem do desconsolo que sentiam em momentos difíceis das suas vidas.
Muitos desses salmos, revelam uma profunda dor e alguns deles mostram momentos depressivos.
Como mostrar alegria no meio do sofrimento?
Teremos alegria pelas circunstâncias em si ou pela segurança que podemos ter aquando essas provações?
Ao longo do AT vemos todos os profetas a terem provações bem grandes e algumas delas mesmo terríveis.
Elias, um exemplo de vida para todos nós, chega a ter um momento de grande depressão depois de Deus lhe ter dado uma enorme vitória no monte carmelo (deuses).
Jó foi um dos homens mais justos à face da terra. Teve sofrimento como nenhum de nós teve. Pediu explicações ao Senhor Deus sobre o que estava a passar com ele, e Deus nunca lhe deu nenhuma resposta concreta.
No entanto, todos estes profetas, nestes momentos de grande sofrimento, sentiram a presença de Deus de uma forma notável.
Jesus é o exemplo máximo desta verdade.
A maior parte das afirmações que Deus faz aos seus servos são: “Estou aqui”, “Eu estarei contigo por onde quer que andares”, “Confia em mim”, “Eu sou o Senhor”.
Deus sempre prometeu a Sua presença a todos os Seus filhos mas nunca prometeu que os livrava do sofrimento terreno.
Qual a diferença entre um cristão e um não cristão quando passam por sofrimento?
A real presença de Deus ao nosso lado faz com que a nossa alegria seja grande.
Ao passarmos pelo “vale da sombra da morte” percebemos que não estamos sós nesta caminhada. Caminhada essa que pode apenas acabar quando Deus nos chamar.
Num contexto difícil para o povo, Tiago anima o coração dos seus leitores, dizendo que eles não estariam sozinhos.
Deus estava com eles e a favor deles.
No entanto, abre também uma nova perspectiva para o sofrimento. Vejamos:
1:3 Pois sabem que uma fé assim provada dá como fruto a perseverança.
Segundo Tiago, as provações fazem com que a nossa fé seja provada, não no sentido de Deus saber como nós reagimos, mas para nós sabermos quem somos, assim como sabermos daquilo que Deus é capaz de fazer em nós e através de nós.
Depois de sermos testados ou provados temos como consequência a perseverança.
Esta palavra no original significa estabilidade, constância ou paciência.
Um dos objectivos das provações na nossa vida, hoje veremos apenas um, passa por dar-nos força, longanimidade (capacidade de reagir de forma cristã às adversidades) e a necessária paciência para enfrentarmos o dia de amanhã.
As crianças têm os seus problemas, os quais, nós, adultos, achamos que são, na Sua maioria, coisas sem sentido.
Acharmos isso é sinal de termos memória curta e, acima de tudo, um sentimento de superioridade para com elas. Quando tínhamos aquela idade sofríamos como elas. Ou seja, crescemos.
A verdade é que se não tivéssemos os problemas que tivemos em criança, hoje não conseguíamos atravessar muitas das situações que passamos.
É um ciclo… (Sinusite*).
Aquando as aflições temos de perceber que os nossos irmãos podem ainda não ter maturidade suficiente para passar por esse momento, sendo que para nós aquilo pode ser algo habitual e por isso fácil de ultrapassar.
Até porque, somos sempre muito bons a gerir a vida dos outros e a viver o problema dos outros. Quando chega a nós, parece que é o fim do mundo.
Demonstramos graça quando ajudamos os nossos irmãos em situações difíceis sem os julgar.
Revelamos orgulho quando dizemos “Isso não é nada, já passei por muito pior”.
Às vezes quase que caímos no erro da oração do fariseu “Obrigado Senhor porque não sou como ele”.
Lembre-se… Há certas situações que acontecem somente com o objectivo de crescermos para futuramente ajudarmos outras pessoas. E se for isso, devemos apenas dizer “Eis-me aqui”.
Há que ter uma perspectiva comunitária e não solitária.
O Evangelho faz-nos crescer e obriga-nos a ajudar outros a crescerem também. Sempre em espírito de humildade.
1:4 Procurem ser perseverantes até ao fim para chegarem a ser completamente perfeitos, sem faltar nada.
Ou como diz a JFA “Ora, a perseverança deve ter acção completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”.
O ponto é o seguinte: Mantenham a calma e a tranquilidade no meio das adversidades, para que então sejam perfeitos, não no sentido de viverem sem pecado mas no sentido de terem maturidade.
Este é um grande aviso e por conseguinte um desafio: Perante as adversidades percebermos que Deus é Senhor e que Ele é bom.
O sofrimento transforma-nos por completo e ajuda-nos a crescer rumo à perfeição
Quando assim acontece, podem vir as maiores tempestades e a nossa alegria não será afectada porque a nossa alegria está centrada em Cristo e não nas circunstâncias.
As consequências do Evangelho são para ser vividas em todas as áreas da nossa vida. Não há áreas de estimação onde podemos negar a acção do Espírito. Somos um todo e não partes.
Deus não preenche buracos na nossa vida. Ele é a nossa vida.
Por vezes, até quando, de forma inconsciente, compartimentamos a nossa vida, a provação surge para percebermos que a nossa estabilidade tem de estar no Senhor Deus.
Fugimos das provações porque as tememos e achamos que não somos merecedores de tal.
Ao olhar para a minha vida, já coloquei muita coisa em causa achando que eu era merecedor de algo.
Como lidar com o sofrimento? Como lidar com as provações?
1º Saber que Deus está connosco é muito melhor do que ter a libertação de qualquer tipo de sofrimento.
provações das quais não somos libertos, no entanto, tenhamos a certeza que seremos sempre sustentados por Deus.
É na força de Deus que iremos viver no vale da sombra da morte e por isso não temeremos mal algum, porque Ele está connosco.
Deus faz tudo para a Sua glória e por conseguinte para o nosso bem.
Descansamos porque Deus age na Sua Graça para com os Seus filhos e não por causa dos nossos merecimentos.
O sofrimento não é sinal da ausência de Deus em nós.
Temos alegria no sofrimento porque sabemos que Deus está connosco.
Em Cristo, fomos libertos do maior sofrimento que poderíamos ter… A condenação eterna.
2º As provações fazem-nos crescer e preparam-nos para situações futuras que de outra forma não conseguiríamos aguentar.
dificuldades passadas que servem apenas para nos preparar para situações futuras. Isto é, se não acontecessem certas coisas na nossa vida, hoje ficaríamos desesperados com as situações que nos acontecem. Fazer exame (reacção antes e agora).
Por isso, sabendo que a provação vem, tenhamos a certeza que Deus está connosco e que tudo isso acontece, na perspectiva deste texto, para o nosso crescimento.
O Espírito Santo limará todas as arestas necessárias da nossa vida.
Há coisas na minha vida que na altura geraram grande insatisfação e que hoje eu agradeço ao Senhor por ter passado por aqueles momentos.
Ser grato é viver em paz mesmo no meio da dor.
A nossa alegria não está na provação mas pela certeza do resultado dessa provação.
3º Saber que Deus está connosco durante o nosso sofrimento, é muito mais poderoso do que obter qualquer explicação face ao sucedido.
A fé não significa perceber tudo o que acontece.
Desejarmos ter explicações para tudo o que nos acontece, coloca-nos num lugar que não é o nosso.
Além disso, iremos ficar depressivos com a ausência de respostas sobre a acção do próprio Deus.
Quem não deseja respostas às Suas perguntas?
Em certo sentido, o melhor exercício de fé que podemos fazer, a nível de perguntas a Deus, passa por simplesmente não as fazermos.
Quem pode esquadrinhar os planos de Deus?
Isaías 55:8-9 - “Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor. Porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos”.
Jeremias 29:11 – “Porque eu bem sei os pensamentos que tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz, e não de mal, para vos dar o fim que esperais”.
Deus tem o melhor para nós. É a favor de nós. Nunca contra nós.
Nada é impossível para Deus porque Ele é Soberano.
Nos impossíveis, Deus torna possível, se essa for a Sua vontade.
No entanto, há coisas que mesmo pedindo sinais nunca iremos compreender.
Nós nunca iremos perceber todas as coisas que acontecem e muito menos iremos conseguir perceber toda a acção de Deus.
1 Coríntios 13:12 - “Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido”.
Jó nunca teve respostas às Suas perguntas, no entanto obteve aquilo que de facto fez a diferença… Saber que Deus estava com Ele.
Será que preferimos ter a certeza da presença de Deus ou ter a certeza que não iremos ter mais sofrimento?
Conjugar as duas será apenas possível no céu.
A Palavra de Deus promete isso para todo aquele que se arrepender dos seus pecados e acreditar que Jesus morreu na Cruz no Seu lugar.
Deus está presente. Saber disto é o suficiente para percebermos que temos tudo, ainda que possamos não ter nada.
“Eu serei contigo” é uma promessa de Deus aos seus filhos e que se mantém para nós.
Chega-nos essa certeza? Se sim, teremos alegria nas provações.
4º Agimos pela certeza que Deus está connosco mesmo sabendo que determinada tarefa tenha riscos.
Em determinados momentos da nossa vida, tentamos saber qual é a vontade de Deus para nós. Então tentamos perceber qual o caminho que terá menores provações.
Este é um exercício errado. Se fosse assim, nenhum profeta teria seguido a vontade de Deus.
Não é pela ausência de riscos que percebemos qual o caminho que devemos percorrer.
Seguimos a Deus pela certeza da Sua presença mesmo que isso signifique caminhar sobre trilhos tortuosos.
Alegremo-nos pois em Cristo.
Termino com duas frases de Corrie ten Boom. Para quem não conhece, ela salvou muitos judeus da morte. Arriscou a sua vida porque achava que isso era o que Deus desejava para si.
Ela escreveu o seguinte: “Quando Deus nos envia por caminhos pedregosos, Ele providencia sapatos resistentes” e “A melhor ferramenta de Deus nas nossas vidas é a ferramenta do sofrimento.”

Que Deus nos ajude a olhar para o sofrimento com alegria.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Justificação pela fé e a justiça social.

Lucas 10:25-37
V25 Um certo doutor da lei, que queria experimentar Jesus, levantou-se e fez-lhe esta pergunta: «Mestre, que devo eu fazer para ter direito à vida eterna?»
Intérprete da Lei era um escriba que, supostamente, era um entendido na Lei de Deus. Os seus estudos eram apenas baseados na Lei. Face a isso, não estudavam manuscritos seculares. Estavam então focalizados apenas nos 5 primeiros livros.
A inteligência que lhe era conferida, fez com que esse escriba tentasse colocar Jesus à prova. Diversas vezes vimos isso a acontecer no NT, para verem se Jesus colocava o pé em falso.
No entanto, ao lermos as palavras deste escriba, percebemos que ele não sabe o que é a Graça divina.
“Que farei para herdar a Vida Eterna” pressupõe algum tipo de obras para ele ser salvo. Precisava de fazer algo para ser aceite por Deus.
V26-27 «Que diz a Escritura acerca disso?», respondeu-lhe. «Como é que a entendes?» E ele disse: «Ama o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a alma, com todas as forças e com todo o entendimento. E ama o teu próximo como a ti mesmo.»
Jesus vira a pergunta para o escriba, porque ele intitulava-se como o intérprete da Lei. Um entendido faz uma pergunta e Cristo devolve-a novamente.
De facto, o escriba resumiu a Lei como Jesus a sintetizou em Mateus 22:37-40, mostrando que o Homem deve amar a Deus com todo o seu ser e com tudo o que tem.
V28 Jesus comentou: «Respondeste bem. Faz isso e alcançarás a vida.»
Jesus elogia a resposta dele mas não elogia o seu comportamento.
Será que Jesus indica aqui o caminho das obras como forma de obter a salvação?
Claramente que não. Porque se realmente amarmos a Deus da forma como Jesus fala, então é porque confiamos n’Ele e não em nós mesmos.
O amor que temos a Deus surge sempre como resposta ao Seu amor por nós. Ou seja, o nosso amor por Deus não é a causa da Sua aceitação mas um reflexo dessa mesma aceitação.
1 João 4:19 “Nós amamos a Deus, porque Ele nos amou primeiro”.
Então, porque Deus nos ama, nós somos capazes de O amar e isso reflecte-se na nossa atitude para com Deus e para com o próximo.
V29 Mas o doutor da lei, querendo justificar-se, tornou a perguntar: «E quem é o meu próximo?»
Neste texto, percebemos que o Escriba não percebe a aplicação das suas próprias palavras, tanto é, que o texto diz que ele pretende-se justificar perante Cristo.
Ele não assume a sua culpa, mas pretende justificar-se e explicar o seu comportamento.
Este é um dos nossos problemas. Em vez de pedirmos perdão imediato a Deus, achamos maneiras de tentar desculpar os nossos erros.
Só há uma maneira de lidar com o pecado… Arrependimento.
Apenas uma nota, para os fariseus e escribas, o próximo eram todos aqueles que eles achavam justos. Logo todos os outros que não o fossem na perspectiva deles, incluindo publicanos, prostitutas, samaritanos e outros mais, não mereciam o cuidado deles.
Percebemos a semana passada, que a forma de nos relacionarmos com os outros, não está baseado nos merecimentos das pessoas mas na justificação que nós tivemos em Cristo.
Ou seja, relacionamo-nos com o próximo, como Cristo se relacionou connosco, sendo que temos de ter a noção de quem nós éramos antes de termos recebido a maravilhosa Graça do nosso Deus.
Por isso, e porque a Bíblia o diz, torna-se possível amar os nossos inimigos e isso acontece quando os nossos olhos estão colocados na cruz de Cristo.
V30 Então Jesus contou o seguinte: «Ia um homem a descer de Jerusalém para Jericó. Caíram sobre ele uns ladrões que lhe roubaram roupa e tudo, espancaram-no e foram-se embora, deixando-o quase morto.>>
Jesus não responde à pergunta directamente mas explica através de uma parábola para ensinar uma verdade.
Certo homem, acredita-se que fosse judeu, percorreu a estrada de Jerusalém para Jericó.
Essa estrada era conhecida por ser uma zona de muitos assaltos. Era uma zona deserta e com declive íngreme que permitia e facilitava esses assaltos.
Diz o texto que esse homem ficou semimorto.
V31 Por casualidade, descia um sacerdote por aquele caminho. Quando viu o homem passou pelo outro lado.
Surge então um sacerdote que passa ao largo e nem sequer toca naquele homem para perceber como ele estava.
Por quê? Porque se o homem estivesse morto, segundo Levítico 21, o sacerdote ficava contaminado e a Lei proibia-o disso. Continuaria puro se não lhe tocasse. O sacerdote não quis assim arriscar a sua pureza e, provavelmente, se parasse algum tempo, também podia ser assaltado.
V32 Também por lá passou igualmente um levita que, ao vê-lo, se desviou.
Diz-nos o texto que passou também um Levita.
Os levitas eram da tribo de Levi e ajudavam os sacerdotes nos trabalhos do templo. Logo, também não quis arriscar face à sua pureza cerimonial.
V33 Entretanto, um samaritano que ia de viagem passou junto dele e, ao vê-lo, sentiu compaixão.
Passou um Samaritano naquela estrada. Algo muito incomum, por ser uma estrada muito perigosa devido aos assaltantes, mas também, porque os samaritanos nessa estrada sofriam hostilidades dos judeus que por aí passavam.
Jesus introduz na história alguém impensável para os judeus, face à controvérsia que existia entre estes grupos.
Pensem no efeito que teve, Jesus introduzir uma personagem na história que era considerado inimigo mas que se revelou um herói.
V34 Aproximou-se, tratou-lhe os ferimentos com azeite e vinho e pôs-lhe ligaduras. Depois colocou-o em cima do seu jumento, levou-o para uma pensão e tratou dele.     
O óleo e o vinho, eram considerados bens importantes naquela altura, caso acontecesse alguma coisa. No fundo, era a caixa de primeiros socorros daquele tempo.
O samaritano ao colocar aquele homem em cima do animal, percebe-se que ele próprio tinha de ir a pé. Fez isso para levar o judeu até a um sítio seguro e assim alguém poderia tratar dele.
V35 No outro dia, deu duas moedas de prata ao dono da pensão e mandou-lhe: “Cuida deste homem, e quando eu voltar pago-te tudo o que gastares a mais com ele.”»
Além de tudo o que fez, ainda paga o valor de dois denários, o correspondente a dois dias de trabalho. Mais do que suficiente para ele ser cuidado ali.
No entanto, o samaritano ainda diz que se fosse preciso pagar mais alguma coisa, ele estava disponível para tal.
O Samaritano fez tudo o que podia, por alguém que não lhe queria bem, arriscando a sua vida para ajudar uma pessoa que, caso estivesse bem, provavelmente não quereria nada com ele.
V36 Jesus perguntou então ao doutor da lei: «Qual dos três te parece que foi o próximo do homem assaltado pelos ladrões?»
Jesus pergunta ao escriba quem foi o próximo daquele que tinha sido assaltado? Relembrar que eles achavam que o próximo estava relacionado com o tipo de pessoas que eles se reviam.
V37 E ele respondeu: «O que teve compaixão dele.» Jesus concluiu: «Então vai e faz o mesmo.»
O escriba não verbaliza a palavra “samaritano”. Apenas menciona a pessoa como sendo “aquele que manifestou misericórdia”.
Jesus diz, se entendes isso, se percebes que o amor de Deus se manifesta no nosso amor para com Ele e para com o próximo, faz tu o mesmo. Mostra a tua fé através das obras.
Compreende a justificação pela fé e manifesta justiça para o teu próximo.
1ª Lição
O Evangelho obriga-nos a praticar justiça social.
Isto é, ajudar aqueles que não podem a terem as mesmas condições que nós.
Em termos práticos, ajudar as pessoas a terem comida, a terem roupa, igualdade de oportunidade num emprego, a não serem descriminados por causa do género, do nível social, etc.
No entanto, nunca esquecendo que a maior necessidade que as pessoas têm é de conhecer o Evangelho.
Por isso a nossa responsabilidade primária como cristãos é de tornar o nome de Deus conhecido. Sempre.
No entanto, o Evangelho tem as suas consequências. E a justiça Social é uma delas como tantas outras.
Não acreditamos no Evangelho Social, porque o fim último do mesmo é ajudar os pobres e não levar os pobres até Cristo.
Um dos fundadores do Evangelho Social, Walter Rauschenbusch (pastor baptista alemão), percebe a pobreza do bairro em que vivia, achando que o evangelismo tradicional apenas queria a salvação das almas mas não fazia nada pelos famintos.
Rapidamente passa por querer ajudar os mais necessitados dizendo que isso é o fim do Evangelho retirando o valor da expiação de Cristo chegando a dizer que Cristo não teve que satisfazer a Ira de Deus.
Morreu como um homem altruísta porém não mais do que isso. Para ele o Evangelho coloca o homem no centro e não Cristo.
No entanto, pelo que lemos na Bíblia, também é impossível termos um encontro com Cristo e não ajudarmos os mais necessitados.
2ª Lição
Quem será o nosso próximo? Apenas os crentes?
Realmente temos de ter mais cuidado com os domésticos na fé, mas no entanto o Evangelho obriga-nos a ajudar todos sem excepção.
Esta parábola é a prova disso.
Ajudar os mais necessitados sejam eles nossos amigos, inimigos ou até mesmo desconhecidos. Correndo riscos até se necessário.
Porque devemos ajudar a quem não merece? A nossa resposta será sempre através da Justificação pela Fé.
Cristo não nos ajudou? Nós merecíamos? Éramos bons? No entanto, Ele deu a Sua vida por nós.
Algumas objecções são levantadas quando queremos ajudar os mais necessitados.
Jonathan Edwards responde de uma forma muito clara a essas objecções.
1ª Objecção: São necessitados mas não vivem na miséria.
Resposta: Jesus diz para amarmos o próximo como a nós mesmos. Esta é a medida. Então não precisamos de deixar as pessoas chegar à fome para então as ajudarmos.
2ª Objecção: A vida já é difícil e não tenho nada para dar.
Resposta: Na parábola do bom samaritano, aprendemos que o amor verdadeiro envolve risco e sacrifício e quando dizemos que “A vida já é difícil e não tenho nada para dar” apenas estamos a dizer que não podemos porque vai atrapalhar o meu estilo de vida e o meu conforto pessoal.
Temos de nos ajudar mutuamente e a levar as cargas uns dos outros. Como queremos ajudar o próximo se isso não envolver sacrifício?
Ausência de preocupação com os pobres, geralmente é sinal de que o nosso coração está pobre.
3ª Objecção: O pobre tem mau carácter e é ingrato. A pobreza é culpa deles. Ajudamos e eles voltam ao mesmo. Meteu-se em confusão, agora saia de lá sozinho.
Resposta: Nós também tínhamos mau carácter, éramos maus, indignos de qualquer bondade, e continuamo-nos sempre a meter em confusões. Apesar disto tudo, Cristo entregou-se (vida) por nós e ama-nos profundamente de uma forma incondicional.
A justificação pela fé leva-nos à justiça social. Não com base nos méritos do próximo, mas com base naquilo que Cristo fez por nós.
Deus não nos trata com a justiça que merecemos, mas com a justiça do próprio Cristo. Salva-nos pela Sua Graça. Quem somos nós para lidarmos com os outros com a justiça que eles merecem?
Se criticamos as pessoas pelas situações em que estão, sem querermos ajudar a dar a volta, estamos a ser como o fariseu e não como o publicano.
“Graças de dou Deus por não ser como aquela pessoa”.
3º Lição
Às vezes estamos tão preocupados connosco e com os nossos filhos que não conseguimos ver as necessidades do outro.
Queremos poupar porque tememos o dia de amanhã. Talvez o Senhor não seja connosco (Maná no AT).
Não falamos aqui de mordomia, porque devemos ser bons mordomos, mas se querermos poupar porque tememos o amanhã alguma coisa está errada com o conceito que temos de providência.
Quando o nosso celeiro está cheio e lidamos com os outros de uma forma despreocupada, é porque, em certo sentido, achamos que cada um tem o que merece.
Temos que compreender e viver com uma atitude de pura gratidão, porque tudo o que temos e somos é devido à Graça de Deus.
O que deixaríamos de fazer para os nossos deleites para ajudar alguém?
Ajudamos quando essa ajuda não afecta a nossa vida pessoal?
Confesso que ainda estou a aprender a lidar com os outros, porque com os filhos é bem fácil (botas).
Em toda a Bíblia, praticar a justiça mostra-se no nosso viver diário para com todos, para com o nosso próximo.
Tim Keller “Quando o Espírito nos capacita a entender o que Cristo fez por nós, o resultado passará por ser vivida uma vida dedicada a obras de justiça e compaixão pelos pobres”.
Em Provérbios 14:31 lemos que insultamos a Deus quando desonramos os pobres e honramos a Deus, quando honramos os pobres.
Fazer aos pobres não é uma forma de conseguirmos a salvação (“O que eu posso fazer?”) mas um sinal de que fomos salvos em Cristo Jesus.
Em Gálata 6:10 percebemos que ajudar a todos é um mandamento e não uma opção.
Jesus usa o judeu como o necessitado, para que os seus ouvintes se coloquem no lugar do necessitado…
 A nossa atitude muda quando mudamos as perspectivas.
Enquanto houver necessidades dentro da Igreja, é porque a Igreja não está a ser Igreja.
O Evangelho é Cristo. Entender a obra de Cristo obriga-nos a fazer justiça com todos especialmente com os domésticos na fé. Isto é uma consequência do próprio Evangelho e não o Evangelho.
O que estamos a fazer pelos mais necessitados? Apenas fazemos quando podemos? Ou estamos dispostos a correr riscos e esforçarmo-nos para que tal aconteça?
Cristo deu a Sua vida por nós. O que nós estamos dispostos a fazer pelos outros?

Apenas uma última nota… Devemos ajudar os mais necessitados não esperando que haja gratidão ou conversão. 

Série "Justificação pela Fé" e o relacionamento com o próximo.

Lucas 18:9-14
Parábola --> Histórica simbólica para transmitir uma lição de moral.
9 – “A uns que confiavam em si mesmos”
Deus mexe naqueles que confiam em si próprios.
Deus mexe para percebermos que é Ele quem tem de estar no centro da nossa vida.
Entramos aqui num ponto muito importante. Nós achamos que Deus criou-nos para a nossa realização pessoal e nunca vemos tal acontecimento escrito na Palavra de Deus. Deus criou-nos para a Sua glória para vivermos para Ele (I Cor. 10, Col. 1)
Deus nos chega? Será que Deus é suficiente para nós?
É para estas pessoas que o texto fala.
Obviamente que todos nós achamos que Deus nos chega. No entanto, como vimos a semana passada, muitas das nossas atitudes e comportamentos não revelam isso.
“Crendo que eram justos”
Rectos; Adequados; Gentis; tudo do melhor.
Isto é, para aqueles que se achavam bons.
Quantas das vezes não nos achamos bons? Quantas das vezes não nos achamos auto-suficientes?
Eu sou o que quero ser ou sou aquilo que Deus quer que eu seja?
“Desprezavam outros”
Interessante a ideia que o texto transmite. Achavam-se bons mas desprezavam outras pessoas. Contra-senso.
Lembre-se que a confiança em si próprio não o leva a lado nenhum. Destrói relações, traz-lhe angústias e depressões.
A sobranceira cega-nos.
O nosso Ego não permite perceber o que se passa à nossa volta.
V10 “Dois homens foram ao templo para orar. Um deles era fariseu e o outro era publicano”.
Fariseu--> Membro de um grupo religioso judeu. Seguidores rigorosos do Rei. Não acreditavam que Cristo era o Messias.
Publicano--> Judeu que cobrava impostos para o governo romano. Eram desprezados por serem desonestos.
11- “Estando em pé orava consigo desta maneira”
Algo para si próprio. Era uma oração que falava mais de si do que de Deus. Falava mais das suas capacidades do que de quem Deus era. Vejamos:
“Óh Deus graças te dou”
Muitas orações até têm as palavras correctas. E toda a oração deve começar com gratidão.
“Porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos, e adúlteros”.
Era uma oração pela sua exaltação pessoal.
As orações não são para a nossa exaltação pessoal mas para a exaltação de Deus. Temos exaltado a Deus nas nossas orações*?
Ou agradecemos apenas quando achamos que somos dignos de receber algo?
A verdadeira gratidão acontece quando estamos encantados com Deus pela sua pessoa e nos sentimos atraídos a Ele. Agradecemos tudo o que nos acontece, porque sabemos que Ele é Soberano.
John Piper “Se não somos cativados pela personalidade de Deus e pelo Seu carácter, todas as nossas declarações assemelham-se à gratidão que uma esposa expressa ao seu marido pelo dinheiro que recebe dele, para usar no seu relacionamento com outro homem”. O ponto aqui é agradecer as bênçãos e as usamos para os nossos deleites (Tiago).
Por outro lado, as orações também não servem para rebaixar as outras pessoas mas para rebaixarmo-nos a nós próprios, como iremos ver, combatendo assim o nosso orgulho.
A nossa capacidade para elevarmos a nossa pessoa é por demais evidente.
Ao dizermos “Não sou como” simplesmente estamos a dizer: Logo eu sou bom, logo em mim há capacidade, logo eu sou auto-suficiente.
Numa certa discussão com uma pessoa cristã com vários anos de Igreja, ela dizia que Cristo tinha ido à Cruz porque nós éramos bons.
Se assim fosse, a seguinte pergunta coloca-se:
Então precisamos de Deus para quê?
“Nem sou como este publicano”
Agradecer a Deus porque não somos como aquela pessoa... Quão horrível isto soa, quão horrível pode significar esta frase, quão horrível saber que este tipo de orações existe...
Se pensarmos bem, de forma inconsciente, a fazemos muitas vezes.
Nós não somos melhores do que ninguém.
A justificação pela fé é a prova evidente que não somos melhores do que ninguém, porque tivemos que ser inocentados pelos méritos de Cristo e não pelos nossos méritos.
Nós não podemos valorizar a nossa pessoa em detrimento de alguém.
Logo eu não tenho que pensar que sou bom. Nem o chegarmos a Deus é obra nossa. É tudo da Sua iniciativa para que ninguém se possa gloriar.
Pensamos que é pelo cumprimento dos mandamentos que somos salvos ou que Deus se agrada de nós. Se assim fosse, seríamos bons e aí Deus agradava-se nas nossas vidas.
Noutra perspectiva, Tim Keller diz “Se fizermos coisas erradas chama-se pecado. Mas se fizermos tudo certo e não for para a Glória de Deus também é pecado”.
Rom. 14:23 “Tudo o que não provém da fé é pecado”.
Mostramos essa fé através da obediência à Sua vontade.
“Sereis meus amigos se fizerdes a vontade do meu Pai”.
Há pessoas que pensam que estando a trabalhar para Deus são automaticamente salvas. “Em teu nome... afastem-se, não vos conheço”.
A nossa obediência é um mero cumprimento ou é algo que brota da nossa intimidade com Deus?
Precisamos da graça de Deus. Precisamos de ter intimidade com Ele, mostrando assim quem está no centro da nossa vida, das nossas acções. Por vezes procuramos fazer as coisas para agradar alguém e não para agradar a Deus, isso é errado.
Pensamos que Deus enviou o Seu filho para dar-nos uma boa vida, mas não, Deus enviou o Seu filho para dar-nos Vida e Vida em abundância.
Cristo não foi à cruz com o objectivo de não termos sofrimento na vida eterna (o que é verdade) mas para termos adoração em intimidade com o Pai.
Conforme temos visto, ao falarmos com muitos cristãos, eles apenas desejam o céu porque temem o inferno. Querem ir para o céu, porque lá não há sofrimento.
Quando assim é, estamos preocupados centrados em quem? Estamos a valorizar o Eu, em vez de colocar a ênfase do criador e sustentador de todas as coisas.
Sintomas da valorização do Eu?
(Imagem: Pequeno-almoço início de casado)
Trave e o Cisco.
Sendo assim a maledicência/crítica é um sintoma e é algo que não é visível porque também, erradamente, não é assumido como pecado, o qual tem efeitos nefastos.
Normalmente os maledicentes são orgulhosos e batem no peito e dizem “obrigado Deus porque não sou como os demais”.
É difícil lidar com pessoas que batem com a mão no peito e dizem que são bons. Prefiro lidar por vezes com um ímpio do que um falso cristão.
Jesus veio para os doentes e não para aqueles se se acham sãos.
V.12 “Jejuo duas vezes por semana”
A lei de Moisés apenas obrigava uma vez por ano a jejuarem, no dia da Expiação.
O que quis dizer este homem?
Eu sou cumpridor, logo em mim há capacidade.
Deus eu faço mais do que aquilo que tu me pedes, logo tu deves-me algo. Tu precisas de mim.
Sabem que tipo de pessoa é esta? Aquela pessoa que acha que Deus tem que fazer tudo à maneira dela, porque é Filho de Deus.
Não somos assim? Porque é que isto está a acontecer a mim? Eu não sou teu filho?
Expressões como “Isto só me acontece a mim; Parece que o mundo inteiro se uniu para me tramar” são sintomas disso.
“Dou o dízimo de tudo o que possuo”
Eu até dou o dízimo... Uma das coisas mais complicadas para os cristãos (*).
Nós pensamos que é pelo que fazemos que merecemos mais a graça de Deus (*).
Deus dá-nos quando Ele quer, no Seu tempo, da Sua forma.
Deus tem o melhor para a Sua vida. Nunca se esqueça. Deus é Bom.
Caímos tantas vezes no erro de dizer “Oh Deus mas eu...”.
Não coloque ênfase nas suas necessidades ou na sua pessoa mas em Deus.
Rom 1: “Adoração à criatura e não ao criador”.
Quando isso acontece?
Quando damos mais importância áquilo que nós queremos e não ao que Deus deseja.
V13 “Estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu”.
O publicano, que era rejeitado, tem uma atitude muito interessante, atitude essa que não era pensada para agradar mas que brotava dento de si.
Ele reconhecia a santidade de Deus e a sua miserabilidade. Ele reconhecia que até mesmo falar com Deus não algo que fosse digno.
 Reconhecia que nada era, reconhecia que os seus feitos para nada prestavam, ainda que pudessem ser bem vistos aos olhos dos seus colegas ou responsáveis.
A ênfase não estava nele mas em Deus.
“Mas batia no peito dizendo: Óh Deus, tem misericórdia de mim que sou pecador”.
Deus eu nada mereço pois sou pecador. Tem misericórdia de mim (não me dês o que mereço).
O publicano reconhece assim a sua miserabilidade.
A Justificação pela fé, obriga-nos a este reconhecimento.
O ego era baixo. O eu não reinava na vida deste publicano.
Ele não falava de si (protagonismo) mas da sua necessidade de Deus.
Interessante que muitas das vezes ao ouvirmos falar um cristão, percebemos mais os seus feitos (vanglória) do que a exaltação daquele que lhe deu força para tais coisas.

John Stott “O testemunho não é um sinónimo de autobiografia. Quando estamos realmente a testemunhar, não falamos de nós mesmos, mas de Cristo”.
Não fale dos seus feitos mas dos feitos de Deus.
Não fale dos aspectos positivos de si mas o que Deus fez em si e através de si.
O Evangelho é Deus e não nós. O centro do Evangelho é Cristo e não nós.
V14 “E Jesus concluiu: «Afirmo-vos que o cobrador de impostos foi para sua casa justificado aos olhos de Deus”.
Foi justificado - Declarado inocente. Absolvido diante o tribunal mesmo sendo culpado. Temos visto o que significa isso.
“Aquele que se exalta será humilhado”
Não exalte a sua pessoa ou os seus feitos.
Não pense que é melhor do que o irmão que está ao seu lado. Se pensar Deus o humilhará.
“Aquele que se humilha, Deus o exaltará”
Reconheça a sua pequenez, reconheça que falha. Se o irmão ao seu lado falhar, lembre-se que também falha.
A justificação pela fé obriga-nos a entender que todos falhamos e que por isso todos necessitamos da Graça de Deus.
A cruz de Cristo mostra que todos nós pecámos.
Nada que alguém lhe tivesse feito se compara áquilo que fez ao Senhor Deus*.
Não há um justo (perfeito), nem um sequer.
Não fale mal dos outros ou da vida dos outros, dizendo que não era capaz de fazer tal coisas, pois assim está a ser um fariseu e não um publicano.
Perceba que as pessoas precisam da graça de Deus mas principalmente o principalmente necessitados somos nós (individual).

Aplicando…
1º Na justificação pela fé percebemos que todos nós falhamos e precisamos da Graça de Deus.
Então, serei misericordioso com quem falhar, porque eu também falho noutras áreas. Não significa isto permissão para viver no pecado, conforme vimos na semana passada, significa sim que entendemos que as pessoas também falham.
2º Quando achamos que somos alguém por causa de algo que tenhamos feito, ou pelo nosso estatuto social ou pelo nosso nível de conhecimentos, mostramos apenas que ainda não percebemos a mensagem da cruz.
Como saber disso?
É muito fácil cair no gozo barato sobre alguém. Exemplos: Ou porque tem poucos estudos, ou porque não sabe falar e o português é fraco, ou porque pecou… Tantas coisas que poderíamos dizer.
Ser Igreja é entender a justificação pela fé e perceber que estamos todos no mesmo barco.
Por isso, somos contra qualquer tipo de gozo para com alguma pessoa.
Demonstrar Graça na forma como nos relacionamos.
3º As nossas vidas devem apontar a Cristo reconhecendo assim a nossa fraqueza face àquele a quem adoramos.
I Cor. 12 --> Ser forte, ser fraco, poder na fraqueza.
Viva para a Glória de Deus em tudo o que fizer.

É um fariseu ou um publicano?
Reconheço que era melhor pensarmos que somos fariseus mas com vontade e desejo de sermos publicanos.

Que Deus nos possa abençoar. 

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Pregação... Justificação e a Santificação.

Hoje entramos na Justificação pela Fé e a Santificação.
Definindo alguns termos…
Santificação - Viver conformado segundo a imagem de Cristo, e viver a vida percebendo o propósito para o qual fomos criados. “Criados à Imagem de Deus”. É um processo incompleto.
Santo – Viver separado para Deus em todos os seus domínios. Está relacionado com a nossa posição perante Deus.
Somos Santos (separados) para vivermos num processo de santificação. Tudo será pleno e completo quando tivermos com Cristo.
Justificação, acto único, relaciona-se com o passado. Santificação, acto constante, relaciona-se com o presente.
Romanos 5:20-6:2         
“A lei veio fazer aumentar mais o pecado. Mas quanto mais aumentava o pecado, mais abundava a Graça de Deus. De modo que assim como o pecado reinou na morte, também a Graça de Deus reina pela justiça para a vida eterna por Jesus Cristo, nosso Senhor. Que diremos então? Vamos continuar a viver no pecado para manifestar-se mais a graça de Deus? De modo nenhum. Nós que morremos para o pecado, como poderíamos ainda viver nele”.
Depois de Paulo explicar o que é a Justificação pela Fé, nos 5 versículos anteriores, ele começa a responder a algumas dúvidas que pudessem surgir.
PrimeiraComo já estavam justificados (declarados inocentes no tribunal) então podiam fazer o que queriam. O decreto estava dado logo podiam viver como queriam.
Segunda questão - Passava por explicar a questão do pecado e da Graça. Se a Lei mostrava o pecado e a incapacidade de manter os padrões de Deus, a Graça seria ainda maior para cobrir esses pecados. Então, segundo essa ideia, vamos pecar para que possamos sentir ainda mais a graça de Deus.
Ao falar nisto, lembro-me sempre de um casal de Tondela (não da Igreja) que quando os víamos na rua de mãos dadas e aos beijinhos, era porque em casa tinha havido desavença.
O ponto é este… É bom fazer as pazes com o meu marido, porque depois ele é muito querido para mim (coitados dos casamentos que precisam de confusões para haver esta “paz”).
Paulo responde a estas questões falando da permanência no pecado. Diz ele: “Vamos permanecer no pecado?”
Relembrar que em termos bíblicos, pecar e viver no pecado são diferentes no seu significado.
O que significa permanecer?
Em I João, conforme o texto lido, a ideia de permanecer no pecado está relacionado com fazer do pecado um hábito de vida.
A ideia aqui não é pecar, acto isolado, sendo que depois existiu arrependimento, mas sim de viver pecando.
O tempo no original está no presente e no grego este tempo verbal tem a ideia de continuidade.
Percebemos então que o filho de Deus não pode usar a desculpa de ser fraco para permanecer no pecado.
“Todos pecamos qual o problema então?” “Todos temos telhados de vidro”, “Aquele que nunca falhou que atire a 1ª pedra” são expressões usadas para desculpar muitas vezes a vivência no pecado.
A carne ser fraca não serve de desculpa para a vivência no pecado.
A carne ser fraca é sinal sim do nosso reconhecimento face à necessidade da Graça de Deus diária para que a mudança em nós possa acontecer através da acção do Espírito Santo.
A lei de Deus obriga-nos a ter responsabilidades para com Deus e para com o próximo.
Nunca na Bíblia o Amor serve para aceitar todas as situações como se nada fosse.
A “doutrina do Amor”, mal interpretada, é capaz de ser uma das ideias mais perigosas no seio da Igreja.
O verdadeiro amor confronta o pecador.
Lemos também nestes versículos que Paulo refere que nós já morremos para o pecado e por isso essa não pode ser a nossa vivência. O que significa isto?
A palavra “morremos”, o tempo do verbo no original, está no Aoristo. Significa isto que é uma acção que está completa, acabada.
Então, como sabemos que Cristo morreu no nosso lugar, percebemos que em Cristo também morremos para o pecado.
A justificação, como vimos na semana passada, é a prova disso.
Logo, não estamos escravizados.
Somos capazes de resistir ao pecado e lutar para que a nossa vida espelhe a pessoa de Jesus Cristo.
V3 Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos baptizados em Cristo Jesus fomos baptizados na Sua morte?
Sabemos que não é o baptismo que salva porque quem salva é Cristo. No entanto, o baptismo representa o verdadeiro baptismo que houve aquando a nossa conversão.
Isto é, fomos “imersos”, sentido figurado, na pessoa de Jesus Cristo e a consequência disso passará por estarmos unidos a Ele, existindo assim uma identificação com a Sua pessoa.
Nota: Daí entendermos o texto em Marcos 16:16 “Quem crer e for baptizado será salvo”. Ou seja, não é o baptismo nas águas mas o baptismo (união) na pessoa de Jesus.
V4 “Fomos, pois, sepultados com Ele na morte pelo baptismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentro os mortos para a Glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.
V5 Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição;  
V6 Sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado.”.
A condição prévia para andarmos em novidade de Vida (santificação) é a justificação.
Apesar de a Justificação acontecer uma vez e a Santificação ser um processo, com altos e baixos (terminando apenas com a nossa partida para o céu), uma coisa gera a outra.
Na Justificação começa imediatamente a Santificação. Não há como contornar esta verdade perante este texto bíblico.
Se houver justificação estaremos certos e seguros que vamos ser santificados (presente) e glorificados (futuro).
O baptismo na água representa aquilo que aconteceu connosco em Cristo. 3 Acções aquando a nossa justificação. Morrer para o pecado (entrada); Sepultar o pecado (dentro de água); Ressuscitar para uma nova vida (Saída da Água).
Mais uma vez vimos a ideia que não servimos ao pecado mas servimos a Cristo.
Servimos a quem nos satisfaz. Ou a Cristo ou ao pecado.
V7 Pois quem está morto para o pecado está justificado do mesmo.  
Sendo assim, Deus vê-nos mortos com Cristo na cruz e por causa disso, somos considerados e tratados comos inocentes embora sendo culpados.
V8 Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com Ele viveremos.  
Em Cristo temos a certeza que morremos para o pecado e também que iremos viver com Ele, quer aqui como também para todo o sempre.
Ou seja, enquanto formos vivos e estivermos aqui, devemos viver a vida como Cristo viveria.
Face ao que é escrito nos capítulos anteriores, Paulo demonstra através destes versículos que mesmo aqueles que já têm a sua alma com Cristo, o corpo também irá ressurgir.
A verdade é que não sabemos muito bem como vai ser tudo, mas de algumas coisas temos já a certeza e essas acalmam o nosso coração…
Quem já morreu a sua alma já está com Cristo.
Quando Cristo vier novamente virá buscar os Seus filhos que estão vivos.
Os corpos dos que já morreram irão ressurgir.
Iremos todos juntos viver a eternidade.
Podemos ler sempre mais no livro de Tessalonicenses e I Coríntios 15.
V9 Sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele.  
V10 Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus.  
V11 Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. 
Mais uma vez vimos uma certeza que nos acalma o coração.
Cristo morreu para o pecado em 3 sentidos:
Cristo cumpriu as exigências da santidade de Deus no lugar do pecador. Foi 100% eficaz.
Destrui o efeito que o pecado tem sobre nós.
Cristo morreu uma vez e esse sacrifício nunca mais precisará de se repetir.
Então, mostramos que já morremos para o pecado quando vivemos a nossa vida buscando Santificação. Não desistindo nunca desta luta.
A Santificação é a prova evidente de que morremos com Cristo para o pecado, porque a justificação é eficaz começando aí o processo da nossa Santificação.
V12 Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas paixões;  
13 Nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça.   
Todo o pecado mostra uma profunda insatisfação com Deus, porque o pecado tem o objectivo de nos retirar a alegria e o prazer de viver com Deus.
O pecado, por vezes, é associado apenas a coisas más e chocantes. No entanto, o pecado é, muitas vezes, belo, saboroso e oferece coisas que estão fora da vontade de Deus para nós.
O pecado cega porque faz-nos apaixonar por ele. De tal forma, que, muitas vezes, somos confrontados com essa realidade e a negamos de imediato, porque intimamente desejamos esse pecado.
Como lutar contra o pecado?
Oração, leitura da Palavra, cânticos e evangelização.
No entanto, a principal forma, e à luz destes versículos, passa por olhar para o que Cristo fez por nós na Cruz.
Na sua luta com o pecado olhe para a Cruz.
Cristo amou-nos ao ponto de dar a sua vida e nós amamos ao ponto de quê?
Precisamos de buscar, cada vez mais, a santidade…
14 Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça.
Estamos libertos do pecado… Do seu domínio e da sua condenação. Fomos libertos por Deus para vivermos para Deus através da Obra de Cristo.
Como não amar a Deus?

Aplicando…
Apesar de o pecado não nos dominar, nós temos de dominar o pecado, isto é, temos de lutar contra ele. É uma luta constante, mas em Cristo temos liberdade e força para a vencer.
O pecado na vida do cristão deve ser considerado a excepção e não a regra.
Se tratamos o pecado por tu (Intimidade) é porque já estamos a tratar o Espírito Santo por você.
É o fruto do Espírito Santo que nos domina e não o nosso temperamento.
Em 1975 surgiu uma novela chamada Gabriela e uma parte da letra dizia “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim”.
O complexo Gabriela existe muitas vezes na nossa vida.
Não é por acharmos que somos de determinada forma, que não estamos em pecado.
O Espírito Santo habita em nós para nos transformar diariamente dando-nos força para lutarmos. Não estamos sós.
Não devemos dizer que estamos livres de pecar mas também não devemos desistir de lutar.
A luta contra o pecado é sinal da santificação a operar nas nossas vidas por causa da justificação que existiu.
É porque nos consideramos fracos que precisamos da Graça de Deus para não pecarmos.
Todo o pecado diz a Deus que não está satisfeito Nele.
Se o nosso conhecimento da Palavra não redundar em santificação, para nada vale.
Olhe para a Cruz e seja cada vez mais como Cristo…
Termino com um trecho do Padre António Vieira, conhecido como o Sermão do 4º domingo da Ascensão:

"A mim a imagem dos meus pecados comove-me muito mais que essa imagem do Cristo crucificado. Diante dessa imagem do Cristo crucificado eu sou levado a ensoberbecer-me por ver o preço pelo qual Deus me comprou. Diante da imagem dos meus pecados é que eu me apequeno por ver o preço pelo qual eu me vendi. Por ver que Deus me comprou com todo o seu sangue, eu sou levado a pensar que eu sou muito, que eu valho muito. Mas quando noto que eu me vendo pelos nadas do mundo, aí eu vejo que eu sou nada. Eu valho nada."

Somente a Graça de Deus…

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Nova Série... "Justificação pela Fé" .

Hoje: Justificação pela Fé e o seu significado
Justificação e a Santificação
Justificação e o Próximo
Justificação e a Justiça Social

Romanos 3:21 Mas agora Deus mostrou-nos como é que as pessoas são justificadas por Ele, sem ser por meio da lei.
O apóstolo Paulo ao longo do capítulo 1 e 2 tem como objectivo mostrar que nenhum homem jamais poderá justificar-se diante de Deus.
Por quê? Nenhum homem seja judeu ou gentio, conseguirá observar toda a lei para ser considerado inocente diante de Deus.
Em Tiago 2:10 lemos o seguinte: “Pois aquele que cumpre os mandamentos da lei, mas despreza um só deles, é como se os tivesse desprezado a todos”.
Então, basta falhar uma vez para com a Lei e é como se tivéssemos falhado com toda a Lei dada por Deus. Isto é, basta pecarmos uma vez e estamos logo em rebelião para com Deus.
Paulo sente a necessidade de mostrar claramente a depravação total do homem e, por conseguinte, a sua rebelião para com Deus.
Deus criou-nos para a Sua Glória, no entanto, a rebelião mostra de uma forma evidente, que o homem em vez de adorar o criador adora a própria criatura. E, por causa disso, Deus os entregou às suas próprias paixões (pior coisa).
Se tivermos esta noção na nossa vida, teremos a prova inequívoca da acção do Espírito Santo em nós. Apenas perceberemos quem Deus é quando compreendermos a nossa falência espiritual.
Paulo, nestes versículos, muda o seu discurso para um plano que traz Esperança e, por conseguinte, conforto.
Ele usa a expressão “mas agora” para salientar essa mudança.
É como se fosse dada uma notícia terrível, mas depois se ouvisse o seguinte: “Calma. Há Esperança. Há Segurança e Conforto”.
Essa esperança e conforto passava por saber que as pessoas, independentemente da sua nacionalidade, não são justificadas pelo cumprimento da Lei, mas são justificadas pelo próprio Deus.
Ao saberem disto, perceberiam então a sua falência espiritual para com Deus, ao não cumprirem a Lei.
No entanto, significa isto que a Lei não mais interessa? Que não temos que observar a Lei? Será que no AT as pessoas eram salvas pela observância da Lei?
Comecemos por perceber que no AT ninguém foi salvo pelo cumprimento da Lei isto porque ninguém jamais foi perfeito.
Então, mesmo no AT as pessoas eram salvas pela Graça de Deus e não pela observância da Lei.
No entanto, tinham de observar 3 Leis: A lei cerimonial, civil e moral.
Será que as 3 continuam nos dias de hoje?
A “Lei Civil” terminou quando o povo de Israel deixou de ser o da própria raça e passou a ser o Israel espiritual. Ou seja, nós hoje somos Israel espiritual. Então, as leis civis daquele tempo terminaram ainda que possamos aprender várias lições com as mesmas.
A Lei cerimonial foi completa em Jesus Cristo.
O Livro de Hebreus é uma excelente lição para nós de que já não precisamos observar a lei cerimonial (ex: animais) porque Cristo é o cumprimento dessa lei e a satisfez plenamente.
E a lei moral?
Romanos 6:14: Diz que já não estamos debaixo da Lei, mas sim da Graça. O que significa isso?
Para o cristão, a Lei já não é mais instrumento de condenação porque fomos libertos por Cristo Jesus, porque Cristo cumpriu a lei integralmente no nosso lugar.
No entanto, apesar de ter terminado a lei cerimonial em Cristo, Ele não aboliu a lei moral do AT.
Nós agora temos liberdade, dada pelo Espírito Santo, para vivermos uma vida que agrada ao próprio Deus.
Como sabemos se estamos a agradar a Deus? Quando cumprimos a Sua vontade.
Como conhecemos a Sua Vontade? Através da Lei moral que é uma expressão do próprio carácter de Deus.
Esta lei, segundo Salmos 1, é algo que traz alegria aos filhos de Deus e por isso temos prazer em meditar nela.
Jesus não veio dar uma nova lei mas uma nova interpretação da Sua lei que era equivocada na sua interpretação.
Jesus não veio abolir mas cumprir a lei no nosso lugar (Mateus 5:17).
não estamos debaixo da Lei porque a Lei já não nos traz condenação, e sabemos, porque a Palavra o diz em Rom. 8:1, que nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus.
No entanto, servirá para condenação para aqueles que não estão em Cristo Jesus. Porque é impossível sermos justificados (declarados inocentes) pela observância da Lei. Daí a vinda de Cristo até nós.
Sabemos que a Lei moral se mantém nos dias de hoje e que não podemos ser justificados pela própria Lei.
No entanto, ainda há um problema a resolver.
Deus justifica quem e como? Por meio de quê? Por causa de quem?
22 Deus faz com que as pessoas sejam justificadas por meio da fé em Jesus Cristo. É assim para todos os que crêem em Jesus Cristo, sem haver diferença de pessoas.
Como ser justificado diante de Deus? Será que todos sem excepção serão justificados? Será que Cristo cumpriu a Lei por todos? Como resolver estas questões?
Como Deus justifica as pessoas?
Foi através destes versículos que Lutero chegou à fé e foi a partir dos mesmos que chegou à compreensão que a justificação só acontece por meio da fé.
Vimos que ao não conseguirmos cumprir a Lei estamos manifestamente em rebelião contra Deus e por isso todos somos considerados pecadores.
Face a essa rebelião, e porque Deus é justo, a Sua ira tinha que se manifestar sobre todos os que não cumprem a Lei.
Diante do tribunal, todos somos considerados culpados e merecedores da condenação/Ira de Deus (relembrar que no início do texto mencionámos que estas palavras traziam esperança).
Onde começa a Esperança? A Esperança começa por se perceber que Cristo cumpriu a Lei. Diante de Deus, Ele foi achado inocente.
Diz-nos o texto, que Deus faz com que as pessoas sejam consideradas inocentes, embora sendo culpadas, por meio da fé em Jesus Cristo.
Então, a forma que temos para sermos salvos é acreditarmos que Cristo cumpriu a Lei no nosso lugar e que levou sobre Si, a Ira de Deus que estava destinada a nós. Isto é Fé. Já falaremos um pouco mais à frente sobre a Fé.
No AT os sacerdotes tinham que pôr as suas mãos sobre o cordeiro que estava a ser sacrificado.
A simbologia deste acto mostrava que os pecados do povo estavam a ser lançados sobre o animal.
Tudo isto aponta à pessoa de Jesus, que de facto é o verdadeiro Cordeiro de Deus.
Ao manifestarmos fé em Jesus e no Seu sacrifício, estamos a lançar então sobre Ele os nossos pecados.
II Cor. 5:21 “Cristo não tinha cometido pecado, mas Deus, para nosso bem, tratou-o como pecador para que nós, em união com Ele, pudéssemos ser considerados justos/inocentes por Deus”.
23 Todos pecaram e estão privados da glória de Deus.
O tempo verbal da palavra “pecaram” no grego está no Aoristo, tempo que não existe no nosso português. Expressa uma acção completa. Então, em Adão todos somos culpados (Pecado Original).
No entanto, a palavra “privados” ou “carecem”, cujo tempo no original está no presente, transmitem a ideia de continuidade.
Qual a diferença? O pecado é algo real e completo que aconteceu anteriormente. Porém, a necessidade da Glória e presença de Deus continua bem presente nos nossos dias…
Sendo assim, todos temos a necessidade incessante da Glória de Deus porque a Sua Glória satisfaz-nos plenamente
Normalmente esta é a minha oração… “Bom Deus, enche-nos com a tua Glória”.
24 Sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus.
A justificação, pela qual Deus nos considera inocentes por causa de Cristo, será sempre por causa da Sua Graça (Deus dá-nos o que não merecemos).
Isto é Amor…. Do mais sublime que há.
Em Cristo temos então Redenção.
A imagem desta palavra, no original, vem do antigo mercado de escravos e significava o pagamento do resgate necessário para obter a libertação do prisioneiro ou escravo.
Então, nós que éramos escravos do pecado por causa de não cumprirmos a Lei, fomos comprados por Cristo, com a Sua vida.
Foi pago um resgate… Com o Seu sangue (Ouvir dizer “É meu”).
Fomos resgatados de quê? Da escravidão do pecado.
25 Ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça por ter ele na sua paciência, deixado de lado os delitos outrora cometidos;  
Lemos neste versículo “Ao qual Deus propôs”. O que significa isto? A iniciativa é do próprio Deus que planeou tudo isto antes da fundação dos mundos. Entregar o Seu filho Jesus para ser a propiciação pelos nossos pecados.
Conforme vimos quando estudámos Filipenses, no Antigo Testamento, a palavra “Propiciação” era usada para o topo da Arca da Aliança no dia da expiação, quando o sangue do boi e da cabra eram derramados, para apaziguar e afastar a ira de Deus. Deus tinha ordenado esse sacrifício para isso.
Contudo, será que o sangue dos animais satisfaria a Ira de Deus no AT? Porque não o fazemos agora? Porque teve que vir Cristo em vez de continuarmos a sacrificar os animais?
Segundo Hebreus 10:4 Porque é impossível que o sangue de touros e bodes remova os pecados.
Não era possível porque isso não satisfazia a Ira de Deus, apenas a apaziguava.
Para pagar a dívida e tornar Deus favorável ao ser humano, era preciso sangue de um Homem que fosse perfeito e Santo (Sem pecado) - Hebreus 9:22.
Então a lei serviu de aio (caminho), segundo Gálatas 3:24, para mostrar os nossos pecados.
Ao termos essa noção pela Lei, sentimos a necessidade de termos um Salvador porque precisamos que Deus seja propício, favorável, para connosco.
Os animais eram apenas uma estrada para a pessoa de Jesus Cristo. Ele sim era o Supremo Cordeiro sem qualquer mácula.
Em João 1:29 lemos como João Batista fala de Cristo: “No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
No entanto, a Ira de Deus também tinha de ser satisfeita como manifestação da Sua própria Justiça. Sem Ira manifestada não há justiça.
Sem compreendermos a noção da Ira de Deus, nunca iremos compreender a Sua Graça.
Por isso, Cristo foi à cruz sofrer a Ira de Deus no nosso lugar para que nós pudéssemos ter acesso ao pai com a Justiça (perfeição) do próprio Cristo.
Além de Deus nos tratar como justos, ele age connosco como tal, por causa dos méritos de Cristo.
No entanto, conforme lemos no versículo, a justificação acontece por meio da fé e não por causa da fé.
Qual o resultado disto? Não basta dizer que Deus é amor e então por causa disso todos serão salvos (Universalismo).
Diz o versículo “daquele que tem fé”. O que é a fé?
A fé não é um mero conhecimento da verdade e muito menos acreditar que aquilo que mais desejamos irá acontecer.
A fé não é acreditar que o poder está em nós, porque se o fosse, teríamos motivos para nos orgulharmos.
A Fé é uma verdadeira confiança em Cristo e no que Ele fez por nós e pela nossa Salvação.
A fé é acreditar que somos pecadores e por isso precisamos da Graça de Deus.
Fé é acreditar que sem Cristo não teríamos hipótese alguma de sermos salvos.
Fé é perceber que é pelos méritos de Cristo e não pelos nossos.
Se fossemos salvos por causa da nossa fé e não por meio da nossa fé, a razão da nossa salvação éramos nós e não Cristo. Seria por causa das nossas obras e não por causa de Cristo.
Por isso, não temos nada que nos gloriar em nós mesmos. Apenas temos que nos gloriar em Cristo Jesus.
2 Coríntios 10:17 “Aquele, porém, que se gloria, glorie-se no Senhor”.
Como diz R. C. Sproul “Nós fomos salvos pelas obras, pelas obras de Jesus Cristo”.
Este é o meio pela qual podemos ter a justiça de Cristo e por conseguinte a “Paz com Deus” – Rom. 5:1.
Como ansiamos esta paz com Deus… (Diferente de paz de Deus*).
26 Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e também justificador daquele que tem fé em Jesus.  
Deus não podia inocentar os culpados sem manifestar a Sua Ira, caso contrário, não seria justo e não satisfazia a Sua Justiça.
A Santidade de Deus nunca pode pactuar com o pecado e por conseguinte, com o pecador não regenerado por Ele.
Mais uma vez o versículo refere que a Justificação acontece por meio da fé.
Será isso motivo para nos orgulharmos?
Novamente a pergunta, será a fé a causa ou o meio?
Se for a causa há lugar para o orgulho. E se é o meio, é porque a fé nos foi dada pela Graça de Deus (Efésios 2).
Vejamos…
27 Onde está logo a jactância? Foi excluída. Por que lei? Das obras? Não; mas pela lei da fé.  
28 Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei.  
29 É porventura Deus somente dos judeus? Não é também dos gentios? Também dos gentios, certamente,  
30 Se é que Deus é um só, que pela fé há de justificar a circuncisão, e também por meio da fé a incircuncisão.
Já percebemos que não é pelo cumprimento da Lei porque todos nós perante a Lei somos culpados. Logo não deve haver orgulho.
Já entendemos que não é por causa da fé e nem a fé a razão da nossa justificação.
A fé é simplesmente o instrumento ou o canal pela qual a justiça de Cristo vem até nós.
Não é a fé que nos Salva mas é Cristo quem nos salvou por causa do que aconteceu na Cruz.
O objecto da fé é sempre o Senhor Jesus. Mesmo quando lemos “A tua fé te salvou” nunca vem separado da crença no poder do Senhor Jesus Cristo.
Por isso não há motivo para o orgulho. Apenas para uma vida de plena gratidão e obediência ao Senhor.
31 Quer isto dizer que, por causa da fé, nós negamos todo o valor à lei? De modo nenhum. Pelo contrário, reconhecemos à lei o seu verdadeiro valor.
Conforme vimos, a Lei mostra-nos o carácter e a expressão moral do próprio Deus.
A questão não é cumprirmos a Lei para sermos salvos, mas porque fomos salvos então queremos cumprir a Lei.
A certeza disto obriga-nos a mudar toda uma perspectiva face à nossa vida. Este mês de Janeiro iremos perceber isso.
O que nos ensina a Justificação pela Fé?
Nós somos salvos pelos méritos de Cristo e tudo devido à Graça de Deus.
Em nós não há qualquer coisa boa para que Deus dissesse “Eu quero salvar aquela pessoa. Ela tem bom coração. Eu preciso dela para cumprir o meu plano. Por isso, estou aqui à Sua espera”.
A lei moral continua para os dias de hoje.
Sabermos que somos justificados pela fé, obriga-nos a cada vez mais sermos como Cristo e andar como Ele andou.
Quando há pecado há uma quebra do relacionamento. Por isso, deve haver arrependimento.
No entanto, a questão não é mais se de facto eu sou salvo por ter pecado. A questão é, o quanto eu tenho amado a Deus por causa do meu pecado.
Por causa de Cristo não temos condenação. Isto é, não há condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus.
Então, não existem maldições hereditárias que vêm dos nossos antepassados por não terem obedecido a Deus.
Também não precisamos de ter medo por termos falhado no passado, e pensarmos que por isso toda a nossa vida vai ser de sofrimento.
O sofrimento na Bíblia raramente é sinal de pecado.
Lembro-me de pensar que por causa do meu pecado algumas coisas não aconteciam porque eu tinha falhado, mesmo após o meu arrependimento. Ou ter medo que Deus já não me quisesse mais.
Tinha medo de olhar para Deus com medo que Ele já não me amasse mesmo depois de ter pedido perdão.
O amor de Deus por nós é incondicional e isso é tremendo.
Lembremo-nos… Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.
A justificação pela fé faz-nos humildes.
Deus declara-nos e trata-nos como inocentes apesar de termos pecado. Isto faz mudar a nossa perspectiva na forma como nos relacionamos com os outros (Já estamos abrir caminho para as próximas semanas).
Faz-nos ser gratos…
Se nos compararmos com algumas pessoas estaremos melhores. Com outras, estaremos piores. Mas se nos compararmos com aquilo que os nossos pecados merecem, estamos infinitamente melhores.
Tenhamos confiança em Cristo e naquilo que Ele fez.
No livro de João lemos que o bom pastor chama as suas ovelhas pelo nome… Isto mostra intimidade.
No NT lemos que nós que somos salvos somos chamados de santos (separados para Deus). Isso traz-nos alegria…
Como sabemos se de facto fomos Justificados?
Para a semana responderemos a esta pergunta.
Que Deus nos incomode para que as nossas vidas reflictam cada vez mais a Sua imagem.