sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

"Venha o Teu reino"

Temos estado a meditar na oração do “Pai nosso” e o significado de cada uma dessas sentenças.
Começámos por ver que Jesus deseja (os seus desejos devem ser encarados como ordens) que os seus discípulos orem sem qualquer tipo de hipocrisia espiritual não estando para isso preocupados em agradar as pessoas, mas sim em glorificar a Deus através das suas vidas.
Não há fórmulas mágicas na oração pois a oração é o local de submissão da nossa vontade à vontade do nosso Deus.
Na semana passada, vimos que a oração deve começar pela exaltação do nosso Deus reconhecendo que Ele está no controlo de todas as coisas como também devemos reconhecer, com as nossas vidas e com as nossas palavras, aquilo que Ele fez por nós.
Devemos ter sempre isto na nossa mente: para sermos filhos de Deus, o próprio Deus teve que abandonar o Seu filho na Cruz, para que pudéssemos viver de um modo santo.
Vimos, também, que devemos orar a Deus Pai, em nome do Deus-Filho, no poder do Deus-Espírito Santo.
Hoje vamos falar sobre uma expressão pequena que se encontra na oração do “Pai nosso”.
Creio que será a primeira vez que pregarei apenas sobre 4 palavras.
Normalmente esqueço-me desta expressão quando cito esta oração. Não sei se é pelo tamanho ou por achar que estava desligada, erradamente, do seu contexto.
Vamos abrir as Bíblias em Mateus 6:10 e pensar sobre: “Venha o Teu reino” ou parafraseando “que o Teu reino seja manifesto”.
É a segunda petição desta oração modelo dada por Jesus aos Seus discípulos e significa “domínio sobre a vida”.
Esta expressão “reino” é usada 34 vezes no Evangelho de Mateus, poucas vezes em Marcos, algumas vezes em Luscas e quase nenhuma vez em João.
Depois, é usada muito residualmente ao longo do NT e aumenta um pouco (5) no livro de Apocalipse.
Além disso, em Mateus ou aparece “reino” ou “reino dos céus” enquanto nos outros livros maioritariamente é usada a expressão “reino de Deus” sendo que significam a mesma coisa.
Qual o motivo desta diferença entre Mateus e os outros livros mesmo considerando os outros evangelhos?
Quando olhamos para uma passagem do texto bíblico, convém sabermos a quem foi escrito originalmente.
É importante conhecermos o “panorama do livro” para entendermos melhor cada palavra.
Foi por este motivo que durante muito tempo estudámos o panorama do NT para que pudéssemos compreender melhor as ênfases de cada livro.
Vamos olhar para estas expressões “reino dos céus” ou “Reino de Deus” a partir de 3 perspectivas:
1.      “Reino de Deus” e os judeus
·         Contexto judaico
O Evangelho de Mateus originalmente foi escrito para os judeus e isso ajudar-nos-á a compreender melhor o alcance destas palavras ditas por Jesus.
Como sabemos, o nome de Deus era muito importante para os judeus e, inclusive, para escrever o tetragrama (iniciais do nome de Deus) tinha que ser com uma pena especial pois seria profano usar a pena com que escreviam as outras coisas.
Também não pronunciavam o nome de Deus com medo de estarem a blasfemar.
É devido a isso que no evangelho de Mateus encontramos a expressão “reino” ou “reino dos céus” para que os judeus ao lerem estas palavras não ficassem logo escandalizados e nem desejassem ouvir o que vinha a seguir.
                  ·         Expectativas judaicas
Os judeus não viram, como também não vêem, Jesus como sendo o Messias precisamente porque Jesus não correspondeu às expectativas que os judeus tinham acerca do seu ministério aqui na terra.
Os judeus um Messias em termos políticos e religiosos ao libertá-los do império romano e a restaurar o reino terrestre de Israel.
Curiosamente, na Bíblia vemos precisamente o contrário.
- Jesus nunca quis ser rei em termos políticos ou militares. Aliás, assumiu que o seu reino não era neste mundo João 18:36 - “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui”.
- Não procurou a violência. Pelo contrário, disse que as pessoas deviam ter uma postura diferente para com os seus inimigos: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” - Mateus 5:44
- Jesus disse que os judeus deviam pagar impostos ao império romano*: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” – Mateus 22:21.
Nestes 3 aspectos, podemos ver que Jesus não cumpriu as expectativas que os judeus tinham em relação a si ou até ao Seu reino.
Os judeus tinham falsas expectativas em relação a Jesus.
Foi por isso que rejeitaram Jesus e o entregaram aos romanos para que fosse morto.
E quanto a nós? Quais são as nossas expectativas em relação a Jesus e ao Seu reino?
Sentimo-nos defraudados ou satisfeitos?
Vale a pena pensarmos sobre a expressão “venha o teu reino” e quais as nossas expectativas em relação a isso.
Afinal, Jesus veio para quê?
Qual a razão pela qual devemos pedir que o Seu reino venha?
Vamos tentar perceber o alcance do “reino dos céus” ou “reino de Deus”…
·         Passado
João Baptista disse que Jesus veio inaugurar o Reino.
Qual o motivo? Para libertar o Seu povo da escravidão do pecado para transportá-lo para o Seu maravilhoso reino.
Por isso, nós, cristãos, temos a certeza que o nosso passado está resolvido em Cristo e que por isso não devemos carregar mais sobre nós esse passado.
É libertador saber que Jesus pagou o preço.
Logo, não pensemos que temos que pagar o preço de alguma forma ou carregar com esse pecado o resto da nossa vida.
Vejo que ainda há muitos cristãos que sofrem com as coisas terríveis que fizeram no passado.
Às vezes até acham que certos sofrimentos acontecem nas suas vidas porque há alguns anos fizeram determinada coisa.
Lembremo-nos: Em Cristo temos perdão dos nossos pecados… como também “não há nenhuma condenação para aqueles que estão em Cristo Jesus” - Romanos 8:1.
É verdade que o pecado traz consequências, mas a nossa mente deve descansar no perdão do nosso bom Deus.
Temos sentido este descanso?
Como é bom saber que o reino foi inaugurado por Jesus.
Como é bom saber também que este domínio ou reino alcançou todos aqueles que se arrependerem dos seus pecados e reconhecerem a necessidade de Jesus para serem salvos.
Se isto já aconteceu na nossa vida, teremos ousadia para pedir que o reino venha quando entendemos que o nosso passado está resolvido em Cristo.
·         Reino de Deus envolve o nosso presente
Neste mesmo capítulo 6, a partir do V25, vemos que “não devemos andar ansiosos com a nossa vida quanto ao que devemos comer, beber e vestir”.
Isto é, teremos coragem para pedir a Deus que o reino dele venha quando estivermos satisfeitos com a vida que temos independentemente das circunstâncias que estivermos a passar porque a nossa felicidade está no Rei deste reino.
Encontramos essa verdade no V33 quando lemos que devemos “buscar primeiro o reino do Pai celeste e a sua justiça, e todas as outras coisas serão acrescentadas”.
Isso significa que o desejo da nossa vida não deve ser viver como aqueles que não conhecem a Cristo cujo objectivo de vida é apenas com as coisas temporaiscom o seu (pessoal) reino terreno.
Pelo contrário, nós, cristãos, devemos saber que a preocupação é um desperdício de tempo e faz com que desacreditemos na bondade de Deus.
Por isso, que o foco da nossa vida não seja com as coisas temporais, mas sim com as coisas celestiais.
Deus providencia tudo aquilo que precisamos. Não há como não andar lado-a-lado com Ele.
No V33 podemos reparar também que devemos buscar “a Sua justiça”.
Isto significa que devemos buscar uma vida justa em total submissão à vontade de Deus para que possamos afirmar categoricamente quem é o Rei da nossa vida.
Como temos vivido a nossa vida no presente?
A pensar no nosso reino ou no reino dos Céus?
Temos sido submissos ao Rei?
Este é um grande desafio: vidas que se submetam aquele que foi, é e sempre será fiel às Suas promessas.
·         Reino de Deus envolve o futuro
É bom saber que o reino de Deus já foi estabelecido e um dia estender-se-á a todas as áreas deste mundo.
Além disso, todas as pessoas, segundo Fil. 2:11, “irão reconhecer Jesus Cristo como Senhor para a glória de Deus Pai”.
Esta era a certeza do profeta Jó quando disse: “Eu sei que o Deus da vida é o meu libertador e ele tem a última palavra contra a morte. E, depois de assim se ter desfeito a minha pele, de novo vivo poderei ver a Deus. Hei de vê-lo a meu favor, hei de vê-lo com os meus olhos, sem estranhar. O MEU CORAÇÃO ANSEIA POR QUE ISSO ACONTEÇA*” – Jó 19:25-27.
Quando temos os olhos postos no Reino de Deus teremos também esta certeza e sentiremos cada palavra para sabermos lidar com as dificuldades do dia-a-dia.
É esta verdade que aprendamos na Bíblia em II Coríntios 4:17 -As aflições do momento presente são leves, comparadas com a grande e eterna glória que elas nos preparam”.
A ideia deste versículo é “ponham as coisas numa balança. Se os fardos desta vida forem pesados, lembra-te que aquilo que está reservado para nós será muito maior e melhor”.
É esta esperança que deve alimentar a nossa vida e colocar-nos de pé quando o mundo quer derrubar-nos.
Vimos, até agora, o significado de reino de Deus e a nossas expectativas em relação a ele, percebemos como o Reino de Deus é visto e sentido em relação ao passado, presente e na esperança que ele se concretize no futuro.
Como é que estas verdades sobre o reino de Deus influenciam a nossa forma de viver?
3.      O reino de Deus envolve os nossos relacionamentos ;
·         Na nossa vida pessoal
Quando oramos e pedimos que o reino de Deus se manifeste, estamos a dizer que temos o desejo que as nossas vidas glorifiquem o Seu nome, devido à satisfação que sentimos em Cristo*, como também estamos a mostrar que o Evangelho é o motor da nossa vida.
Volto a insistir na mesma tecla, até porque o pecado faz esquecer-nos desta verdade essencial, que devemos ligar o Evangelho a todas as áreas da nossa vida.
3 exemplos rápidos como podemos ligar o Evangelho à nossa vida para que o “reino de Deus” em nós seja uma realidade:
1.      Como temos mostrado este reino na nossa vida pessoal quando temos alguma decisão a tomar?
É a glória de Deus que nos preocupa ou é a nossa glória?
2.      Como temos mostrado este reino quando lidamos com a nossa família?
Como o Evangelho está a ser cultivado no nosso lar?
Isto é algo que me incomoda várias vezes porque penso muito nisto: Será que a minha mulher e os meus filhos vêem que Deus é o meu Rei e que estou a trabalhar para o Seu reino e reino não é a Igreja?
Será que a minha mulher acredita que Deus é o Rei da minha vida se eu não orar por ela e com ela?
Será que eu também cuido dela como Cristo cuida da Sua Igreja?
Não é apenas darmo-nos bem porque há muitos casais sem Cristo que se dão bem. É vivermos o reino de Deus no casamento.
Se não estamos a viver o plano de Deus para o casamento, que possamos fazer as mudanças necessárias nem que tenhamos de nos privar de muitas coisas que por vezes achamos que são nossas por direito próprio.
Mais vale pouco ou nada com Deus do que muito sem Deus.
Atenção que se quisermos ser sérios iremos reparar que não é fácil responder a estas perguntas.
3.      Como podemos mostrar este reino de Deus no nosso trabalho quando estamos no meio de tanta provação, intrigas e corrupção?
Sendo fiéis em todo o momento sabendo que Deus honra os Seus filhos mesmo que possa vir a fome…
 “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” - Romanos 8:35.
Tenho compreendido que teremos mais ousadia em pedir que Deus se manifeste na nossa vida quando a mesma é vivida em espírito de oração e quando passamos mais tempo a ler e a meditar na Palavra de Deus.
Deixem-me provocar-vos ao mesmo tempo que estou a provocar a mim mesmo: temos tido alegria quando oramos e lemos a Bíblia? Será que essas disciplinas espirituais devem ser feitas apenas quando há alegria?
Sentimos ausência do reino de Deus – domínio - na nossa vida?
Se sim, será por falta de oração e da leitura da Palavra de Deus?
Quando a nossa vida está centrada no reino, isso irá ter reflexo na forma como encaramos o reino na relação com o próximo…
·         O Reino e a nossa vida com os outros
Os apóstolos tinham a preocupação Jesus estabelecesse o Seu reinado de forma plena quando ainda estava no meio deles.
Vejamos isso em Actos 1:6-8:
6 Uma vez, quando os apóstolos estavam reunidos com Jesus, perguntaram-lhe: “Senhor, será agora que vais restaurar o reino para o povo de Israel?”
Era uma pergunta sincera… “quando vais restaurar o teu reino”?
7Jesus respondeu: «Não vos é dado conhecer o tempo ou o dia que o Pai fixou com a sua própria autoridade.
Jesus disse-lhes que o Pai determinou quando isso aconteceria e que a eles não lhes competia saber o tempo*. Contudo, enquanto isso não acontecesse, havia algo que eles tinham que saber e fazer
8Mas receberão poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos lugares mais distantes do mundo.»
Aplicando às nossas vidas, Jesus disse que íamos receber poder*… poder para quê? Para sermos suas testemunhas quer, vou parafrasear, em Lisboa, em Portugal, na Europa e no mundo.
Significa isso que uma das formas de vivermos o Reino de Deus passa por testemunharmos do Reino às pessoas que ainda o conhecem.
Venha o teu reino” é um pedido para uma vivência missionária. E eu, sinceramente, nunca tinha pensado nisto.
Assumi recentemente, enquanto pastor da Igreja da Graça, que desejo, oro e trabalho para que cresçamos espiritualmente (esta sempre será a essência principal) e também crescer estruturalmente* e numericamente.
Uma Igreja que só se preocupa com números aposta muito nos eventos e no entretenimento. Não se preocupa se as pessoas estão a crescer espiritualmente.
Digo isto com toda a firmeza: não vale a pena crescermos* se não for para investirmos nas pessoas… no discipulado. E isto não é só tarefa do pastor. É de toda a Igreja.
Por isso, não devemos convidar as pessoas a assistir ao culto, mas a participar no culto como também a participar naquilo que Deus está a fazer… a participar no Reino.
Temos que dizer chega ao “adepto de bancada” para passarmos a estar mais tempo no terreno.
Quem abençoou ao longo desta semana com as suas palavras, gestos ou dinheiro?
Quem ajudou a carregar os fardos nesta caminhada?
Quem honrou com as suas palavras* (Pessoal: “Deus usou-te”*)?
Quando uma Igreja cresce saudavelmente criará um impacto muito maior na sociedade para que mais pessoas cheguem ao conhecimento da verdade porque a nossa missão sempre foi e sempre será fazer discípulos do Senhor Jesus Cristo, para a glória de Deus Pai, no poder do Espírito Santo.
Posto isto, não está no meu horizonte pensar em abrir novas Igrejas em Lisboa, acho que actualmente é quase insustentável, mas sim em tornar a Igreja da Graça forte trabalhando nos lares e podendo ajudar a revitalizar alguma Igreja (algo que precisamos muito*).
Venha o teu reino” Senhor Deus… que isto seja uma realidade através da forma como vivemos o Evangelho e pela maneira como partilhamos o Evangelho com quem ainda não conhece a Jesus.
Eu acredito que Deus tem muito povo para salvar e não vou descansar até perceber que estamos a fazer tudo ao nosso alcance.
Termino com uma frase forte de alguém que tem influenciado fortemente a minha vida… Charles Spurgeon - “Todo cristão ou é um missionário ou é um impostor”.


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