sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

"O pão nossa cada dia dá-nos hoje"

Nestes 3 últimos Domingos, temos estado ao olhar para a oração do “Pai nosso”.
Relembrar que esta oração foi dada por Jesus aos Seus discípulos como modelo para as nossas orações. Não há nada de supersticioso.
Vimos até agora 3 petições:
1.      Santificado seja o teu nome” – quem devemos ser;
2.      Venha o teu reino” – prioridade da nossa vida;
3.      Seja feita a tua vontade assim na terra como nos céus” – desejo para a nossa vida;
Estes 3 pedidos são respeitantes a Deus, quanto ao Seu domínio e à Sua glória, para podermos perceber como o ser humano deve lidar com essas verdades na sua vida.
As próximas petições são respeitantes às nossas necessidades.
Isso indica-nos que podemos orar a Deus sobre as nossas necessidades mediante o padrão que Jesus nos deixou.
Mateus 6:11 “O pão nosso de cada dia dá-nos hoje
Antes de olhar para este versículo devemos ter em mente algumas coisas face a oração:
1.    É uma bênção podermo-nos dirigir a Deus
Isto só acontece por termos a ligação restabelecida com Ele.
Podermos orar e saber que vamos ser ouvidos é simplesmente um acto de bondade e generosidade de Deus para connosco;
2.    É uma bênção não só de nos dirigirmos a Deus como também levar os nossos pedidos até Ele
Se Deus não nos deve nada e ainda permite que possamos pedir alguma coisa, isto deve ser sempre encarado como um privilégio.
Se compreendermos a fundos estes dois aspectos, iremos valorizar cada palavra nesta oração sobre as nossas necessidades.
Vamos perceber se diante dessas necessidades nós ficamos passivos ou, pelo contrário, temos outro tipo de postura.
Pão
Esta palavra indica alimento sólido o qual era considerado mais acessível como mais simples.
Isso mostra-nos, de forma clara, que este pedido a Deus refere-se as nossas necessidades mais básicas tais como o comer, o beber e o vestir.
Curiosamente, podemos ver que são as necessidades que Jesus disse, no final deste capítulo, que não nos devemos preocupar. Devemos, sim, confiar que Ele suprimirá essas mesmas coisas.
Porque é que Jesus falou do “pão” e não de outra coisa qualquer?
Vou levantar aqui algumas ideias as quais, pelo contexto, parecem-me óbvias:
 -> Jesus cuida das nossas necessidades básicas e não das luxuosas
Devemos viver vidas com sentido, sem preocupação com o dia de amanhã e nem preocupados em ter grandes luxos.
Creio que às vezes, por queremos tantas coisas, colocamos a nossa vida familiar em risco. Além disso, esquecemo-nos de celebrar as pequenas coisas que temos.
É raro ver alguém a celebrar o pouco que vai tendo no dia-a-dia. Além disso, se ouvirmos alguém a celebrar esse pouco, talvez achemos que há algo de errado com essa pessoa.
Outro aspecto-> Até nas coisas mais simples, como o pão, precisamos de Deus
Por exemplo, se repararmos em tantas coisas que precisam de acontecer (cereais, combustíveis, água, etc.) para termos o pão, apenas nos resta agradecer a Deus por isso.
Contudo, o ponto não é o “pão” em si.
A principal lição que aprendemos com o “pão” é que Deus cuida realmente das nossas necessidades mais básicas. Então, a preocupação é a evidência de um coração que não confia nas promessas de Deus.
Devemos aprender, também, a agradecer a Deus por tudo o que temos porque tudo o que temos se deve ao próprio Deus.
Pensemos: será que temos mostrado o quanto precisamos de Deus na nossa vida mesmo nas coisas mais básicas como o “pão”?
Por outro lado, quando é que não mostramos o quanto dependemos de Deus na nossa vida? Creio que quando achamos que aquilo que temos se deve ao nosso mérito ou, por outro lado, achamos que conseguimos ser auto-suficientes (conseguimos por nós mesmos).
Por isso, é que muitas vezes perdemos coisas na nossa vida para valorizarmos aquilo que tínhamos.
Atenção que quando eu disse “valorizar”, não é valorizar a coisa em si, caso contrário, cairíamos na idolatria. É valorizar, sim, no sentido de aprendermos a louvar a Deus independentemente do que temos até porque tendo a Cristo, temos tudo.
É importante também sabermos que o facto de pedirmos o “pão nosso” a Deus, não invalida que trabalhemos para ter o pão até porque acreditamos que o trabalho é uma dádiva de Deus.
Algumas notas sobre o trabalho e vamos tentar relacioná-lo com o “pão”:
Génesis 3:19 - mostra-nos que é nossa responsabilidade trabalhar.
Além disso, vemos também que a consequência do pecado não é o trabalho em si (já havia antes da queda). A consequência do pecado é termos dor quando estivermos a trabalhar: como ter ambientes difíceis, pessoas complicadas, ou as pressões que enfrentamos no dia-a-dia.
Nesta perspectiva, devemos saber que ter problemas no trabalho é algo normal neste mundo. Estas coisas são fruto da queda do ser humano no Jardim do Edem.
Em II Tessalonicenses 3:10  Paulo disse “quando aí estivemos, uma das nossas regras de conduta era que quem não trabalha também não tem direito a comer”. 
Significa isso que as pessoas têm que trabalhar para comer. Esta é uma responsabilidade pessoal de cada um de nós.  
Atenção: devemo-nos lembrar sempre que dependemos da providência de Deus mesmo trabalhando.
Também é importante sabermos que há momentos na vida que as pessoas podem ficar sem trabalho e estarem a precisar de ser ajudadas.
Este versículo é um sério aviso para dizermos “não” à preguiça.
Por isso, o melhor que podemos fazer pelas pessoas que não querem trabalhar não é dar-lhes o pão, mas sim ensiná-las a trabalhar.
I Timóteo 5:8 mostra-nos que se alguém não cuidar da família quando esta estiver a precisar, essa pessoa é pior do que a pessoa que não conhece a Cristo.
Curiosidade: foi engraçado estar a preparar a mensagem e ouvir que o preço do “pão” vai subir 20% devido ao aumento dos preços dos cereais, da electricidade, dos combustíveis, dos salários, etc.
Naquele momento, pensei que talvez isto esteja a acontecer para sabermos dar valor àquilo que temos e que nos parece ser algo tão normal.
“Nosso”
Vemos mais uma vez o plural “nosso” o que nos remete para uma oração comunitária com pedidos igualmente comunitários.
Isso obriga-nos a deixar de pensar somente em nós para pensar também nos nossos irmãos.
Temos orado pelos nossos irmãos e pelas suas necessidades?
Temos feito alguma coisa por quem está a precisar?
Temos abençoado alguém? Temos perguntado: “como posso abençoar-te”?
Como reagíamos quando algum irmão pede para orarmos por ele?
Se orámos, é bom dizer que estivemos a orar por ele. Creio que é uma grande bênção poder ouvir alguém a dizer: “eu orei por ti” mais até do que um “vou orar por ti”.
Agora reparemos: assim como pedir o “pãoimpele-nos a trabalhar, também quando pedimos o “pão nosso” implica cuidar dos nossos irmãos na fé que estão a passar por dificuldades.
Este é o grande desafio que encontramos em Gálatas 6:10 “(…) Enquanto é tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos que pertencem à nossa família na fé”.
Quando amamos a Deus, amamos o Seu povo. E amamos o povo de Deus quando oramos e servimos nas suas necessidades.
John Piper “Enquanto houver algum irmão a passar dificuldades na Igreja é porque não estamos a ser Igreja”.
Cada dia
Vemos neste versículo que devemos orar para que o Senhor nos sustente no nosso dia-a-dia com a Sua providência.
Qual a razão de Jesus dizer que devemos pedir a Deus que nos dê o pão nosso para cada dia e não para o ano todo?
Creio que isso se deve ao facto que se recebêssemos tudo de uma vez, talvez nos esquecêssemos como devemos depender de Deus em todos os momentos.
É curioso notar a oração de Agur em Provérbios 30:8-9não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me apenas o pão que eu necessito para viver. Para que, porventura, estando na riqueza não te negue, e venha a dizer: Quem é o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de Deus em vão”.
É interessante olhar para estas palavras… não me dês nem a riqueza para que não me esqueça de ti e nem a miséria para que não venha a roubar e blasfemar o nome de Deus.
É muito comum quase todos dizermos “bastava um pouco mais e ficava melhor”.
No entanto, a falta desse “pouco mais”, muitas vezes, é a maneira que Deus usa para dependermos d’Ele.
Talvez, e contra mim falo, precisamos que fossem retiradas mais coisas na nossa vida para haver mais entrega das nossas vidas a Deus.
Creio, também, que Jesus disse para pedirmos para o dia-a-dia para percebermos que a nossa dívida foi paga na totalidade por Jesus Cristo.  
Este pagamento feito por Jesus é diferente dos outros pagamentos pois além de saldar a dívida garante também dividendos diários na nossa vida. Além disso, o Espírito Santo é a garantia que esses dividendos serão dados pois iremos receber tudo aquilo que precisamos para viver.
Pensemos nisto: o acto de recebermos o pão é a evidência que ainda continuamos a receber bênçãos por causa do amor de Cristo mostrado naquela Cruz.
recebemos bênçãos porque Jesus perdeu tudo na Cruz
Somos desafiados também a pedir para o dia-a-dia porque Deus tem prazer que nos acheguemos a Ele diariamente até porque Ele cuida de nós, também, diariamente.
Precisamos de ter fé para vivermos na dependência de Deus dia após dia. E quando aprendamos a ter esta confiança estamos também a aprender a não ter medo.
A oração lembra-nos que não devemos ter medo de nada até porque Deus é Senhor de ontem, de hoje, do amanhã e para todo o sempre.
Quando o medo chegar até nós (devemos assumir que é uma realidade bem possível), viremo-nos para Deus e digamos: “Pai, eu aceito o Teu cuidado e a Tua provisão nesta momento de aflição”.
Foi esta a certeza do salmista David quando estava a ser quase apanhado pelos filisteus “Quando tiver medo, confiarei em Ti” – Salmos 56:4
Dá-nos hoje
Compreenderemos melhor a bênção da palavra “dá-nos” quando entendemos que tudo o que de bom recebemos é fruto da Graça e onde há Graça não há merecimentoTiago 1:17Tudo o que recebemos de bom e perfeito vem do céu, do Pai”.
Só há “dá-nos” porque Deus na Sua bondade permitiu que pedíssemos.
E enquanto estivermos a pedir a Deus, ao mesmo tempo, devemos reconhecer a nossa incapacidade.
Ao orarmos nestes momentos de necessidade, estamos a afirmar a Deus o seguinte: “Que a Tua luz possa brilhar através das minhas necessidades. Que nestes momentos não seja vista a minha preocupação. Seja vista, sim, a confiança na Tua provisão”.
E confiar na provisão de Deus é desejar que Deus seja glorificado no nosso viver quer quando perdermos, ganharmos, ou até quando somos chamados a viver com contentamento com o que temos.
Deus tem prazer em responder às nossas orações cujo objectivo seja glorificá-lo.
J. I. Packer “A oração de um cristão não é uma tentativa de forçar a mão de Deus, mas é um reconhecimento humilde do nosso desamparo e dependência”.
Quando estivermos a pedir a Deus devemos reconhecer também o nosso desmerecimento
Temos visto vez após vez: receber de Deus nunca é acerca do nosso mérito. Recebemos por causa do mérito de Cristo.
Há promessas na Bíblia para os filhos de Deus (provisão e salvação), mas também há promessas para aqueles que não têm conhecem a Deus (condenação).
Perante a certeza do nosso desmerecimento tenhamos a mesma certeza que o escritor da carta aos Hebreus (4:16): “Aproximemo-nos, pois, com toda a confiança do trono da graça e assim conseguiremos alcançar misericórdia e graça e encontrar ajuda no momento oportuno”.
Só há esperança para a nossa vida quando houver primeiro desespero por sabermos que sem Cristo não somos nada!
O pão nosso cada dia dá-nos hoje” é assim uma afirmação de dependência de Deus perante a nossa incapacidade como também um pedido para sermos bênção para a vida de alguém.
Tenho compreendido que as nossas acções, muitas vezes, são usadas por Deus para responder as orações de alguém. É comum ouvir dizer e até sem sabermos “foste a resposta às minhas orações”.
Que Deus nos ajude!


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