quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Unidade

Igreja centrada no Evangelho… Este é o tema da nossa série de sermões tendo como base o livro de Gálatas escrito pelo apóstolo Paulo aos cristãos da Galácia.
Começámos por perceber que só existe um Evangelho. Todos os outros ensinos que não preguem Jesus como o único caminho para a Salvação são puras heresias, as quais têm apenas o objectivo de retirar Jesus do centro da nossa vida colocando lá o ser humano fazendo assim o Homem o centro de todas as coisas.
Depois percebemos que só há Evangelho porque há Graça.
Nada do que recebemos e podemos vir a receber será fruto do nosso merecimento. Tudo o que nos acontece surge como dádiva do nosso bom Deus, a qual transforma qualquer tipo de pessoa independentemente do seu passado.
Vivemos descansados porque quando Deus olha para nós, olha por aquilo que Cristo fez no passado e não pelo que nós fizemos. No entanto, temos de responder com fé a esta Maravilhosa Graça.
Depois de Deus ter criado tudo para a Sua glória, o Homem pecou e por isso Deus enviou o Seu filho Jesus para que nós também pudéssemos ser Seus filhos por meio da fé.
Como filhos de Deus devemos viver em Unidade uns para com os outros porque todos nós somos um com Cristo.
O que significa unidade? Muitas definições têm existido…
Será que é baixar a fasquia para que todos se sintam bem? Será que significa que todas as pessoas têm que pensar igual e terem ministérios iguais? Será que é o cumprimento de umas determinadas regras?
Vamos tentar responder a estas e a outras perguntas.
O tema da pregação de hoje é “Unidade”.
Gálatas 2:1-10
Conforme já vimos antes, a Igreja estava a sofrer com os falsos ensinos dos profetas os quais obrigavam os cristãos gentios, por exemplo, a circuncidarem-se para serem salvos.
Acreditavam em Jesus como o Messias mas continuavam com os rituais cerimoniais para que a salvação fosse completa.
O apóstolo Paulo era um homem que tinha amor pela evangelização porque tinha um grande amor pelo Evangelho e, nesse sentido, face ao que Deus lhe disse, ele foi a Jerusalém para enfrentar esses falsos profetas.
V1 Catorze anos mais tarde, voltei a Jerusalém. Fui com Barnabé e também levei Tito comigo.
Apesar de haver alguma dificuldade para se saber ao certo o momento em que Paulo se está a referir na sua ida a Jerusalém, há uma grande probabilidade de ter sido depois da sua segunda ida precisamente antes do concílio que depois houve nessa cidade.
No livro de Actos vemos que era um hábito seu visitar frequentemente Jerusalém.
Paulo menciona neste versículo o nome de Tito e Barnabé por causa da importância que estas duas pessoas tinham na conversa que ia ter para que pudesse mostrar-lhes o verdeiro sentido do Evangelho.
Barnabé era um judeu e era muito rico sendo que vendeu os seus bens para ajudar os cristãos que estavam a passar por muitas dificuldades por causa da perseguição que estavam a sofrer.
Este pormenor torna-se importante para depois compreendermos melhor o texto. Além disso, foi companheiro de Paulo durante a sua primeira visita missionária.
Tito era grego e por isso era considerado gentio. Ao ser gentio, não era circuncidado. Este aspecto torna-se também importante para a compreensão e aplicação da verdade bíblica. Ele era “filho espiritual” como também cooperador no ministério do apóstolo Paulo.
Paulo nesta viagem levou 2 pessoas, não para arranjar confusões – ao levar um gentio -, mas para explicar que o Evangelho tanto é para judeus como para gentios sendo que ambos são aceites por Deus pela Sua Graça mediante a fé.
V2 Fui lá porque Deus me tinha dado a conhecer que devia ir. Numa reunião particular com os responsáveis, expliquei-lhes o evangelho que eu anuncio aos não-judeus. Não queria que aquilo que tinha feito e continuo a fazer fosse inútil.
Nota: Paulo não foi designado apóstolo pelos outros apóstolos. Ele foi reconhecido apóstolo pelos outros apóstolos. Ele não precisava de ir lá para promover a sua identidade, mas sim para promover a Verdade.
Isto é uma lição para nós… Passamos muito tempo a tentar defender a nossa identidade, em vez de passarmos esse tempo a defender a identidade de Cristo porque, tal como vimos na EBD, já não é o nosso pecado que nos define, mas sim aquilo que Cristo fez na Cruz.
Como apóstolo, Paulo tinha revelações especiais da parte de Deus e numa dessas revelações, Deus enviou-o até Jerusalém. Ele não foi até a esta cidade à procura da aprovação dos homens. Ele foi em plena obediência à voz de Deus para defender o verdadeiro e único Evangelho.
Os falsos profetas acusavam-no de ele pregar outro Evangelho e por isso tentavam criar divisão dentro das Igrejas ao dizerem que Paulo pregava outra coisa que não a mensagem de Deus, mas Deus ao ter mandado Paulo a Jerusalém, sabia que era a maneira de mais portas se abrirem para que a missão de ministrar aos gentios – não judeus - continuasse.
Ao olharmos para a expressão final “Não queria que aquilo que tinha feito e continuo a fazer fosse inútil”, Paulo sente que ao colocarem em causa o seu ensino, estavam a colocar em causa tudo o que Deus tinha feito na vida dele, como também através da sua vida.
Contudo, os apóstolos reconheceram que o ensino de Paulo era exactamente o mesmo que o ensino de Jesus. No entanto, Deus tinha chamado Paulo para ministrar aos não judeus enquanto, por exemplo, Pedro tinha o seu ministério com os judeus.
Significa isso que podemos ter personalidades distintas, como também dons, talentos e ministérios diferentes mas a única coisa que não pode ser diferente é o conteúdo da mensagem.
Existe unidade quando a mesma verdade é pregada!
V3-4a) Ora bem, Tito, que estava comigo e que não é judeu, não foi obrigado a receber a circuncisão, embora alguns que se faziam passar por irmãos e se tinham juntado a nós quisessem que ele se circuncidasse.
Paulo quando levou consigo Tito serviu de exemplo para mostrar como o Evangelho era e é suficiente para salvar qualquer tipo de pessoa – judeu ou gentio - como também era e é suficiente para salvar o ser humano sem qualquer tipo de acção feita por ele. Nada pode ser acrescentado ao que Cristo fez!
Os falsos profetas bem tentaram que Tito fosse circuncidado, dizendo eles, para que fosse salvo a fé em Jesus não bastaria.
Com isto, estavam a dizer que o cumprimento de regras mais aquilo que Cristo tinha feito tornava o homem salvo. Resumidamente… Obras mais fé.
Podemos perceber o motivo da irritação de Paulo perante esta heresia.
Paulo era um homem flexível no seu dia-a-dia. Coisas que ele podia exigir mas que, para Ele, por amor a Cristo, eram coisas sem qualquer tipo de valor.
No entanto, havia uma coisa que o tirava do sério… Todos os ensinos ou acções que mostrassem que o sacrifício que Jesus fez na Cruz não tinha sido suficiente…
Não se pode nem tirar e nem acrescentar nada à mensagem de Jesus.
Esses falsos profetas propunham uma perversão completa da obra da Cruz e Paulo levou Tito para mostrar que ele não tinha que cumprir normas culturais ou moralistas para ser salvo. Se assim fosse, a salvação não seria por Graça, mas sim como recompensa perante um gesto feito.
Que tipo de exigências nós colocamos para dizermos que as pessoas são salvas? Haverá algum tipo de exigência que nós fazemos?
Só existirá unidade quando percebermos que foi Cristo que nos uniu. Porque se a salvação fosse pelos nossos méritos ou por acções nossas, certamente deixaria de haver unidade porque acharíamos superiores aos outros… (Fariseu e publicano). 
4b) -5 Esses tinham lá entrado como espiões para verem a liberdade que nós temos em Jesus Cristo, a fim de nos fazerem novamente escravos da lei. Mas nem por um momento nos deixámos levar por eles, para que a verdade do evangelho pudesse chegar intacta até vós.
Quando se tratava do Evangelho, Paulo não brincava e nem cedia. Para ele, era muito claro que todo aquele que distorcesse a mensagem da cruz era um anátema.
Neste versículo, no original percebe-se melhor, vemos mesmo Paulo a dizer àquelas pessoas que elas não eram cristãs. Ele usou a expressão “falsos irmãos”.
Logo, todos aqueles que se opõem à justificação por meio da fé, não poderão ser considerados cristãos.
Ao compreendermos a mensagem da Cruz, podemos sentir a liberdade que há em Jesus. Não para fazermos o que queremos, mas para vivermos para a pessoa que nos libertou… Jesus Cristo.
Cristo libertou-nos para quê? Para vivermos como queremos?
Sejamos claros biblicamente… Nós não temos liberdade para vivermos como queremos. Os 10 mandamentos ainda têm valor para nós e servem para sabermos como devemos viver, no entanto, não servem como sistema de salvação…
Isto é, são a nossa linha orientadora mas não são a razão da nossa salvação*.
Quando sentirmos a liberdade que há em Cristo, seremos gratos. Quando houver gratidão, então haverá obediência.
Livres para obedecer em amor por aquilo que Cristo fez! Esta é a mensagem do Evangelho.
A preocupação do apóstolo Paulo estava centrada no ensino da Verdade porque sabia que o fruto era a unidade.
Unidade entre os cristãos existirá quando soubermos que existe apenas uma Verdade a ser vivida. Por isso, não acreditar em nenhum tipo de ecumenismo.
Logo, a unidade bíblica não é fruto de acções de convívio. A unidade bíblica é fruto de uma vivência diária da Verdade a qual nos faz estar em comunhão com os nossos irmãos.
Nós não somos chamados para entreter, mas para evangelizar.
É a verdade do Evangelho que nos une. Não existe Unidade quando a Verdade é posta de parte.
Quanto mais próximo estamos de Cristo, mais próximo estaremos dos nossos irmãos.
V6-9 Aqueles que eram reconhecidos como responsáveis não alteraram em nada a minha mensagem. Na verdade, a mim nem me importa o que eles eram, pois Deus não julga pelas aparências. Pelo contrário, eles reconheceram que Deus me tinha encarregado de anunciar o evangelho aos não-judeus, tal como tinha encarregado Pedro de anunciar o evangelho aos judeus. Tal como Deus actuou por meio de Pedro, em favor dos judeus, actuou por meu intermédio para os não-judeus. Tiago, Pedro e João, que eram os mais considerados, reconheceram que Deus me tinha confiado esta missão e deram-nos as mãos, a mim e a Barnabé, em sinal de acordo. E assim, concordámos em que nos dirigíssemos aos não-judeus, e eles aos judeus.
Paulo refere que os apóstolos reconheceram o seu ensino como sendo o verdadeiro Evangelho. Não porque ele precisasse dessa autorização, mas como forma, tal como vimos, de poder levar a Palavra ainda mais longe.
Paulo não estava preocupado com o julgamento dos homens e se eles gostavam ou não da Palavra. A sua preocupação era ser fiel à mensagem de Deus.
Tanto é que ele não estava preocupado quando disse “Deus não julga pelas aparências”.  Ele menciona isso porque para aqueles judeus, a aparência era importante para mostrar aquilo que Deus e o homem tinham feito.
Estas palavras de Paulo transportam-nos para o AT - II Samuel 16:7 “Porém o Senhor disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a grandeza da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o Senhor não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o Senhor olha para o coração.”
Nesse sentido, tal como a circuncisão não define o povo de Deus, da mesma forma a aparência externa não define quem são os filhos de Deus. E muitas vezes julgamos pessoas ou coisas pela aparência.
A semana passada referi que o meu objectivo enquanto pastor não é pretender ser “amoroso*” naquilo que digo, mas sim amoroso na forma como falo porque o verdadeiro amor proclama sempre a verdade em amor.
Vimos isso também no chamado capítulo do amor… I Coríntios 13:1 “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine.”
Saibamos que muitas vezes há verdades que ficam perdidas por se dizerem da forma errada.
Não julguemos pelas aparências, mas pela fidelidade à Palavra.
Por isso, só existirá unidade quando houver fidelidade à Palavra de Deus. Este deve ser o nosso compromisso.
Isto tanto pode ser aplicado à Igreja, como também nos nossos lares. Onde há divisões, não há vivência do Evangelho. Porque em Jesus, todas as reconciliações são possíveis.
Unidade sem fidelidade à Palavra acontecerá quando os gostos forem iguais.
Unidade como consequência da fidelidade à Palavra haverá mesmo com os gostos diferentes e opiniões até contrárias.
V10 Só nos recomendaram que nos lembrássemos dos pobres, coisa que eu sempre tenho procurado fazer.
Os apóstolos fizeram apenas uma única recomendação ao apóstolo Paulo. Que nunca se descurasse dos pobres. No entanto, como podemos ver neste versículo e também no livro de Actos, ele já fazia isso antes. Eles apenas disseram isso porque havia uma preocupação muito grande com a necessidade que os cristãos estavam a passar.
Significa isto que quando temos o coração em Deus, teremos a boca aberta para falar d’Ele às pessoas e a carteira pronta para ajudar os pobres.
Se de facto o nosso coração foi convertido pelo Espírito Santo, isso será também visível no nosso bolso. Por isso, devemos estar prontos a ajudar quem não pode.
A unidade existirá quando tivermos uma cultura de preocupação com o próximo. Qual a razão? Porque deixamos de ter a vida centrada em nós próprios e desejaremos mais viver como Cristo.
É por amor a Cristo que investimos na vida das outras pessoas!
Resumidamente…
Em Cristo somos livres não para vivermos como queremos, mas para vivermos como Ele quer e à medida que isso acontece mais união haverá entre as pessoas.
Somente em Cristo haverá verdadeira unidade e assim seremos um, como Cristo é um com o Pai e com o Espírito Santo.
Que Deus nos ajude a sermos uma comunidade onde exista unidade e isso só acontecerá quando o Evangelho for pregado como também vivido.
Onde houver falta de unidade, foi porque houve falta de Evangelho.
Que Deus nos ajude.


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