Temos estado a meditar na oração do “Pai nosso” e o significado de cada uma dessas sentenças.
Começámos por ver que Jesus deseja (os seus desejos
devem ser encarados como ordens) que os seus discípulos orem sem
qualquer tipo de hipocrisia espiritual não estando para isso preocupados em
agradar as pessoas, mas sim em glorificar
a Deus através das suas vidas.
Não há fórmulas mágicas na oração pois a oração é o local de submissão da nossa
vontade à vontade do nosso Deus.
Na semana passada, vimos que a oração deve começar pela exaltação do nosso Deus reconhecendo que
Ele está no controlo de todas as coisas como também devemos reconhecer,
com as nossas vidas e com as nossas palavras, aquilo que Ele fez por nós.
Devemos ter sempre isto na
nossa mente: para sermos filhos
de Deus, o próprio Deus teve que abandonar o Seu filho na Cruz, para que
pudéssemos viver de um modo santo.
Vimos, também, que devemos orar a Deus Pai, em nome do
Deus-Filho, no poder do Deus-Espírito Santo.
Hoje vamos falar sobre uma expressão pequena que se encontra
na oração do “Pai nosso”.
Creio que será a primeira vez que pregarei apenas sobre 4
palavras.
Normalmente esqueço-me desta expressão quando cito esta
oração. Não sei se é pelo tamanho ou por achar que estava desligada,
erradamente, do seu contexto.
Vamos abrir as Bíblias em Mateus 6:10 e pensar sobre: “Venha
o Teu reino” ou parafraseando “que o Teu reino seja manifesto”.
É a segunda petição desta oração modelo dada por Jesus
aos Seus discípulos e significa “domínio
sobre a vida”.
Esta expressão “reino”
é usada 34 vezes no Evangelho de Mateus, poucas vezes em Marcos, algumas
vezes em Luscas e quase nenhuma vez em João.
Depois, é usada muito residualmente ao longo do NT e aumenta
um pouco (5) no livro de Apocalipse.
Além disso, em Mateus ou aparece “reino” ou “reino dos céus”
enquanto nos outros livros maioritariamente é usada a expressão “reino de Deus” sendo que significam a mesma
coisa.
Qual o motivo desta diferença entre Mateus e os outros
livros mesmo considerando os outros evangelhos?
Quando olhamos para uma passagem do texto bíblico,
convém sabermos a quem foi escrito originalmente.
É importante conhecermos o “panorama do livro” para entendermos melhor cada palavra.
Foi por este motivo que durante muito tempo estudámos o
panorama do NT para que pudéssemos compreender melhor as ênfases de cada livro.
Vamos olhar para estas expressões “reino dos céus” ou “Reino de
Deus” a partir de 3 perspectivas:
·
Contexto judaico
O Evangelho de Mateus originalmente foi escrito para os
judeus e isso ajudar-nos-á a compreender melhor o alcance destas
palavras ditas por Jesus.
Como sabemos, o nome
de Deus era muito importante para os judeus e, inclusive, para escrever o tetragrama
(iniciais do nome de Deus) tinha que ser com uma pena especial pois
seria profano usar a pena com que escreviam as outras coisas.
Também não pronunciavam o nome de Deus com medo de estarem a
blasfemar.
É devido a isso que no evangelho de Mateus encontramos a
expressão “reino” ou “reino dos céus” para que os judeus ao
lerem estas palavras não ficassem
logo escandalizados e nem desejassem ouvir o que vinha a seguir.
Os judeus não viram, como também não vêem, Jesus como
sendo o Messias precisamente porque Jesus
não correspondeu às expectativas que os judeus tinham acerca do seu
ministério aqui na terra.
Os judeus um Messias
em termos políticos e religiosos ao libertá-los do império romano e a
restaurar o reino terrestre de Israel.
Curiosamente, na Bíblia vemos precisamente o contrário.
- Jesus nunca quis
ser rei em termos políticos ou militares. Aliás, assumiu que o seu reino
não era neste mundo João 18:36 - “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste
mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu
não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui”.
- Não procurou a
violência. Pelo contrário, disse que as pessoas deviam ter uma postura
diferente para com os seus inimigos:
“Amai a vossos inimigos, bendizei os que
vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e
vos perseguem” - Mateus 5:44
- Jesus disse que os judeus deviam pagar impostos ao
império romano*: “Dai a César o que é de
César e a Deus o que é de Deus” – Mateus
22:21.
Nestes 3 aspectos, podemos ver que Jesus não cumpriu as
expectativas que os judeus tinham em relação a si ou até ao Seu reino.
Os judeus tinham
falsas expectativas em relação a Jesus.
Foi por isso que rejeitaram Jesus e o entregaram aos romanos
para que fosse morto.
E quanto a nós? Quais são as nossas expectativas em
relação a Jesus e ao Seu reino?
Sentimo-nos defraudados ou satisfeitos?
Vale a pena pensarmos sobre a expressão “venha o teu reino” e quais as nossas
expectativas em relação a isso.
Afinal, Jesus veio para quê?
Qual a razão pela qual devemos pedir que o Seu reino venha?
Vamos tentar perceber o alcance do “reino dos céus” ou “reino de
Deus”…
·
Passado
João Baptista disse que Jesus veio inaugurar o Reino.
Qual o motivo? Para
libertar o Seu povo da escravidão do pecado para transportá-lo para o Seu maravilhoso reino.
Por isso, nós, cristãos, temos a certeza que o nosso passado está resolvido em Cristo
e que por isso não devemos carregar mais
sobre nós esse passado.
É libertador saber
que Jesus pagou o preço.
Logo, não pensemos que temos que pagar o preço de alguma
forma ou carregar com esse pecado o
resto da nossa vida.
Vejo que ainda há muitos cristãos que sofrem com as
coisas terríveis que fizeram no passado.
Às vezes até acham que certos
sofrimentos acontecem nas suas vidas porque há alguns anos fizeram determinada coisa.
Lembremo-nos: Em
Cristo temos perdão dos nossos pecados… como também “não há nenhuma condenação para aqueles que
estão em Cristo Jesus” - Romanos 8:1.
É verdade que o pecado traz consequências, mas a nossa mente deve descansar no perdão do
nosso bom Deus.
Temos sentido este descanso?
Como é bom saber que o reino foi inaugurado por Jesus.
Como é bom saber também que este domínio ou reino alcançou todos aqueles que se arrependerem
dos seus pecados e reconhecerem a necessidade de Jesus para serem salvos.
Se isto já aconteceu na nossa vida, teremos ousadia para pedir que o reino venha quando entendemos que o
nosso passado está resolvido em Cristo.
·
Reino
de Deus envolve o nosso presente
Neste mesmo capítulo 6, a partir do V25, vemos que “não devemos andar
ansiosos com a nossa vida quanto ao que devemos comer, beber e vestir”.
Isto é, teremos coragem
para pedir a Deus que o reino dele venha quando estivermos satisfeitos com a vida que temos independentemente das
circunstâncias que estivermos a passar porque a nossa felicidade está no Rei deste reino.
Encontramos essa verdade no V33 quando lemos que devemos “buscar
primeiro o reino do Pai celeste e a sua justiça, e todas as outras coisas serão
acrescentadas”.
Isso significa que o
desejo da nossa vida não deve ser viver como aqueles que não conhecem a Cristo
cujo objectivo de vida é apenas com as coisas temporais… com o seu
(pessoal) reino terreno.
Pelo contrário, nós, cristãos, devemos saber que a preocupação é um desperdício de tempo e faz com
que desacreditemos na bondade de Deus.
Por isso, que o foco da nossa vida não seja com as coisas
temporais, mas sim com as coisas
celestiais.
Deus providencia tudo aquilo que precisamos. Não há como não
andar lado-a-lado com Ele.
No V33 podemos reparar
também que devemos buscar “a Sua justiça”.
Isto significa que devemos buscar uma vida justa em total submissão à vontade de Deus para que
possamos afirmar categoricamente quem é o Rei da nossa vida.
Como temos vivido a nossa vida no presente?
A pensar no nosso reino ou no reino dos Céus?
Temos sido submissos ao Rei?
Este é um grande
desafio: vidas que se submetam aquele que foi, é e sempre
será fiel às Suas promessas.
·
Reino
de Deus envolve o futuro
É bom saber que o
reino de Deus já foi estabelecido e um dia estender-se-á a todas as
áreas deste mundo.
Além disso, todas as pessoas, segundo Fil. 2:11, “irão reconhecer
Jesus Cristo como Senhor para a glória de Deus Pai”.
Esta era a certeza do profeta Jó quando disse: “Eu sei que o Deus da vida é o meu
libertador e ele tem a última palavra contra a morte. E, depois de
assim se ter desfeito a minha pele, de novo vivo poderei ver a Deus.
Hei de vê-lo a meu favor, hei de vê-lo com os meus olhos, sem
estranhar. O MEU CORAÇÃO ANSEIA POR QUE ISSO ACONTEÇA*” – Jó 19:25-27.
Quando temos os olhos
postos no Reino de Deus teremos também esta certeza e sentiremos cada
palavra para sabermos lidar com as dificuldades do dia-a-dia.
É esta verdade que aprendamos na Bíblia em II Coríntios 4:17 - “As aflições do momento presente são
leves, comparadas com a grande e eterna glória que elas nos preparam”.
A ideia deste versículo é “ponham as coisas numa balança. Se
os fardos desta vida forem pesados, lembra-te que aquilo que está reservado
para nós será muito maior e melhor”.
É esta esperança que
deve alimentar a nossa vida e colocar-nos de pé quando o mundo quer
derrubar-nos.
Vimos, até agora, o significado de reino de Deus e a nossas
expectativas em relação a ele, percebemos como o Reino de Deus é visto e
sentido em relação ao passado, presente e na esperança que ele
se concretize no futuro.
Como é que estas verdades sobre o reino de Deus influenciam
a nossa forma de viver?
3. O reino de Deus envolve os nossos
relacionamentos
;
·
Na
nossa vida pessoal
Quando oramos e pedimos que o reino de Deus se manifeste,
estamos a dizer que temos o desejo que as nossas vidas glorifiquem o Seu nome,
devido à satisfação que sentimos em Cristo*, como também estamos a mostrar que
o Evangelho é o motor da nossa vida.
Volto a insistir na mesma tecla, até porque o pecado faz
esquecer-nos desta verdade essencial, que devemos ligar o Evangelho a todas as áreas da nossa vida.
3 exemplos rápidos como podemos ligar o Evangelho à nossa
vida para que o “reino de Deus” em
nós seja uma realidade:
1. Como
temos mostrado este reino na nossa vida pessoal quando temos alguma decisão
a tomar?
É a glória de
Deus que nos preocupa ou é a nossa glória?
2. Como
temos mostrado este reino quando lidamos com a nossa família?
Como o Evangelho está
a ser cultivado no nosso lar?
Isto é algo que me incomoda várias vezes porque penso muito
nisto: Será que a minha mulher e os meus filhos vêem que Deus é o meu Rei e que estou a trabalhar para o Seu reino e reino não é a Igreja?
Será que a minha
mulher acredita que Deus é o Rei da minha vida se eu não orar por ela e com
ela?
Será que eu também cuido dela como Cristo cuida da Sua
Igreja?
Não é apenas darmo-nos bem porque há muitos casais
sem Cristo que se dão bem. É vivermos
o reino de Deus no casamento.
Se não estamos a viver o plano de Deus para o casamento, que possamos fazer as mudanças necessárias
nem que tenhamos de nos privar de muitas
coisas que por vezes achamos que são nossas por direito próprio.
Mais vale pouco ou nada com Deus do que muito sem Deus.
Atenção que se quisermos ser sérios iremos reparar que não é fácil responder a estas perguntas.
3. Como
podemos mostrar este reino de Deus no nosso trabalho quando estamos no meio de
tanta provação, intrigas e corrupção?
Sendo fiéis em todo o momento sabendo que Deus honra os Seus
filhos mesmo que possa vir a fome…
“Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia,
ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo,
ou a espada?” - Romanos 8:35.
Tenho compreendido que teremos mais ousadia em pedir que
Deus se manifeste na nossa vida quando a mesma é vivida em espírito de
oração e quando passamos mais tempo a ler e a meditar na Palavra de Deus.
Deixem-me
provocar-vos ao mesmo tempo que estou a provocar a mim mesmo: temos tido
alegria quando oramos e lemos a Bíblia? Será que essas disciplinas
espirituais devem ser feitas apenas quando há alegria?
Sentimos ausência do reino de Deus – domínio - na nossa
vida?
Se sim, será por falta de oração e da leitura da
Palavra de Deus?
Quando a nossa vida está centrada no reino, isso irá ter reflexo na forma como
encaramos o reino na relação com o próximo…
·
O
Reino e a nossa vida com os outros
Os apóstolos tinham a preocupação Jesus estabelecesse o
Seu reinado de forma plena quando ainda estava no meio deles.
Vejamos isso em Actos
1:6-8:
6 Uma vez, quando os
apóstolos estavam reunidos com Jesus, perguntaram-lhe: “Senhor, será agora que
vais restaurar o reino para o povo de Israel?”
Era uma pergunta sincera… “quando vais restaurar o teu
reino”?
7Jesus respondeu:
«Não vos é dado conhecer o tempo ou o dia que o Pai fixou com a sua própria
autoridade.
Jesus disse-lhes que o
Pai determinou quando isso aconteceria e que a eles não lhes competia saber
o tempo*. Contudo, enquanto isso não acontecesse, havia algo que eles tinham
que saber e fazer…
8Mas receberão poder
ao descer sobre vós o Espírito Santo e serão minhas testemunhas tanto em
Jerusalém, como em toda a Judeia e Samaria, e até aos lugares mais distantes do
mundo.»
Aplicando às nossas vidas, Jesus disse que íamos receber poder*… poder para quê? Para sermos suas testemunhas quer, vou
parafrasear, em Lisboa, em Portugal, na Europa e no mundo.
Significa isso que uma
das formas de vivermos o Reino de Deus passa por testemunharmos do Reino
às pessoas que ainda o conhecem.
“Venha o teu reino”
é um pedido para uma vivência
missionária. E eu, sinceramente, nunca tinha pensado nisto.
Assumi recentemente, enquanto pastor da Igreja da Graça, que
desejo, oro e trabalho para que
cresçamos espiritualmente (esta sempre será a essência principal) e também
crescer estruturalmente* e numericamente.
Uma Igreja que só se
preocupa com números aposta muito nos eventos e no entretenimento. Não se
preocupa se as pessoas estão a crescer espiritualmente.
Digo isto com toda a
firmeza: não vale a pena crescermos* se não for para investirmos nas
pessoas… no discipulado. E isto não é só tarefa do pastor. É de toda a Igreja.
Por isso, não devemos convidar as pessoas a assistir ao
culto, mas a participar no culto
como também a participar naquilo que
Deus está a fazer… a participar no Reino.
Temos que dizer chega ao “adepto de bancada” para passarmos
a estar mais tempo no terreno.
Quem abençoou ao longo desta semana com as suas palavras,
gestos ou dinheiro?
Quem ajudou a carregar os fardos nesta caminhada?
Quem honrou com as suas palavras* (Pessoal: “Deus usou-te”*)?
Quando uma Igreja cresce saudavelmente criará um impacto
muito maior na sociedade para que mais pessoas cheguem ao conhecimento da
verdade porque a nossa missão sempre foi
e sempre será fazer discípulos do Senhor Jesus Cristo, para a
glória de Deus Pai, no poder do Espírito Santo.
Posto isto, não está
no meu horizonte pensar em abrir novas Igrejas em Lisboa, acho que
actualmente é quase insustentável, mas sim em tornar a Igreja da Graça forte trabalhando nos lares e podendo
ajudar a revitalizar alguma Igreja (algo que precisamos muito*).
“Venha o teu reino”
Senhor Deus… que isto seja uma realidade
através da forma como vivemos o Evangelho e pela maneira como partilhamos
o Evangelho com quem ainda não conhece a Jesus.
Eu acredito que Deus
tem muito povo para salvar e não vou descansar até perceber que estamos
a fazer tudo ao nosso alcance.
Termino com uma frase forte de alguém que tem influenciado fortemente
a minha vida… Charles Spurgeon - “Todo cristão ou é um missionário ou é um
impostor”.
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