1 Por isso, irmãos, ao chegar à vossa terra não fui
anunciar-vos o plano de Deus com grandes discursos e muita sabedoria.
O apóstolo Paulo sentia que o Evangelho estava a ser
colocado em causa na forma como estava a ser ensinado aos cristãos.
Interessante notar, que o fervor que Paulo tinha pela
proclamação do Evangelho, era o mesmo
fervor que ele tinha para ensinar doutrina e, assim, corrigir qualquer
desvio doutrinário. Mesmo nas mais pequenas coisas.
Neste versículo, percebemos que há aqui um elo de ligação com o texto que vem anteriormente. Ou seja, Paulo exortou-os a pregarem o puro Evangelho e
pedia para fazerem isso porque essa era a medida que ele lhes tinha deixado.
Paulo tinha esta coragem de pedir que o imitassem,
não com o sentido de arrogância ou orgulho, mas porque a sua vida imitava a
Cristo.
Filipenses 4:9 “O que também aprendestes, e recebestes, e
ouvistes, e vistes em mim, isso
fazei; e o Deus de paz será convosco”.
O foco não estava em Paulo, mas sim naquilo que Deus
fazia através da vida de Paulo.
Esta preocupação para com a
pregação clara e pura do Evangelho tinha uma razão de ser.
Em II Cor. 10:4-5
vemos Paulo a combater ideias “Sofistas”. “Porque
as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para
destruir fortalezas, anulando nós sofismas, e toda a altivez que se levante contra o
conhecimento de Deus, e levando cativo todo o pensamento à obediência de Cristo”.
Muito interessante notar também o que diz Platão sobre os
sofistas - “os sofistas não se preocupam
em absoluto com obter a solução certa, mas desejam unicamente conseguir que
todos os ouvintes estejam de acordo com eles”.
Sendo assim, podemos perceber que a principal preocupação
naquela altura, era com o discurso
retórico voltado para as pessoas e para com as suas necessidades,
para que assim ficassem “encantadas” com o orador. Discurso voltado para o
agrado de quem o ouve.
Muitos de vós devem saber que fui comercial numa empresa de
expressão mundial e outra local. Tínhamos muitas formações de vendas
para sabermos como deveríamos chegar até ao cliente. Éramos bombardeados
dia após dia com essas informações. A ideia básica passava por servir as
necessidades do cliente satisfazendo-o com os nossos produtos, para
que ficassem fidelizados à companhia.
Muitos pensam que a proclamação do Evangelho está
relacionado com “Marketing ao serviço da Igreja”. Saber que necessidades as
pessoas têm, servi-las, falar o que elas gostam, para que
consigamos que elas venham à Igreja e depois que se possam manter.
Com isto, estamos a criar, como se fosse possível, um evangelho ao sabor da pessoa. Aliás,
muitas vezes criam até ambientes (um piano a tocar no momento do apelo, as
luzes mais baixas, etc.) para que seja mais fácil as pessoas tomarem uma decisão
por Cristo.
No entanto, tal como temos visto, uma pessoa não cristã não sabe quais são as suas necessidades. Os
seus olhos estão fechados. No entanto, Deus desafia-nos a proclamar o
Evangelho tal como ele é. Ele simplesmente diz “Prega o Evangelho e eu
darei o crescimento. Simplesmente prega e não te preocupes com mais nada”.
Vejamos o que diz 1
Coríntios 3:6 “Eu plantei, Apolo
regou; mas Deus deu o crescimento”.
Muito curioso notar o que diz Paul Washer “Se pregamos o que as pessoas gostam de
ouvir, elas ficarão convertidas a si próprias e, depois, ficarão apenas na
Igreja enquanto as coisas lhe agradarem quer aos olhos, quer também aos ouvidos”.
2 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e
este ressuscitado.
Numa leitura mais desatenta deste versículo e ao não
contextualiza-lo com os outros textos bíblicos, poderíamos achar que a única
coisa importante na vida da Igreja é a pregação sobre Cristo e o resto é
secundário.
No entanto, podemos dizer de forma convicta, que pregar
Cristo ressuscitado é fundamental para a
vida da igreja, embora seja também necessário pregar todo o conselho de
Deus, o qual deriva do entendimento correcto da obra de Cristo.
É precisamos isso o que diz Atos 20:27 “Porque nunca
deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus”.
Paulo ficou ano e meio – Actos 18:11 – a ensinar então toda a Palavra de Deus.
No entanto, o foco
da sua pregação para os ímpios era a pessoa de Jesus Cristo e a Sua obra na
Cruz. Porquê? Porque até essas pessoas crerem, não há nada mais
importante que nos possamos dizer ou até mesmo fazer.
Tal como temos falado, a maior necessidade do ser humano é de reconciliar-se com Deus.
Não há outro Evangelho a não ser o “Evangelho de Jesus
Cristo”, o qual foi crucificado e no 3º dia ressuscitou.
Se isso não fosse verdade, era vã a nossa fé (I Cor. 15:14).
Curioso notar também neste V2, Paulo a dizer que “nada decidi saber entre vós”. Significa
isto que ele não queria saber dos gostos pessoais de cada um, para assim
poder agradá-los. Ele simplesmente quis pregar o puro Evangelho.
Não se preocupou em agradar as pessoas, mas sim agradar o
próprio Deus. E ele sabia que a mensagem que faria toda a diferença era a
“Mensagem da Cruz2.
Por outro lado, Paulo também não queria saber nada mais
deles, porque quem os definia era Cristo
e não as coisas. Logo, não havia pessoas mais ou menos importantes
dentro da comunidade.
Quando temos esta percepção, é porque sabemos que Cristo é tudo para nós.
Em tudo o que existe, Cristo é quem dá consistência, une
as partes todas e faz uma só.
Sem Cristo a vida não faz sentido.
Imagem de
um Puzzle
* Peças soltas –
Não sabemos a razão de certas coisas.
* Começa-se a
perceber de onde são – Deus mostra que tudo encaixa no Seu divino
propósito. Não são mais as coisas que nos trazem sentido, mas sim o próprio
Cristo.
* Percebemos como
tudo está tão ligado – Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que
amam a Deus.
* Puzzle final sempre
de acordo com a Sua vontade. – Aceitamo-lo porque Jesus é Senhor e devemos
glorificá-lo em todas as coisas e tudo isto será para o nosso bem.
3 Entrei no vosso meio como um homem sem forças, cheio de
medo e ansiedade.
Antes de chegar a Corinto, Paulo foi espancado e preso em
Filipos – percebemos isso na carta aos Filipenses – expulso de Tessalónica
e Bereia e foi maltratado em Atenas. Por isso, ele afirma que foi fraco fisicamente
até ao meio deles.
Será que isso fê-lo desistir? Com toda a certeza que não.
Foi na certeza que
Cristo é tudo em todos, que Paulo proclamou a mensagem. Foi ao reconhecer
a sua fraqueza que ele tornou-se forte no Senhor.
Não usou técnicas de manipulação e nem usou de
autocomiseração para mostrar o seu “aparente valor”.
4 E a minha mensagem, a minha pregação, não foi marcada pela
persuasão da sabedoria humana, mas pela manifestação do Espírito e do poder de
Deus,
Mais uma vez… A preocupação do apóstolo Paulo passava por pregar
com fidelidade aquilo que recebeu do Senhor Jesus.
No entanto, quando ele diz que a pregação dele não foi
marcada pela persuasão da sabedoria humana, significa isto que a mensagem do Evangelho é sempre a mesma e,
por isso, não pode ser contextualizado ao proclamado ao “sabor” dos ouvintes.
As pressões culturais foram claramente ignoradas por Paulo.
Não podemos pensar com isto tudo, que Paulo era um
comunicador fraco e apenas escrevia estas coisas para desculpar-se da
sua pouca eloquência ou sabedoria.
Antes pelo contrário, em Actos 14:12 percebemos que face à sabedoria com que Paulo falava,
foi-lhe dado o nome de Hermes pelos pagãos,
que nada mais era do que o deus grego da comunicação.
Dessa forma, a preocupação de Paulo não era que os seus
“ouvintes” ficassem impressionados com o “orador”, mas sim com a Senhor desse orador.
Nada podia distrair do foco/conteúdo da própria mensagem.
Nada de artifícios. O centro era
sempre o Evangelho.
D. A. Carson “É a
verdade e o poder do Evangelho que têm de mudar a vida das pessoas, e não o
glamour da nossa oratória ou o poder emocional das nossas histórias”.
Qual o objectivo? Porquê tanta preocupação com a proclamação
da mensagem da Cruz?
5 Para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos
homens, mas no poder de Deus.
A vida do cristão tem que estar apoiada em Deus e não
em qualquer outra coisa.
O significado e a razão do nosso
viver só pode ser Cristo.
Podemos perder tudo, ainda que possamos ter muita dor, mas
mesmo assim dizermos de forma convicta… Jó 19:25-29 “Porque eu sei que o meu Redentor vive… Eu
sei que o Deus da vida é o meu libertador e Ele tem a última palavra contra a
morte. E, depois de assim se ter desfeito a minha pele, de novo vivo, poderei
ver a Deus. Hei-de vê-lo a meu favor, hei-de vê-lo com os meus olhos, sem
estranhar. O meu coração anseia por que isso aconteça”.
Temos sentido a nossa fé firmada no poder do nosso Deus?
Ou vacila facilmente perante as adversidades da vida?
Aplicando…
1º Quando queremos o Evangelho e alguma coisa mais, é
porque o próprio Evangelho em si não nos chega.
Se alterarmos a mensagem achando que assim será mais
fácil as pessoas chegarem ao conhecimento da verdade, em certo sentido é
porque achamos que aquilo que Deus diz
na Sua Palavra talvez não seja assim tão poderoso para salvar vidas. Em
última análise, estamos a dizer que o poder está em nós e não no Espírito
Santo.
Quando proclamamos o Evangelho, oramos para que o Espírito
Santo leve os ouvintes a dar glória a Deus e não glória a nós próprios.
É Deus que tem de ser louvado e não a nossa eloquência.
Quem tem a necessidade de ser reconhecido pelos outros, é
porque a aceitação de Deus não lhe chega. Ou seja, ser uma pessoa
reconhecida não é pecado, é pecado sim quando fazemos ou proclamamos algo
para sermos reconhecidos pelos homens.
2º Nós pregamos a perfeição de Cristo porque se fosse
pela nossa perfeição, então não teríamos nada a dizer.
No entanto, se falássemos e não lutássemos para sermos
perfeitos, então aí seríamos uns hipócritas.
Martyn Lloid-Jones "O Evangelho não é algo que fazemos,
é uma proclamação e um anúncio do que Deus já fez".
Tal como temos visto, nós não vivemos para conquistar, nós
vivemos porque já fomos conquistados por Cristo. E é essa conquista que nós
queremos proclamar.
3º Se a maior necessidade das pessoas é ouvirem o
Evangelho, logo faz todo o sentido que a missão principal da Igreja seja a
proclamação do Evangelho.
O bem que podemos fazer pelas pessoas eternamente é muito
mais poderoso do que o bem que podemos fazer a nível, por exemplo, social ainda
que tenhamos essa responsabilidade.
4º Quando estamos preocupados com a beleza do nosso
discurso, é porque na verdade não consideramos que o Evangelho em si seja belo.
Quem se preocupa em agradar as pessoas para que estas fiquem
encantadas com a eloquência do seu discurso, é porque na verdade não está
preocupado com estas vidas na verdade. A preocupação destas pessoas é a sua
própria Glória e não a Glória de Deus.
Quando ouvimos as pregações pensamos “Este pregador é
espectacular” ou “Este pregador prega a Palavra da Verdade… Deus é tremendo”.
Se pregarmos e vivermos a Palavra, tenhamos a certeza que as
nossas vidas estarão firmadas no Senhor.
Ao chegarem as maiores tempestades da vida ainda assim
podemos dizer convictamente “Eu sei que o meu redentor vive”.
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