sexta-feira, 24 de outubro de 2014

I Coríntios 3:1-9

Temos percebido nesta caminhada que a sabedoria de Deus não é igual à do homem, na medida em que Deus não age como nós. E ainda bem que assim é.
Percebemos também, que Deus salvou muitas pessoas que a sociedade considera sem importância, para que assim Deus fosse exaltado em todas as coisas.
A prova disso é que na comunidade em Corinto, não havia muitas pessoas ricas, “poderosas” ou sábias.
Em terceiro lugar, temos visto a humildade tocante da vida do apóstolo Paulo. Sendo sábio perante os olhos da sociedade, ele não usou dessa sabedoria para o seu engrandecimento pessoal naquela comunidade. Usou palavras para a compreensão de todos, simples e de fácil digestão para quem era novo na fé.
Em quarto lugar, reparámos que a compreensão da mensagem da Cruz surge nas nossas vidas pela acção do Espírito Santo, o qual tocou nos nossos corações e deu-nos esta maravilhosa oportunidade para crer.
 Hoje iremos perceber como a imaturidade cristã é vista através das divisões que são motivadas pelo orgulho.
Significa isso que os problemas da comunidade em Corinto não eram apenas causados pelo exterior, mas também por problemas surgidos dentro da própria comunidade. Esses sim, em certo sentido, os mais difíceis a serem tratados.
I Coríntios 3:1 Eu, porém irmãos, não vos pude falar como a espirituais, e sim como carnais, como crianças em Cristo.
Este é um dos versículos muitas vezes usado de forma errada. Isso acontece quando se interpreta sem analisar o contexto.
Por vezes, isto sucede para se tentar justificar que o cristão pode ser do mundo e não ter qualquer comunhão com a Igreja não prestando assim contas a essa mesma comunidade.
A ideia “eu vivo como quero e ninguém tem nada a ver com isso” é uma expressão mundana e sem qualquer respaldo bíblico. Ou seja, é sabedoria do mundo.
Ao começarmos a ler o versículo, percebemos que Paulo reconhece primeiramente que eles são cristãos. Ele chama-os de “Irmãos”.
Nota: Hoje vamos perdendo o valor e o significado de chamarmos de irmãos às pessoas da nossa comunidade.
Quando estudámos o cap. 2, vimos Paulo a afirmar que eles tinham o Espírito de Cristo e, segundo Rom. 8:9, isso é um sinal da salvação.
O que significa então esta expressão “cristão carnal”?
Algumas pessoas daquela comunidade achavam-se que eram maduras espiritualmente. Achavam que por terem o dom de curas, de línguas e profecias, isso seria sinal de maturidade cristã.
Lembremo-nos do que falámos numa EBD, até os ímpios podem fazer milagres…
Mateus 7:22 Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demónios? E em teu nome não fizemos muitas maravilhas”?
Paulo através dos seus argumentos mostrou-lhes que eles na verdade eram ainda cristãos com pouca profundidade. Eles não tinham a compreensão das consequências do Evangelho da Cruz de Cristo.
Podiam ter até o conhecimento, mas a prática revelava outra coisa. A boca afirmava uma coisa, mas a vida deles proclamava outra.
Desta forma, Paulo falou-lhes como se não tivessem maturidade e, assim, apresentou-lhes nos primeiros 2 capítulos as verdades essenciais do Evangelho e os seus elementos mais básicos.
Eles eram crianças em Cristo, porque agiam sem maturidade.
Concluímos então que o cristão carnal é aquele que tem pouca maturidade cristã, apesar de mostrar evidências da Salvação que teve em Cristo.
Volta e meia, ouvimos dizer que o “cristão carnal” é aquele que aceitou Cristo, mas ainda não é uma nova criatura. Vive como se fosse do mundo embora reconheça que Deus exista. Esta teoria foi falada e ensinada por Lewis Sperry Chafer, pela Bíblia de Referência Scofield e pela “Cruzada Campus para Cristo”. No fundo, é o homem natural, o cristão carnal e o cristão espiritual.
No entanto, tal como vimos a semana passada, na bíblia apenas há a pessoa cristã e a não cristã. Claro que dentro dos cristãos, há os que têm mais ou menos maturidade espiritual, mas não há uma classe em si.
2 Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais.
Ao lermos este versículo percebemos que eles receberam a alimentação correcta aquando a permanência de Paulo naquela cidade.
Por isso, a falta de crescimento daqueles cristãos não foi por culpa do alimento que lhes fora dado. Porque se eles tivessem feito bem a “digestão”, na altura em que Paulo lhes escreveu a carta, já poderiam falar com maturidade cristã e não como crianças em Cristo.
Qual a razão de Paulo ainda os considerar cristãos carnais?
3 Porquanto, havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?
Ou na versão BPT “Orientam-se ainda por critérios mundanos. Quando se deixam levar por invejas e rivalidades, não acham que estão a seguir critérios mundanos?”
Paulo é claro no seu argumento… Quando há rivalidades e ciúmes é porque alguém ainda não cresceu na fé.
As contendas e os ciúmes são obras da carne logo não são o resultado de quem já tem maturidade espiritual.
Os cristãos em Corinto vivam num puro sectarismo, isto é, em divisões dentro da própria Igreja. Assim, Paulo afirmou que quem vive assim, não anda segundo os caminhos de Deus.
As contendas, as divisões sejam elas quais forem, ou o “diz que disse”, não devem existir nas pessoas que são guiadas pelo Espírito.
Se queremos saber o nível de maturidade cristã que temos, basta analisar a forma como vivemos a vida comunitária tanto na sua forma visível, como na invisível.
Nota: Este texto é mais uma prova de que a Bíblia não é a favor dos “desigrejados”, daqueles que dizem que podem viver a sua vida cristã sem uma comunidade. Estas pessoas são aquelas que dizem que acreditam em Deus, têm as suas orações e lêem a Bíblia sendo que não precisam de Igreja porque isso é coisa de homens.
Como é que estas pessoas interpretam estas passagens?
Biblicamente as Igrejas são usadas por Deus para a redenção/transformação das nossas vidas, por isso é o local onde devemos resolver os nossos problemas e onde as pessoas oram umas pelas outras, porque o problema de um é o problema do outro. Choramos e rimos, com quem chora e ri.
Ao analisarmos os primeiros capítulos percebemos que Paulo usou “Leite” para com eles ao mostrar-lhes o caminho da Cruz. Isto devia-os fazer humildes para com Deus e para com o próximo. No entanto, eles não digeriram este alimento.
Por outro lado, o que será o alimento sólido? Iremos perceber isso nos versículos a seguir quando Paulo explica a razão da infantilidade cristã e, por outro lado, como é que eles deveriam viver.
4 Quando, pois, alguém diz “Eu sou de Paulo”, e outro “Eu de Apolo”, não é evidente que andais segundo os homens?
5 Quem é Apolo? E quem é Paulo? Servos por meio de quem crestes, e isto conforme o Senhor concedeu a cada um.
6 Eu plantei, Apolo regou, mas o crescimento veio de Deus.
Haver divisões ou partidos dentro da comunidade é sinal evidente da falta da compreensão da “Mensagem da Cruz”.
Já percebemos as razões pelas quais uns diziam que eram de Apolo e outros de Paulo. Resumidamente era uma questão de orgulho e protagonismo.
Paulo diz claramente que os líderes espirituais da Igreja são apenas meros instrumentos para a conversão deles e, lembrando o que fora dito anteriormente, essa conversão não estava baseada na pessoa que eles eram, mas sim em quem o Espírito Santo operava.
As conversões existentes na comunidade não estão em nada ligadas ao mérito do ser humano. Estão sim ligadas ao que Deus conceder à Igreja através da pregação fiel do Evangelho.
Notemos ainda alguns aspectos…
1º Somos chamados a ser pregadores fiéis da Palavra.
Pensemos no profeta Jeremias… Deus chamou-o para o ministério. Ele pregou de forma fiel e ninguém se converteu.
A verdade é que Jeremias entristeceu-se imenso, o que é normal porque lidava com questões eternas mas Deus considerou-o servo fiel.
Nos dias de hoje, provavelmente sabendo o “resultado estatístico” da sua pregação, ninguém o convidaria para pregar em conferências evangelísticas nas Igrejas.
No entanto, Deus considerou-o fiel porque ele pregou com toda a fidelidade a Palavra de Deus.
Ao analisarmos o V6, percebemos que o crescimento é dado por Deus através da pregação do Evangelho.
O homem não tem poder algum para controlar os efeitos da Palavra de Deus na vida do ímpio. Se por acaso controlar, é porque está a pregar outra coisa qualquer que não o Evangelho.
Assim, entendemos que por mais excelente que seja o ministério de alguém, no fim tudo depende de Deus.
Em 2º lugar… Paulo considerou-se “servo”.
A palavra no original significa “escravo”, logo escravo de Deus.
Lembremo-nos que Paulo estava a combater o orgulho o qual nada mais é do que o motor de toda e qualquer divisão ou contenda.
Ao considerarmo-nos escravos, percebemos quem somos diante de Deus. Ao percebermos isso, iremos viver as nossas vidas de forma humilde e não arrogante, porque o arrogante não entende a sua posição diante de Deus.
3º Lugar… Paulo e Apolo tinham diferentes ministérios.
Paulo afirmou que no ministério há diferentes funções. No entanto, todos são servos. Significa isto que ninguém é mais importante do que ninguém.
Paulo diz que plantou, Apolo que semeou mas no fim de contas é Deus quem faz as contas.
Por isso, evitemos comparações de ministérios mediante os resultados, porque em último grau, o aspecto decisivo é a Soberania de Deus.
7 De modo que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento.
A humildade de Paulo é tremenda… Para mim um dos servos mais fiéis em toda a Bíblia, que mais vidas impactou com o Evangelho e no fim quase da sua vida diz “Eu não sou nada. Tudo vem, é e vai para Deus. Eu sou um mero instrumento”.
Deus pode realizar a Sua obra através de pessoas fiéis a Ele.
No entanto, Deus também pode usar pessoas perversas, a nossa dor, ou até mesmo algo que nunca imaginámos. Até uma burra Ele usou para chamar os Seus. Ele é dono de tudo.
Quem somos nós? Nada… Mas mesmo assim Deus nos ama por causa de ser quem Ele é.
No entanto, para aqueles que são usados por Ele podem ter a certeza…
8-9A Ora, uma só coisa é o que planta e o que rega; e cada um receberá o seu galardão segundo o seu trabalho. Porque nós somos cooperadores de Deus;
Todos somos um, apesar de termos diferentes funções.
Servimos a Deus como servos apesar de que, segundo o texto, no fim seremos recompensados pela Sua Graça.
Uma coisa é ser recompensado e outra coisa é ser dada Glória e toda a Glória deve ser dada exclusivamente a Deus, porque Ele é o dono dos campos, dos ceifeiros e da ceifa.
Deus é o único que tem poder para fazer a semente germinar.
Então, se ainda não tinham entendido o mais básico da vida cristã – a ligação a Cristo faz-nos ser unidos uns aos outros – como poderiam entender o resto?
Aplicando…
1º Beber leite espiritual não é sinal de humildade, é sinal sim de falta de crescimento na vida cristã.
Aqueles cristãos em Corinto não tinham crescido espiritualmente.
Percebemos isso quando o Apóstolo Paulo ao escrever esta carta lhes disse que ainda tinha que lhes dar o leite espiritual porque ainda não conseguiam digerir o alimento sólido. E tudo isto motivado pelo orgulho.
Será que o “bê-á-bá” ainda nos chega? Será que para nós o leite espiritual é suficiente?
Normalmente estas pessoas são aquelas que gostam apenas de cantar – “Louvorzão sem pregação”. Querem mensagens simples – entretenimento - que não as desafie a pensar e a analisar a sua vida para não as obrigar a fazer escolhas ou resoluções.
Spurgeon afirmou: “O diabo nunca criou algo tão perspicaz como sugerir à igreja que a sua missão consiste em prover entretenimento para as pessoas, tendo em vista ganhá-las para Cristo”.
Estas pessoas sabem que crescer dói, então preferem ser sempre pequenos. São orgulhosas por não quererem crescer e acham que assim estão bem.
 É uma falsa humildade acharmos que seremos sempre pequenos, logo o leite basta. O que não invalida que volta e meia se beba deste leite.
O cristão carnal é aquele que revela imaturidade espiritual. No entanto, temos de ter cuidado ao dizermos que alguém é um cristão carnal, quando essa pessoa não quer saber da Igreja, ainda que tenha seguido a Cristo durante determinado tempo ou até chegado a levantar o braço e a fazer a oração do pecador.
Se vive no pecado, temos que pensar se é de facto cristão e não um cristão carnal.
O filho de Deus não vive no pecado como forma de vida, ainda que possa cair várias vezes.
Quando tratamos o pecado por tu, é porque já tratamos há muito tempo o Espírito Santo por você.
Estes cristãos carnais reuniam-se para adoração e invocavam a Cristo. Não eram “desigrejados”.
2º O orgulho não permite fazer a digestão porém a humildade é o melhor remédio.

Paulo disse claramente que não lhes podia passar o alimento sólido porque eles não o podiam suportar, daí ter-lhes dado apenas o leite espiritual.
Mesmo tendo algum tempo de vida cristã, eles ainda eram bebés na vida espiritual. E nós quem somos? Temos crescido?
Crescer dói… Mas o Evangelho obriga-nos a isso.
Estagnação espiritual é sinal de quem está bem com a vida e não com Deus.
No processo de alimentação*, os alimentos que ingerimos vão para o estomago onde são pré-digeridos e esterilizados, a fim de seguirem para o intestino delgado, onde são absorvidos.
Quando há paragens de digestão, foi porque o estomago não fez a sua função. Isso traz dor e muito mal-estar.
Na vida cristã, quando há orgulho, não conseguimos digerir o que nos é dado e então entramos em “paragem de digestão espiritual”.
Sabemos que a comida é boa – Evangelho - por isso, se não houver uma boa digestão, é culpa de algum elemento que fez com que a digestão não acontecesse – sabedoria do mundo – ou porque o nosso estomago não fez bem o seu processo – existência de orgulho.
A Igreja tem que ser um local que dá o bom alimento mas também que ajuda à digestão do mesmo.
Temos que ser uma comunidade usada por Deus para a restauração de vidas, onde abençoamos e ajudamos as pessoas. É verdade que por vezes a Igreja fere, no entanto, é a mesma que restaura.
Temos sido humildes? Quando há humildade, há união. Quando há humildade, há vontade de fazer mudanças na vida pessoal, familiar, congregacional e até no nosso trabalho.
Por vezes queremos ser apenas alimentados por “leite espiritual” porque se formos mais longe, sabemos que temos que fazer mudanças na nossa vida. E nós não gostamos que mexam na nossa zona de conforto.
Temos feito mudanças ao longo deste tempo? Somos os mesmos desde há um ano atrás? Serei o mesmo do que há 2 meses atrás?
Ou o orgulho está a fazer com que andemos com paragem de digestão espiritual?
Que Deus faça de nós bênçãos.
3º Um dos grandes desafios da vida cristã passa por proclamar com a nossa vida aquilo que a nossa boca afirma.
Paulo pedia aos Coríntios que fossem coerentes. Se falavam do Evangelho de Cristo, se tinham visto exemplos de abnegação, como é que eles podiam viver em contendas e divisões? Tem de haver coerência.
A Igreja tem que ser uma comunidade redentora onde as pessoas afirmam e vivem a mesma coisa. E onde ajudam outros a crescer mesmo na dor.
Muitas vezes os cristãos não partilham os seus problemas na Igreja, para não terem que ouvir o irmão do lado dizer "Eu sempre soube que ele era fraco na fé" ou "Eu tinha razão em relação a ele".
É este tipo de julgamentos que não podemos ter dentro das nossas comunidades. Somos chamados por Deus para sermos comunidades redentoras.
Tem a nossa Igreja sido útil ao Evangelho? Tenho eu sido útil ao Evangelho? Somos uma comunidade que ajuda a digerir o alimento ou apenas ajudamos na paragem de digestão?
4º A procura do sucesso está intimamente ligada à sabedoria do mundo, mas a fidelidade à Palavra está intimamente ligada à confiança na Soberania de Deus.
Não nos preocupemos em ser bem-sucedidos na pregação do Evangelho. Preocupemo-nos sim em pregar com fidelidade. É Deus quem dá o verdadeiro crescimento.
Não fiquemos tristes se outros colherem o que semeámos, porque nem um, nem outro são importantes em si. Deus sim é importante porque é dono de tudo.
Na Igreja há ministérios mais visíveis e menos visíveis.
Preocupemo-nos em fazer todas as coisas com competência e sublimidade.
Estamos nós a dar tudo ao serviço da Igreja? Ou somos procrastinadores* por excelência?
O importante para Deus não está no conhecimento em si, mas num conhecimento que leva a uma vivência.

Que Deus nos use.

Sem comentários:

Enviar um comentário