quarta-feira, 4 de junho de 2014

Jesus Cristo no livro de Génesis...

Vamos entrar numa nova série temática depois de termos estado a estudar sobre “Justificação pela Fé”.
Durante 9 domingos iremos encontrar a pessoa de Jesus Cristo no Antigo Testamento.
Cada domingo iremos perceber o contexto geral de um Livro, o seu tema, e o estudo de uma personagem bíblica.
O objectivo passará por percebermos que toda a Bíblia reflecte unidade e essa unidade é Cristo.
Achamos muitas vezes que a Bíblia é um livro de histórias de heróis, os quais devemos imitar. Histórias de sucesso para sermos vitoriosos na nossa vida tal como eles foram.
Colocamos a nossa vida em cada pessoa e colocamos a ênfase naquilo em que se pode obter da nossa vivência com Deus. Ou seja, percebemos a nossa vida e vemos a vida do personagem mais parecido connosco para tentarmos saber qual o nosso fim.
Não acreditamos em horóscopos porém alguns acreditam que são as personagens bíblicos que vão ditar o seu fim. Tem é que se perceber qual é a vida mais parecida connosco.
No entanto, quem deseja saber o dia de amanhã é porque não acredita que aquele que começou a boa obra, a terminará também.
Rapidamente a nossa alegria depende das bênçãos que recebemos de Deus e não o Deus que está atrás de todas as bênçãos.
Temos que saber que as histórias que acontecem na Bíblia não são sobre nós e sobre o que vai acontecer connosco (David/Golias), mas sim como Deus se reconciliou com a humanidade (Davi/Golias).
Então, tudo no AT aponta para a pessoa de Jesus Cristo.
Ele é o cumprimento e a plenitude do AT.
Quer Jesus, quer os apóstolos e os outros escritores do NT, enfatizam que o AT é sobre a pessoa de Jesus Cristo.
João 5:46-47 “De facto, se cressem naquilo que Moisés disse, creriam em também em mim, pois Moisés escreveu a meu respeito. Mas se não crêem naquilo que ele escreveu, como podem crer naquilo que eu vos digo?”.  
Quem somos nós então para pensarmos o contrário?
Temos que mudar a pergunta “O que é que esta passagem fala sobre mim?”, para “O que esta passagem fala sobre Cristo?”.
Por isso, acreditamos na inerrância da Palavra, na infabilidade da mesma e na veracidade de todos os seus actos.
Hoje entraremos no livro de Génesis.
De Génesis 1 a 11 vemos a criação do mundo e da raça humana, de uma forma literal e não simbólica.
A partir do capítulo 12 até ao 50 (fim) percebemos que Deus escolheu um povo específico para Si, com o propósito de o salvar (Regenerar, Justificar, Santificar e o Glorificar).
É um livro que tem como grande tema “Vivendo em obediência e fé perante a Soberania de Deus”.
Podemos perceber isso em cada secção deste livro.
A história de Abraão com o seu filho Isaque revela esse tema e transporta-nos à pessoa de Jesus Cristo.
A vida de Abraão tem muitos episódios. Desde a sua chamada (12), à relação dele com Ló, ao envolvimento dele com Agar, à velhice dele e da sua esposa, sendo que Sara não conseguia ter filhos. Depois, nasce finalmente o seu filho Isaque.
Face ao tempo de espera enorme por um filho (era o cumprimento da promessa), Isaque era tudo o que Abraão desejava.
Não apenas para criar linhagem com Sara, já tinha tido Ismael, mas também porque Deus lhe tinha prometido uma grande descendência.
Isaque era então o cumprimento dos seus sonhos e da promessa de Deus.
Génesis 22
V1 “Sucedeu, depois destas coisas, que Deus provou a Abraão, dizendo-lhe: Abraão! E este respondeu: Eis-me aqui.”
“Deus pôs à prova”.
Qual a razão de Deus ter feito um “exame ao coração” de Abraão?
Será que Deus não sabia o resultado? Claramente que Deus sabia até porque Ele é omnisciente, mas Abraão não sabia.
Todo tempo de espera que Abraão teve até o nascimento de Isaque, serviu para que Deus moldasse o seu carácter.
Talvez se uma prova desta dimensão acontecesse antes, Abraão não iria reagir da mesma maneira.
No entanto, as provações na nossa vida servem, tal como a leitura em Tiago 1:2-4, para aumentar a nossa força e a qualidade da nossa fé.
Deus chama Abraão e ele responde “Eis-me aqui”, “Estou disponível”, “está aqui o teu servo pronto para servir”.
Deus fala, ele disponibiliza-se.
V2 “Prosseguiu Deus: Toma agora teu filho; o teu único filho, Isaque, a quem amas; vai à terra de Moriá, e oferece-o ali em holocausto sobre um dos montes que te hei-de mostrar”.
Reparemos no pormenor destas palavras: “Toma o teu filho… O único filho… A quem amas… E oferece-o em holocausto”.
Teu… Único, Amas e Oferece…
No fundo Deus está a dizer a Abraão: “Aquilo que é teu e amas, tudo isso é meu e por conseguinte para a minha Glória”.
Lembre-nos destas palavras…
“Vai à terra de Moriá”.
Interessante perceber que este é o lugar no qual o templo de Salomão seria construído (II Cron. 3:1).
A estrada está completamente aberta para a pessoa de Jesus.
Estamos a descobrir como um episódio bíblico aponta para a grande esperança que há em Cristo.
V3 “Levantou-se, pois, Abraão de manhã cedo, albardou o seu jumento, e tomou consigo dois de seus moços e Isaque, seu filho; e, tendo cortado lenha para o holocausto, partiu para ir ao lugar que Deus lhe dissera”.
Deus faz um desafio a Abraão. Dos mais duros que alguém pode fazer a um pai. Perder um filho.
Sabemos, porque a Palavra o diz em Hebreus 11, que Abraão acreditava tanto na promessa de Deus, que se Deus matasse o seu filho, o ia ressuscitar para que houvesse então descendência.
Esta certeza está descrita nos versículos a seguir.
V4-5 “Ao terceiro dia levantou Abraão os olhos, e viu o lugar de longe. E disse Abraão a seus moços: Ficai-vos aqui com o jumento, e eu e o mancebo iremos até lá; depois de adorarmos, voltaremos a vós”.
Abraão levou todas as coisas para fazer o sacrifício e depois disse “voltaremos (plural) a vós”.
V6 Tomou, pois, Abraão a lenha do holocausto e a pôs sobre Isaque, seu filho; tomou também na mão o fogo e o cutelo, e foram caminhando juntos.
Colocou a lenha sobre Isaque… Esta expressão foi usada em João 19:17 “Tomaram eles, pois, Jesus; e Ele próprio, carregando a Sua cruz, saiu para um lugar chamado Calvário”.
Depois disto foram até Moriá. Este local era bastante perto do Calvário.
Mais uma vez a estrada completamente aberta para Jesus.
Como disse Spurgeon “O AT é a estrada para Cristo”.
V7-8 Então disse Isaque a Abraão, seu pai: Meu pai! Respondeu Abraão: Eis-me aqui, meu filho! Perguntou-lhe Isaque: Eis o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? Respondeu Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. E os dois iam caminhando juntos.
Reparemos na pergunta de Isaque*… A resposta de Abraão*… E como eles seguiram o caminho*.
Deus chama… Deus capacita… Deus providencia. Não há como deixar de caminhar lado-a-lado com Ele.
V9/11 “Havendo eles chegado ao lugar que Deus lhe dissera, edificou Abraão ali o altar e pôs a lenha em ordem; o amarrou, a Isaque, seu filho, e o deitou sobre o altar em cima da lenha. E, estendendo a mão, pegou no cutelo para imolar a seu filho. Mas o anjo do Senhor lhe bradou desde o céu, e disse: Abraão, Abraão! Ele respondeu: Eis-me aqui.”
A mesma pergunta e a mesma resposta. Mesmo quase a chegar ao desenlace final.
Imagino o sofrimento de Abraão nesta altura. No entanto, respondeu com a mesma fé de sempre. “Eis-me Aqui”.
Lembremos do tema deste livro “Vivendo em obediência e fé perante a Soberania de Deus”.
A vida de Abraão mostra a certeza plena desse tema. Deus é soberano e por isso apenas lhe restava viver em obediência e fé.
Interessante também perceber que Isaque nada diz e nada faz. Plena confiança no pai e, acima de tudo, sabia que o tinha de honrar em todos os aspectos, mesmo que para isso fosse preciso dar a vida.
V12 Então disse o anjo: Não estendas a mão sobre o mancebo, e não lhe faças nada; porquanto agora sei que temes a Deus, visto que não me negaste teu filho, o teu único filho.
O anjo disse a Abraão que agora tinha a certeza que ele amava a Deus porque não lhe tinha negado o seu único filho.
Isto é, sabemos que amamos a Deus quando podemos perder tudo o que é mais importante na nossa vida, porque sabemos que Deus é fiel nas Suas promessas.
Aqui a estrada está completamente escancarada para a pessoa de Jesus Cristo…
V13 “Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos. Tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar do seu filho”.
Deus providenciou um carneiro para fazer o holocausto. Aponta claramente a morte vicária/substitutiva de Cristo. Alguém que ia morrer no nosso lugar.
Já não há como dizer que este texto não fala de Cristo.

Aprendemos com Abraão pelo menos 4 lições:
1ª Lição
Deus fala Abraão disponibiliza-se. Abraão compreende que tem de viver em obediência e fé perante a Soberania de Deus.
Eis-me aqui” é algo que devemos estar sempre prontos a responder mesmo que estejamos a passar por um grande sofrimento e, por vezes, até de alguma incompreensão para com o mesmo.
Conseguirá dizer “Eis-me aqui” quando não sabe o roteiro para a sua vida? Conseguirá dizer “Eis-me” mesmo estando a sofrer sem compreender? Conseguirá dizer “Eis-me aqui” mesmo quando os seus desejos ainda não foram realizados?
O nosso “Eis-me aqui” depende de quê?
Respondemos afirmativamente ao Senhor Deus não pela nossa compreensão do que se vai passar mas pela certeza que Ele é fiel.
Aprendamos com Jesus “Pai se possível passa de mim este cálice, contudo não seja feita a minha vontade mas a tua”.
2ª Lição:
Deus disse a Abraão “Aquilo que é teu, e único, que amas, então oferece-me”.
Como percebemos que a nossa vida faz sentido?
Quando entendermos que se deixarmos de ter alguma coisa ou alguém, a nossa vida deixa de fazer sentido. E tudo o que não seja Cristo, conforme diz Tim Keller, é um falso deus.
É Cristo quem dá sentido à nossa vida.
Como perceber se Cristo é o objectivo e ambição na nossa vida? Basta analisarmos a nossa vida e percebermos se a nossa vida, em todas as suas dimensões, falar mais de Cristo do que os nossos desejos e ambições pessoais.
O nosso louvor a Deus não depende do que recebemos (materialmente) ou perdemos mas sim de quem Deus é e naquilo que Cristo fez por nós na Cruz. Por isso a nossa vida será de pleno louvor diário. Daí de Jó dizer “Deus dá, Deus tira, louvado seja sempre o Senhor”.
3ª Lição:
Deus chamou Abraão. Deus capacitou Abraão para a tarefa e Deus providenciou o carneiro para que a tarefa fosse concluída.
Se temos a certeza que Deus chamou-nos para algo, tenhamos a mesma certeza que Ele irá capacitar e providenciar no Seu devido tempo.
O medo gera desconfiança e desconfiança em Deus.
Por vezes podemos achar que a nossa vida está marcada pelo nosso passado, ou por algum “Karma” desta vida e por isso não conseguimos seguir em frente.
Sinclair Ferguson "A sua vida não é determinada pelo seu passado e pela sua vida. A sua vida é determinada pelo passado e pela vida de Cristo."
Por isso, descansamos em Deus que é sem dúvida o lugar mais seguro onde podemos estar.
4ª Lição:
O anjo ficou a saber que Abraão amava a Deus porque não lhe negou o seu único filho, aquele a quem amava.
Nós sabemos que Deus nos amou ao ponto também de dar o Seu filho, o seu único filho, a quem Ele amava tanto, para o dar por pessoas que nada merecem da Sua parte.
Ele fez isso por amor a nós e não por causa de nós, para que as nossas vidas glorificassem o Seu nome para todo o sempre.
Romanos 5:8 “Mas Deus prova o seu amor para connosco, em Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores”.
Deus poupou a vida de Isaque porque o seu sacrifício para nada servia.
No entanto, não poupou a vida do Seu filho na Cruz.
Agora sabemos que Deus nos ama, porque não poupou o Seu filho para levar a nossa Ira sobre Ele.
Haverá maior amor do que este?
A alegria / celebração daquele momento não é a da salvação física de Isaque, tanto é que eles não celebram o que não aconteceu mas celebram a Deus colocando um carneiro em sacrifício apontando assim o caminho a Cristo e à Sua morte a qual nos salvará a todos os Seus filhos da morte espiritual eterna.
Houve morte para haver vida…
Percebamos que Deus é digno de confiança e por isso deve ser totalmente obedecido, porque nenhuma bênção que recebemos foi por causa dos nossos merecimentos ou por causa das nossas forças.
Todo o livro de Génesis ensina isso.
Percebemos então como a vida de Isaque e Abraão apontam à vida de Jesus. E iremos fazer uma caminhada ao longo de uns domingos para percebermos que tudo no AT aponta à pessoa de Jesus Cristo.
O nosso crescimento enquanto cristãos acontece quando nos assemelhamos a Cristo e não a outros heróis da fé.
Aprendemos com eles, é certo, mas a verdadeira fonte é Cristo.
Paul Washer… “Se Cristo for removido do Velho Testamento, se tudo que há lá não for uma imagem Dele, então eu não tenho nada, a não ser histórias morais. O animal morto para cobrir a nudez de nossos primeiros pais, aquele era Cristo; a arca que foi usada por Noé, aquilo era Cristo; carneiro travado pelos seus chifres, aquilo era Cristo; o templo e seus sacrifícios, aquilo era Cristo, Ele é a semente de Abraão e maior que Moisés e Josué”.
De quem a nossa vida fala? De quem queremos que fale?

Que Deus nos incomode.

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