sexta-feira, 17 de outubro de 2014

I Cor. 2:1-5

1 Por isso, irmãos, ao chegar à vossa terra não fui anunciar-vos o plano de Deus com grandes discursos e muita sabedoria.
O apóstolo Paulo sentia que o Evangelho estava a ser colocado em causa na forma como estava a ser ensinado aos cristãos.
Interessante notar, que o fervor que Paulo tinha pela proclamação do Evangelho, era o mesmo fervor que ele tinha para ensinar doutrina e, assim, corrigir qualquer desvio doutrinário. Mesmo nas mais pequenas coisas.
Neste versículo, percebemos que há aqui um elo de ligação com o texto que vem anteriormente. Ou seja, Paulo exortou-os a pregarem o puro Evangelho e pedia para fazerem isso porque essa era a medida que ele lhes tinha deixado.
Paulo tinha esta coragem de pedir que o imitassem, não com o sentido de arrogância ou orgulho, mas porque a sua vida imitava a Cristo.
Filipenses 4:9O que também aprendestes, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso fazei; e o Deus de paz será convosco”.
O foco não estava em Paulo, mas sim naquilo que Deus fazia através da vida de Paulo.
Esta preocupação para com a pregação clara e pura do Evangelho tinha uma razão de ser.
Em II Cor. 10:4-5 vemos Paulo a combater ideias “Sofistas”. “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas, e toda a altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o pensamento à obediência de Cristo”.
Muito interessante notar também o que diz Platão sobre os sofistas - “os sofistas não se preocupam em absoluto com obter a solução certa, mas desejam unicamente conseguir que todos os ouvintes estejam de acordo com eles”.
Sendo assim, podemos perceber que a principal preocupação naquela altura, era com o discurso retórico voltado para as pessoas e para com as suas necessidades, para que assim ficassem “encantadas” com o orador. Discurso voltado para o agrado de quem o ouve.
Muitos de vós devem saber que fui comercial numa empresa de expressão mundial e outra local. Tínhamos muitas formações de vendas para sabermos como deveríamos chegar até ao cliente. Éramos bombardeados dia após dia com essas informações. A ideia básica passava por servir as necessidades do cliente satisfazendo-o com os nossos produtos, para que ficassem fidelizados à companhia.
Muitos pensam que a proclamação do Evangelho está relacionado com “Marketing ao serviço da Igreja”. Saber que necessidades as pessoas têm, servi-las, falar o que elas gostam, para que consigamos que elas venham à Igreja e depois que se possam manter.
Com isto, estamos a criar, como se fosse possível, um evangelho ao sabor da pessoa. Aliás, muitas vezes criam até ambientes (um piano a tocar no momento do apelo, as luzes mais baixas, etc.) para que seja mais fácil as pessoas tomarem uma decisão por Cristo.
No entanto, tal como temos visto, uma pessoa não cristã não sabe quais são as suas necessidades. Os seus olhos estão fechados. No entanto, Deus desafia-nos a proclamar o Evangelho tal como ele é. Ele simplesmente diz “Prega o Evangelho e eu darei o crescimento. Simplesmente prega e não te preocupes com mais nada”.
Vejamos o que diz 1 Coríntios 3:6Eu plantei, Apolo regou; mas Deus deu o crescimento”.
Muito curioso notar o que diz Paul Washer “Se pregamos o que as pessoas gostam de ouvir, elas ficarão convertidas a si próprias e, depois, ficarão apenas na Igreja enquanto as coisas lhe agradarem quer aos olhos, quer também aos ouvidos”.
2 Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este ressuscitado.
Numa leitura mais desatenta deste versículo e ao não contextualiza-lo com os outros textos bíblicos, poderíamos achar que a única coisa importante na vida da Igreja é a pregação sobre Cristo e o resto é secundário.
No entanto, podemos dizer de forma convicta, que pregar Cristo ressuscitado é fundamental para a vida da igreja, embora seja também necessário pregar todo o conselho de Deus, o qual deriva do entendimento correcto da obra de Cristo.
É precisamos isso o que diz Atos 20:27Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus”.
Paulo ficou ano e meio – Actos 18:11 – a ensinar então toda a Palavra de Deus.
 No entanto, o foco da sua pregação para os ímpios era a pessoa de Jesus Cristo e a Sua obra na Cruz. Porquê? Porque até essas pessoas crerem, não há nada mais importante que nos possamos dizer ou até mesmo fazer.
Tal como temos falado, a maior necessidade do ser humano é de reconciliar-se com Deus.
Não há outro Evangelho a não ser o “Evangelho de Jesus Cristo”, o qual foi crucificado e no 3º dia ressuscitou.
Se isso não fosse verdade, era vã a nossa fé (I Cor. 15:14).
Curioso notar também neste V2, Paulo a dizer que “nada decidi saber entre vós”. Significa isto que ele não queria saber dos gostos pessoais de cada um, para assim poder agradá-los. Ele simplesmente quis pregar o puro Evangelho.
Não se preocupou em agradar as pessoas, mas sim agradar o próprio Deus. E ele sabia que a mensagem que faria toda a diferença era a “Mensagem da Cruz2.
Por outro lado, Paulo também não queria saber nada mais deles, porque quem os definia era Cristo e não as coisas. Logo, não havia pessoas mais ou menos importantes dentro da comunidade.
Quando temos esta percepção, é porque sabemos que Cristo é tudo para nós.
Em tudo o que existe, Cristo é quem dá consistência, une as partes todas e faz uma só.
Sem Cristo a vida não faz sentido.
Imagem de um Puzzle
* Peças soltas – Não sabemos a razão de certas coisas.
* Começa-se a perceber de onde são – Deus mostra que tudo encaixa no Seu divino propósito. Não são mais as coisas que nos trazem sentido, mas sim o próprio Cristo.
* Percebemos como tudo está tão ligado – Todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus.
* Puzzle final sempre de acordo com a Sua vontade. – Aceitamo-lo porque Jesus é Senhor e devemos glorificá-lo em todas as coisas e tudo isto será para o nosso bem.
3 Entrei no vosso meio como um homem sem forças, cheio de medo e ansiedade.
Antes de chegar a Corinto, Paulo foi espancado e preso em Filipos – percebemos isso na carta aos Filipenses – expulso de Tessalónica e Bereia e foi maltratado em Atenas. Por isso, ele afirma que foi fraco fisicamente até ao meio deles.
Será que isso fê-lo desistir? Com toda a certeza que não.
Foi na certeza que Cristo é tudo em todos, que Paulo proclamou a mensagem. Foi ao reconhecer a sua fraqueza que ele tornou-se forte no Senhor.
Não usou técnicas de manipulação e nem usou de autocomiseração para mostrar o seu “aparente valor”.
4 E a minha mensagem, a minha pregação, não foi marcada pela persuasão da sabedoria humana, mas pela manifestação do Espírito e do poder de Deus,
Mais uma vez… A preocupação do apóstolo Paulo passava por pregar com fidelidade aquilo que recebeu do Senhor Jesus.
No entanto, quando ele diz que a pregação dele não foi marcada pela persuasão da sabedoria humana, significa isto que a mensagem do Evangelho é sempre a mesma e, por isso, não pode ser contextualizado ao proclamado ao “sabor” dos ouvintes. As pressões culturais foram claramente ignoradas por Paulo.
Não podemos pensar com isto tudo, que Paulo era um comunicador fraco e apenas escrevia estas coisas para desculpar-se da sua pouca eloquência ou sabedoria.
Antes pelo contrário, em Actos 14:12 percebemos que face à sabedoria com que Paulo falava, foi-lhe dado o nome de Hermes pelos pagãos, que nada mais era do que o deus grego da comunicação.
Dessa forma, a preocupação de Paulo não era que os seus “ouvintes” ficassem impressionados com o “orador”, mas sim com a Senhor desse orador.
Nada podia distrair do foco/conteúdo da própria mensagem. Nada de artifícios. O centro era sempre o Evangelho.
D. A. Carson “É a verdade e o poder do Evangelho que têm de mudar a vida das pessoas, e não o glamour da nossa oratória ou o poder emocional das nossas histórias”.
Qual o objectivo? Porquê tanta preocupação com a proclamação da mensagem da Cruz?
5 Para que a vossa fé não se apoiasse na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus.
A vida do cristão tem que estar apoiada em Deus e não em qualquer outra coisa.
O significado e a razão do nosso viver só pode ser Cristo.
Podemos perder tudo, ainda que possamos ter muita dor, mas mesmo assim dizermos de forma convicta… Jó 19:25-29 Porque eu sei que o meu Redentor vive… Eu sei que o Deus da vida é o meu libertador e Ele tem a última palavra contra a morte. E, depois de assim se ter desfeito a minha pele, de novo vivo, poderei ver a Deus. Hei-de vê-lo a meu favor, hei-de vê-lo com os meus olhos, sem estranhar. O meu coração anseia por que isso aconteça”.
Temos sentido a nossa fé firmada no poder do nosso Deus? Ou vacila facilmente perante as adversidades da vida?
Aplicando…
1º Quando queremos o Evangelho e alguma coisa mais, é porque o próprio Evangelho em si não nos chega.
Se alterarmos a mensagem achando que assim será mais fácil as pessoas chegarem ao conhecimento da verdade, em certo sentido é porque achamos que aquilo que Deus diz na Sua Palavra talvez não seja assim tão poderoso para salvar vidas. Em última análise, estamos a dizer que o poder está em nós e não no Espírito Santo.
Quando proclamamos o Evangelho, oramos para que o Espírito Santo leve os ouvintes a dar glória a Deus e não glória a nós próprios.
É Deus que tem de ser louvado e não a nossa eloquência.
Quem tem a necessidade de ser reconhecido pelos outros, é porque a aceitação de Deus não lhe chega. Ou seja, ser uma pessoa reconhecida não é pecado, é pecado sim quando fazemos ou proclamamos algo para sermos reconhecidos pelos homens.
2º Nós pregamos a perfeição de Cristo porque se fosse pela nossa perfeição, então não teríamos nada a dizer.
No entanto, se falássemos e não lutássemos para sermos perfeitos, então aí seríamos uns hipócritas.
Martyn Lloid-Jones "O Evangelho não é algo que fazemos, é uma proclamação e um anúncio do que Deus já fez".
Tal como temos visto, nós não vivemos para conquistar, nós vivemos porque já fomos conquistados por Cristo. E é essa conquista que nós queremos proclamar.
3º Se a maior necessidade das pessoas é ouvirem o Evangelho, logo faz todo o sentido que a missão principal da Igreja seja a proclamação do Evangelho.
O bem que podemos fazer pelas pessoas eternamente é muito mais poderoso do que o bem que podemos fazer a nível, por exemplo, social ainda que tenhamos essa responsabilidade.
4º Quando estamos preocupados com a beleza do nosso discurso, é porque na verdade não consideramos que o Evangelho em si seja belo.
Quem se preocupa em agradar as pessoas para que estas fiquem encantadas com a eloquência do seu discurso, é porque na verdade não está preocupado com estas vidas na verdade. A preocupação destas pessoas é a sua própria Glória e não a Glória de Deus.
Quando ouvimos as pregações pensamos “Este pregador é espectacular” ou “Este pregador prega a Palavra da Verdade… Deus é tremendo”.

Se pregarmos e vivermos a Palavra, tenhamos a certeza que as nossas vidas estarão firmadas no Senhor.

Ao chegarem as maiores tempestades da vida ainda assim podemos dizer convictamente “Eu sei que o meu redentor vive”. 

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