Começámos a semana passada a falar sobre a oração e olhámos para Mateus 6:1, 5-6 e vimos que os
judeus tinham 3 actos piedosos: a oferta, a oração e o
jejum.
E foi sobre esses 3 actos que Jesus falou aos seus
discípulos. E falou para que tivessem
cuidado com a hipocrisia espiritual que muitas vezes invade a nossa vida
quase sem darmos conta.
Reflectimos também se
a nossa preocupação tem sido a oração ou a reputação e tentamos analisar as
motivações com que fazemos as coisas.
Se estivermos preocupados com a nossa reputação espiritual,
estamos apenas a desejar que a nossa vida seja glorificada por aqueles que
estão à nossa volta.
Como também se a nossa vida espiritual for “melhor” na
esfera pública do que na nossa vida privada*, isso mostrar-nos-á que estamos
mais preocupados com a nossa reputação diante dos Homens do que diante de Deus.
Terminámos vendo que devemos
orar… não para mostrar a Deus as nossas necessidades, como se Ele
não soubesse, mas devemos orar para submetermos
a nossa vontade e a nossa
necessidade àquilo que Deus tem para oferecer.
Vamos ler o versículo de hoje e perceber a ligação com aquilo
que vimos anteriormente…
Mateus 6:9
“Portanto”
Esta palavra é uma conjunção conclusiva. A ideia é mostrar
a consequência de acreditarmos que Deus
tem o melhor para os Seus filhos e se Deus tem o melhor para os Seus
filhos, então podemos fazer aquilo que Ele nos pede com toda a confiança.
“Vós orareis assim”
Na semana passada vimos que Jesus dá como adquirido que os Seus discípulos orem porque sabe que é impossível um cristão viver sem oração.
Inclusive, Jesus não
teve ousadia de viver a sua vida sem oração.
Quando não oramos, inconscientemente ou conscientemente, estamos a achar que temos mais coragem do que Jesus... e a viver
a nossa vida sem o poder de Deus.
É uma hipocrisia
espiritual dizermos que somos de Deus e depois não passarmos tempo com Ele.
No fundo, é como chegarmos ao pé de alguém e perguntarmos se
é casado e ele responder: “sou. Mas não ligo nenhuma à minha mulher… não a quero
ouvir e também não quero falar com ela”.
O que diríamos nós se ouvíssemos uma coisa destas?
Certamente diríamos que não
faz qualquer sentido porque isto não é um casamento segundo o coração de
Deus pois o mesmo requer amor… amor que nos leva a ter uma vida de
intimidade.
O mesmo se passa no
nosso relacionamento com Deus.
Se queremos saber
como está a nossa vida espiritual, não há
melhor termómetro do que vermos a nossa vida de oração até porque é a
oração que faz a diferença entre um “profissional da fé” e alguém que
vive pela fé.
É verdade que esta análise
pode ser assustadora.
Teremos nós o desejo de orar?
Devemos ter o desejo de orar com todas as nossas forças mesmo que tudo à nossa volta lute contra
isso.
Devemos ser desesperados, no bom sentido, pela oração.
Podemos orar com grande confiança porque sabemos que teremos
ajuda da parte de Deus: Hebreus 4:16
– “Aproximemo-nos, pois, com toda a
confiança, do trono da graça e assim conseguiremos alcançar misericórdia e
graça e encontrar ajuda no momento próprio”.
Saibamos que não há palavras e nem fórmulas mágicas
de conseguirmos o favor de Deus.
Devemos, sim, descansar na verdade que o “Espírito Santo nos ajuda a nós que somos
fracos porque nós não sabemos orar como convém, mas o próprio Espírito pede a
Deus por nós” – Romanos 8:26.
Isto traz grande alento para as nossas vidas porque
devemos saber que nós não oramos
porque a nossa vida está em condições (se assim fosse, talvez orasse menos),
nós oramos para que Deus nos coloque em
condições.
Além disso, se passarmos mais tempo a falar com Deus,
como consequência, saberemos falar e abençoar melhor as pessoas que estão ao
nosso lado.
Um pormenor muito rápido:
podemos orar também quando estamos no carro ou noutro sítio qualquer, ao estarmos
a falar com Deus e ao meditarmos no Evangelho… orar não é só aquela “oração
mais formal”.
“Pai nosso”
2 aspectos importantes nestas 2 palavras:
1. Filiação
Vimos que podemos ir
até Deus com toda a confiança.
Aqui, percebemos melhor o motivo para isso acontecer…
Deus é o nosso Pai.
O que tem isso de tão especial?
Será que já percebemos a
enorme bênção de chamarmos “Pai” ao nosso Deus?
Será que já percebemos a bênção de sermos tratados
como Seus filhos?
No AT, a paternidade de Deus parece que não é encarada da mesma forma como no NT.
Se formos a ver alguns textos, temos apenas algumas
analogias (5 vezes) ou referências mais directas a Deus como sendo Pai
de uma nação e não tanto a Deus como alguém mais pessoal.
Normalmente, os judeus
exaltavam os atributos de Deus como a Sua soberania, a Sua glória, a Sua
graça e por aí em diante.
Jesus, ao falar para os judeus, trouxe-lhes um novo conceito ou uma nova ênfase sobre a paternidade de Deus ao dizer “Pai nosso”…
Deus não está apenas no Céu, como já iremos ver, como
também está perto de nós.
Jesus correu o risco de acharem que Ele era arrogante ou ousado por falar dessa forma podendo até
ser acusado de usar o nome de Deus em vão.
Deus é pai…
Porque é que devemos
valorizar a paternidade de Deus?
Todos nós nascemos
como inimigos de Deus devido ao nosso pecado.
Nós não somos por
natureza filhos de Deus. Nós somos, sim, filhos da ira de Deus (Efésios 2:3).
Contudo, mesmo sendo Seus inimigos, Deus mostrou todo o Seu amor ao enviar o Seu único filho para
pagar o preço do nosso resgate para recebermos de volta não mais como Seus inimigos, mas sim
como seus filhos.
Deus teve que
abandonar o Seu filho na Cruz para ser nosso Pai.
O filho teve que deixar o Seu Pai para ir até àquela
Cruz para levar sobre si a Ira de Deus que estava destinada a nós.
Como podemos ficar indiferentes a este enorme acto de
bondade?
Quantas vezes pensamos no Evangelho?
Em Cristo temos uma nova identidade*… passamos a ser filhos
de Deus.
É por isso que na oração devemos dizer “Pai” pois ao fazer isso estamo-nos a lembrar do amor de Deus por nós e, ao mesmo tempo, faz-nos recordar
quem nós éramos e quem agora somos.
Chamar Deus de Pai é uma bênção precisamente porque Ele é
Santo.
O nosso pai terreno pode não ter sido a melhor referência
para a nossa vida. No entanto, o amor do Pai celestial é suficiente forte para
colmatar ou conseguir lidar com todas as lacunas na nossa vida.
Nota rápida: às vezes nós oramos ao Senhor Jesus
quando devemos orar a Deus em nome do Senhor Jesus. Não há problema em
si, mas Jesus diz-nos que nos devemos dirigir ao Pai em oração.
Oramos a Deus por meio do Senhor Jesus no poder do Espírito
Santo.
2. Aspecto: “nosso”
Jesus ao assumir que todos
os discípulos devem orar, ao mesmo tempo, assume também que devem orar
em comunidade.
A oração comunitária
é fundamental para a vitalidade da Igreja além de fazer compreender que nada depende de nós e que tudo
depende de Deus.
A oração mostra-nos
claramente que a Igreja não é nossa.
Temos reconhecido a importância da oração como Igreja?
Temos tido oportunidades para dizer “Pai nosso”?
Confesso, mais uma vez, que as nossas igrejas (estou a
incluir-me aqui porque eu sou Igreja convosco) ainda não reconhecem o poder
da oração.
Vejamos (tónica
de sempre): se somos chamados para uma festa, um cinema, ou para um jantar,
tentamos arranjar tempo e vamos. Fazemos até grupos para isso. Reparem que isto
não está errado em si.
Contudo, será que a
nossa motivação é igual quando somos
chamados a orar?
Deus sempre agiu
quando o Seu povo orou.
Acreditamos no poder da oração?
“Que estás nos céus”,
Depois de termos visto a proximidade de Deus com o Seu povo,
parece que vemos aqui a Sua distância.
Ele está nos céus e nós aqui na terra.
Em teologia há 2 termos relativamente a isto: a imanência de Deus (a sua manifestação
na criação) e a transcendência de Deus
(está nos céus, acima do mundo e é independente dele).
Deus é o criador de todas as coisas e daí o versículo dizer
“Pai nosso que estás nos céus”. Além
de criador, Ele também é o sustentador porque se envolve com a criação.
É muito importante termos presentes estas duas realidades,
podendo não saber os nomes, para sabermos que apesar de Deus estar presente nas nossas vidas, Ele não está em tudo.
Se assim fosse, cairíamos no “panteísmo”. Isto é, se Deus está
em tudo, então temos que adorar todas as coisas.
Ao olharmos para a oração do “Pai nosso” vemos esta aparente separação para mostrar que devemos reverenciar a Deus pela obra das Suas mãos.
Teremos nós reverenciado a Deus nas nossas orações?
Já uma vez falámos sobre isto e volto a insistir: as nossas orações normalmente começam com uma
invocação “Senhor Deus e nosso Pai” e logo a seguir começamos a agradecer as
bênçãos de Deus.
Aparentemente pode parecer normal, atenção que pode não ser totalmente errado, contudo
normalmente não há um momento de
exaltação pela Sua grandeza.
Qual a importância da
exaltação na oração?
1. Quando reconhecemos a grandeza de Deus, no
início da oração, colocamo-nos no devido
sítio como também percebemos que as
bênçãos que recebemos não são devido aos nossos méritos, mas sim devido à enorme
bondade de Deus para connosco.
2. Quando reconhecemos a grandeza de Deus, entendemos que temos que confessar os
nossos pecados porque Deus é santo e todo o nosso pecado é uma ofensa contra
Ele.
3. Quando reconhecemos a grandeza de Deus ao
pedirmos alguma coisa, já não vamos com
o sentido de exigência. Vamos sim com uma atitude de gratidão porque
reconhecemos que Deus é bom pois sabe dar ou retirar o que é melhor para
a vida dos Seus filhos. Além disso, podemos agradecer a Deus porque em Cristo
já recebemos sempre mais do que merecemos.
Na verdade, a grande questão é esta: temos exaltado a Deus nas nossas orações ou vamos logo para a parte
que, em certo sentido, mais nos convém*?
Analisemos as nossas orações…
“Santificado seja o
teu nome”
Em Isaías 6, por
exemplo, vemos que “Deus é Santo, Santo,
Santo”. O grau máximo de santidade.
Não podemos fazer nada para aumentar ou diminuir a
santidade de Deus porque o Seu ser é
santo.
Algo contrário ao nosso ser porque vivemos, até ao fim da nossa vida, num processo de santificação (sermos mais santos) sabendo que este
processo só terminará quando estivermos juntos a Deus.
O que significará então este versículo?
A melhor tradução, para mim, deste versículo seria: “que o
teu nome seja tratado como santo”.
É precisamente a ideia de 1 Pedro 1:15-16: “Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós
também santos em toda a vossa maneira de viver; porquanto está escrito: Sede
santos, porque eu sou santo”.
Na oração do “Pai nosso” esta é a primeira petição que devemos
fazer e é uma petição muito forte. É um pedido para que o nosso viver glorifique o nome santo de
Deus.
Em Malaquias vemos que Deus condenou o Seu povo porque estavam a desprezar o Seu nome pela
forma como viviam.
A grande questão é: como podemos glorificar a Deus, segundo I Cor. 10:31, no comer, ou no beber, ou
noutra coisa qualquer?
- Ao influenciarmos
através do Evangelho a nossa esfera pública, familiar, pessoal,
ou o nosso relacionamento com a Igreja e com a sociedade.
- Ao termos uma vida de oração pois a oração faz-nos andar nos trilhos de Deus e ajuda-nos a perceber que nada é sobre nós e que tudo
é acerca de Cristo.
Lembremo-nos: a
melhor oração não é somente aquela que fazemos com a nossa boca, mas também é
aquela que fazemos com a nossa vida.
Santificar o nome de
Deus não é dizer o Seu nome de forma correcta*. É sim viver a viva
cristã de forma santa.
Que as pessoas ao olharem para a forma como vivemos a
nossa vida, nos perguntem a razão de sermos diferentes.
Tem sido a nossa vida vivida de tal forma que seja
questionável neste sentido por aqueles com quem nos relacionamos?
Que Deus seja sempre glorificado e isso só acontecerá se tivermos em mente a máxima de João
Baptista (João 3:30) – “É importante que
Ele cresça e eu diminua”.
A oração do “Pai
nosso” ajuda-nos, desde o seu início, que tudo é acerca de Cristo!
Que Deus nos ajude.
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