Nestes 3 últimos Domingos, temos estado ao olhar para a
oração do “Pai nosso”.
Relembrar que esta oração foi dada por Jesus aos Seus
discípulos como modelo para as nossas orações. Não há nada de
supersticioso.
Vimos até agora 3 petições:
1. “Santificado seja o teu nome” – quem devemos ser;
2. “Venha o teu reino” – prioridade da nossa vida;
3. “Seja feita a tua vontade assim na terra
como nos céus” – desejo para a
nossa vida;
Estes 3 pedidos são respeitantes a Deus, quanto ao
Seu domínio e à Sua glória, para podermos perceber como o ser humano deve lidar com essas verdades
na sua vida.
As próximas petições são respeitantes às nossas
necessidades.
Isso indica-nos que podemos
orar a Deus sobre as nossas necessidades mediante o padrão que Jesus nos deixou.
Mateus 6:11 “O pão
nosso de cada dia dá-nos hoje”
Antes de olhar para este versículo devemos ter em mente
algumas coisas face a oração:
1.
É uma
bênção podermo-nos dirigir a Deus
Isto só acontece por termos a ligação restabelecida com Ele.
Podermos orar e saber que vamos ser ouvidos é simplesmente um
acto de bondade e generosidade de Deus para connosco;
2.
É uma
bênção não só de nos dirigirmos a Deus como também levar os nossos pedidos até
Ele
Se Deus não nos deve nada e ainda permite que possamos pedir
alguma coisa, isto deve ser sempre
encarado como um privilégio.
Se compreendermos a fundos estes dois aspectos, iremos valorizar cada palavra nesta
oração sobre as nossas necessidades.
Vamos perceber se diante dessas necessidades nós ficamos passivos
ou, pelo contrário, temos outro tipo de postura.
“Pão”
Esta palavra indica alimento sólido o qual era considerado
mais acessível como mais simples.
Isso mostra-nos, de forma clara, que este pedido a Deus refere-se as nossas necessidades mais básicas tais
como o comer, o beber e o vestir.
Curiosamente, podemos ver que são as necessidades que Jesus
disse, no final deste capítulo, que não nos devemos preocupar. Devemos,
sim, confiar que Ele suprimirá essas
mesmas coisas.
Porque é que Jesus falou do “pão” e não de outra coisa qualquer?
Vou levantar aqui algumas ideias as quais, pelo contexto,
parecem-me óbvias:
Devemos viver vidas
com sentido, sem preocupação com
o dia de amanhã e nem preocupados em ter grandes luxos.
Creio que às vezes, por queremos tantas coisas, colocamos
a nossa vida familiar em risco. Além disso, esquecemo-nos de celebrar as pequenas coisas que temos.
É raro ver alguém a celebrar o pouco que vai tendo no
dia-a-dia. Além disso, se ouvirmos alguém a celebrar esse pouco, talvez achemos
que há algo de errado com essa pessoa.
Outro
aspecto-> Até nas coisas mais simples, como o pão, precisamos de Deus
Por exemplo, se repararmos em tantas coisas que precisam de
acontecer (cereais, combustíveis, água, etc.) para termos o pão, apenas nos
resta agradecer a Deus por isso.
Contudo, o ponto não é o “pão” em si.
A principal lição que aprendemos com o “pão” é que Deus cuida realmente das nossas necessidades mais
básicas. Então, a preocupação é a
evidência de um coração que não confia nas promessas de Deus.
Devemos aprender, também, a agradecer a Deus por tudo o que temos porque tudo o que
temos se deve ao próprio Deus.
Pensemos: será
que temos mostrado o quanto precisamos de Deus na nossa vida mesmo nas
coisas mais básicas como o “pão”?
Por outro lado, quando é que não mostramos o quanto
dependemos de Deus na nossa vida? Creio que quando achamos que aquilo que temos se deve ao nosso mérito ou, por outro
lado, achamos que conseguimos ser auto-suficientes (conseguimos por nós
mesmos).
Por isso, é que
muitas vezes perdemos coisas na nossa vida para valorizarmos aquilo que
tínhamos.
Atenção que quando eu disse “valorizar”, não é valorizar a coisa em si, caso
contrário, cairíamos na idolatria. É valorizar, sim, no sentido de aprendermos a louvar a Deus independentemente
do que temos até porque tendo a Cristo, temos tudo.
É importante também sabermos que o facto de pedirmos o “pão nosso” a Deus, não invalida que trabalhemos para ter o pão até porque acreditamos que
o trabalho é uma dádiva de Deus.
Algumas notas sobre o trabalho e vamos tentar relacioná-lo
com o “pão”:
Génesis 3:19 - mostra-nos
que é nossa responsabilidade trabalhar.
Além disso, vemos também que a consequência do pecado não é o trabalho em si (já havia antes da
queda). A consequência do pecado é termos dor quando estivermos a trabalhar:
como ter ambientes difíceis, pessoas complicadas, ou as pressões que
enfrentamos no dia-a-dia.
Nesta perspectiva, devemos saber que ter problemas no trabalho é algo normal neste mundo. Estas
coisas são fruto da queda do ser humano no Jardim do Edem.
Em II Tessalonicenses
3:10 Paulo disse “quando aí estivemos, uma das nossas regras
de conduta era que quem não trabalha também não tem direito a comer”.
Significa isso que as pessoas têm que trabalhar para
comer. Esta é uma responsabilidade pessoal de cada um de nós.
Atenção: devemo-nos
lembrar sempre que dependemos da
providência de Deus mesmo trabalhando.
Também é importante sabermos que há momentos na vida que as pessoas podem ficar sem trabalho e
estarem a precisar de ser ajudadas.
Este versículo é um sério aviso para dizermos “não” à
preguiça.
Por isso, o melhor que podemos fazer pelas pessoas que
não querem trabalhar não é dar-lhes o pão, mas sim ensiná-las a
trabalhar.
I Timóteo 5:8 mostra-nos
que se alguém não cuidar da família
quando esta estiver a precisar, essa pessoa é pior do que a pessoa que não
conhece a Cristo.
Curiosidade: foi
engraçado estar a preparar a mensagem e ouvir que o preço do “pão” vai subir 20% devido ao aumento
dos preços dos cereais, da electricidade, dos combustíveis, dos salários, etc.
Naquele momento, pensei que talvez isto esteja a acontecer
para sabermos dar valor àquilo que temos e que nos parece ser algo tão
normal.
“Nosso”
Vemos mais uma vez o plural “nosso” o que nos remete para uma oração comunitária com pedidos
igualmente comunitários.
Isso obriga-nos a deixar de pensar somente em nós
para pensar também nos nossos irmãos.
Temos orado pelos
nossos irmãos e pelas suas necessidades?
Temos feito alguma coisa por quem está a precisar?
Temos abençoado alguém? Temos perguntado: “como posso
abençoar-te”?
Como reagíamos quando algum irmão pede para orarmos por ele?
Se orámos, é bom dizer que estivemos a orar por ele.
Creio que é uma grande bênção poder
ouvir alguém a dizer: “eu orei por ti”
mais até do que um “vou orar por ti”.
Agora reparemos: assim como pedir o “pão” impele-nos a trabalhar, também quando pedimos o “pão nosso” implica cuidar dos nossos irmãos
na fé que estão a passar por dificuldades.
Este é o grande desafio que encontramos em Gálatas 6:10 “(…) Enquanto é tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos que
pertencem à nossa família na fé”.
Quando amamos a Deus, amamos o Seu povo. E amamos o povo de Deus quando oramos e servimos nas suas necessidades.
John Piper “Enquanto houver algum irmão a passar
dificuldades na Igreja é porque não estamos a ser Igreja”.
“Cada dia”
Vemos neste versículo que devemos orar para que o Senhor nos sustente no nosso dia-a-dia
com a Sua providência.
Qual a razão de Jesus dizer que devemos pedir a Deus que nos dê o “pão nosso” para cada dia
e não para o ano todo?
Creio que isso se deve ao facto que se recebêssemos tudo de uma vez, talvez nos esquecêssemos como devemos
depender de Deus em todos os momentos.
É curioso notar a oração de Agur em Provérbios 30:8-9 “não me
dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me apenas o pão que eu necessito para
viver. Para que, porventura, estando na riqueza não te negue, e venha a dizer:
Quem é o Senhor? ou que, empobrecendo, não venha a furtar, e tome o nome de
Deus em vão”.
É interessante olhar para estas palavras… não me dês nem a riqueza para que
não me esqueça de ti e nem a miséria
para que não venha a roubar e blasfemar o nome de Deus.
É muito comum quase todos dizermos “bastava um pouco mais e
ficava melhor”.
No entanto, a falta
desse “pouco mais”, muitas vezes, é a maneira que Deus usa para dependermos d’Ele.
Talvez, e contra mim falo, precisamos que fossem retiradas mais coisas na nossa vida
para haver mais entrega das nossas vidas a Deus.
Creio, também, que Jesus disse para pedirmos para o dia-a-dia
para percebermos que a nossa dívida foi
paga na totalidade por Jesus Cristo.
Este pagamento feito por Jesus é diferente dos outros pagamentos pois além de saldar a dívida
garante também dividendos diários na
nossa vida. Além disso, o Espírito Santo é a garantia que esses dividendos
serão dados pois iremos receber tudo aquilo que precisamos para viver.
Pensemos nisto: o
acto de recebermos o “pão” é a evidência que ainda continuamos
a receber bênçãos por causa do amor
de Cristo mostrado naquela Cruz.
Só recebemos bênçãos
porque Jesus perdeu tudo na Cruz.
Somos desafiados também a pedir para o dia-a-dia porque Deus
tem prazer que nos acheguemos a Ele
diariamente até porque Ele cuida de nós, também, diariamente.
Precisamos de ter fé para
vivermos na dependência de Deus dia após dia. E quando aprendamos a ter esta
confiança estamos também a aprender a não ter medo.
A oração lembra-nos
que não devemos ter medo de nada até porque Deus é Senhor de ontem,
de hoje, do amanhã e para todo o sempre.
Quando o medo chegar até nós (devemos assumir que é uma
realidade bem possível), viremo-nos para Deus e digamos: “Pai, eu aceito o Teu
cuidado e a Tua provisão nesta momento de aflição”.
Foi esta a certeza do salmista David quando estava a ser
quase apanhado pelos filisteus “Quando
tiver medo, confiarei em Ti” – Salmos
56:4
“Dá-nos hoje”
Compreenderemos melhor a bênção da palavra “dá-nos” quando entendemos que tudo o
que de bom recebemos é fruto da
Graça e onde há Graça não há merecimento – Tiago 1:17 “Tudo o que
recebemos de bom e perfeito vem do céu, do Pai”.
Só há “dá-nos”
porque Deus na Sua bondade permitiu que pedíssemos.
E enquanto estivermos a pedir a Deus, ao mesmo tempo, devemos reconhecer a nossa incapacidade.
Ao orarmos nestes momentos de necessidade, estamos a afirmar
a Deus o seguinte: “Que a Tua luz possa brilhar através das minhas
necessidades. Que nestes momentos não seja vista a minha preocupação. Seja
vista, sim, a confiança na Tua provisão”.
E confiar na provisão
de Deus é desejar que Deus seja
glorificado no nosso viver quer quando perdermos, ganharmos, ou até quando
somos chamados a viver com contentamento com o que temos.
Deus tem prazer em
responder às nossas orações cujo
objectivo seja glorificá-lo.
J. I. Packer “A oração de um cristão não é uma tentativa de
forçar a mão de Deus, mas é um reconhecimento humilde do nosso desamparo e
dependência”.
Quando estivermos a pedir a Deus devemos reconhecer também o nosso desmerecimento.
Temos visto vez após vez: receber de Deus nunca é acerca
do nosso mérito. Recebemos por causa do mérito de Cristo.
Há promessas na
Bíblia para os filhos de Deus (provisão e salvação), mas também há promessas para aqueles que não têm
conhecem a Deus (condenação).
Perante a certeza do nosso desmerecimento tenhamos a mesma
certeza que o escritor da carta aos Hebreus
(4:16): “Aproximemo-nos, pois, com
toda a confiança do trono da graça e assim conseguiremos alcançar misericórdia
e graça e encontrar ajuda no momento oportuno”.
Só há esperança para a nossa vida quando houver primeiro desespero
por sabermos que sem Cristo não somos nada!
“O pão nosso cada dia
dá-nos hoje” é assim uma afirmação de dependência de Deus perante a nossa
incapacidade como também um pedido para sermos bênção para a vida de alguém.
Tenho compreendido que as nossas acções, muitas vezes, são
usadas por Deus para responder as orações de alguém. É comum ouvir dizer e até
sem sabermos “foste a resposta às minhas orações”.
Que Deus nos ajude!
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