quinta-feira, 20 de novembro de 2014

I Coríntios 4:7-13

I Coríntios 4:7 Quem é que te diz que és mais do que os outros? Que tens tu que não tenha sido recebido? E, se o recebeste, por que é que te orgulhas como se não tivesses recebido?
Nos versículos anteriores, Paulo mostrou toda a sua humildade ao considerar-se como ministro. Relembrar que esta palavra era usada para os marinheiros mais servis de todos sendo até desprezados pelos outros por terem um trabalho tão subserviente.
Paulo considerou-se ministro de Deus logo um mero servo d’Ele e do Seu povo, ou seja, da Sua Igreja.
Nestes versículos, percebemos que Paulo estava mais uma vez a combater o orgulho existente naquela comunidade em Corinto. Por quê? Porque eles faziam de tudo para se mostrarem superiores aos outros.
Paulo usou algumas perguntas irónicas como quem diz:
Como é que alguém se pode achar superior ao outro sendo que tudo o que nós temos foi dado por Deus? E se recebemos de Deus, porque é que há orgulho como se fosse algo gerado por nós?
Estas perguntas retóricas têm a finalidade de mostrar que homem nenhum tem algo de bom em si mesmo sem a acção de Deus na sua vida, e quando há transformação de coração foi apenas como fruto da Graça de Deus.
No fundo, os cristãos em Corinto estavam a orgulhar-se por algo que lhes tinha sido dado pela Graça de Deus através de homens. E onde há Graça não há merecimento.
O Evangelho faz-nos humildes e livra-nos do orgulho. Retira a nossa vida do centro do Evangelho e mostra-nos que Deus é o Evangelho. Ele sim é a boa nova.
Nós somos apenas receptores dessa Graça e, por conseguinte, proclamadores da mesma.
V8 Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.
Esta é precisamente a crítica que vemos à Igreja de Laodiceia em Apocalipse 3:17Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que afinal és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”.
Neste versículo Paulo repreende-os de forma severa como quem diz “Vocês acham-se os maiores. Pensam que já têm maturidade espiritual e afinal andam aí em guerras uns com os outros. Acham que já têm tudo e não precisam de mais nada. Basta-vos terem conforto para acharem que estão no centro da vontade de Deus”.
A palavra “fartos” tem precisamente esta conotação de saciedade e sentimento de satisfação. Consideravam-se ainda ricos e como se reinassem neste mundo. Ou seja, sentiam-se plenamente seguros e sem carência de nada.
Os coríntios afirmavam algo que nem mesmo os apóstolos tinham a ousadia de dizer.
Percebemos também que Paulo desejava na verdade que eles tivessem maturidade espiritual e que fossem ricos em Cristo, mas a verdade é que isso ainda não tinha acontecido.
A forma como viviam mostrava a mentira das suas palavras. A incoerência era total.
Notemos agora a mudança de perspectiva…
Os cristãos em Corinto achavam-se donos e senhores de tudo, como quem diz: “já estamos a reinar em plenitude neste mundo”, no entanto, os apóstolos tinham outra percepção sobre o lugar que ocupavam neste mundo.
Será muito interessante notarmos este contraste.
V9 Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espectáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.
Ao dizer estas palavras, Paulo não estava num registo de autocomiseração, como quem diz “Ai coitadinho de mim que estou aqui a sofrer por amor a Deus, logo sou o maior”.
Ele usa a imagem dos prisioneiros condenados que são levados em último lugar para a arena romana para serem mortos no combate e assim serem usados como espectáculo para o ser humano. Ele mostra até a abrangência total “Tanto a anjos como a homens”.
No entanto, o que depreendemos destas palavras é que Paulo aceitou de uma forma humilde e serena o que Deus tinha destinado. Como quem diz, “Se é para sofrermos ou morrermos, vamos a isso”.
Ou seja, a nossa vida é para ser vivida como Deus quer que ela seja e não como nós queremos que ela seja.
Reparemos na veracidade destas palavras na vida de outros apóstolos.
Actos 5:40-42
O CASTIGO – “Chamaram os apóstolos, mandaram açoitá-los e deram-lhes ordens para não falarem mais no nome de Jesus. Depois soltaram-nos”.
A REACÇÃO AO CASTIGO – “Os apóstolos saíram do tribunal muito contentes por Deus os ter achado dignos de sofrerem por causa de Jesus”.
A CONSEQUÊNCIA DE PERCEBEREM O SEU LUGAR EM CRISTO – “E não se cansavam de ensinar todos os dias no templo, e de casa em casa, e de pregar a boa nova de que Jesus é o Messias”.
Estar em Cristo é o lugar mais seguro onde podemos estar, mesmo no meio da nossa dor ou sofrimento.
V10 Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis.
Paulo usou outra vez a sua ironia*.
Com estas palavras ele estava a dizer simplesmente que ao pensarem daquela forma - estamos satisfeitos e saciados - no fundo estavam a chamar os apóstolos de loucos. Eles sim, os cristãos em Corinto, eram sábios porque viviam uma vida calma e tranquila.
Se os cristãos em Corinto fossem confrontados com o que fora dito anteriormente nesta carta, perceberiam que os loucos seriam eles mesmos porque para Deus a sabedoria e o conforto deste mundo são loucura.
Eles achavam loucos os apóstolos porque estes viviam a “loucura da Cruz de Cristo”. Achavam que eram fracos por estarem a sofrer por amor a Deus. Como quem diz “Cristão a sofrer? É porque é fraco”.
Como é que se pode considerar alguém fraco por estar a sofrer por amor a Deus?
É um grande privilégio sofrer por amor a DeusE a maior loucura é não perceber isto. E atenção, muitas vezes eu sou este louco!
Eles viviam numa pura acomodação espiritual porque estavam preocupados apenas em perceber quem era maior do que quem e também porque não estavam também interessados em saber o que era pecado ou não - iremos perceber isso mais à frente.
1111 Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos.
Nós que tanto desejamos ter as contas certas, comida e bebida na mesa, ter um belo conforto e uma habitação boa e certa, ao lermos estas palavras ficamos completamente estarrecidos.
Provavelmente, alguns de nós, nem compreendemos ao pormenor o que isto possa significar.
Atenção que Paulo não se estava a queixar ou a usar este argumento para mostrar superioridade em relação aos outros.
Ele simplesmente queria dizer que o seu conforto e a sua estabilidade apenas podiam estar no Senhor, independentemente dos custos físicos ou sociais que isso podia ter.
Servir a Deus é o mais importante, independentemente se vamos ter que comer ou beber, se vamos ser injuriados ou não, ou se vamos dormir em boas casas.  
Se analisarmos com os olhos deste mundo, estas palavras de Paulo são loucura. Mas nós somos chamados a viver esta aparente loucura se assim o Senhor quiser.
Vejamos mais sinais de maturidade cristã…
V12 Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos;
Paulo é muito claro… Vocês acham que estão satisfeitos e que Deus está feliz? Então como é que vivem em guerras constantes uns com os outros? Acham que isso é ter maturidade espiritual? Acham que quem se acha superior ao outro é sinal de maturidade?
Neste versículo ele virou o foco… Olhem para o que Deus nos chama a fazerSomos injuriados e temos de orar por essas pessoas.
Não com o sentimento de fazer justiça com as próprias mãos, mas sim para que Deus possa converter os corações de quem nos faz mal.
É bem mais fácil pedir a Ira de Deus sobre a vida de quem nos chateia, do que pedir que Deus salve a vida de quem nos incomoda.
V13 “Quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos”.
Nestes versículos, Paulo toca em quase todos os pontos que nós menos queremos que Deus mexa na nossa vida.
Ele relembra-os que eles como cristãos mesmo quando são caluniados têm que procurar a reconciliação.
Reparemos neste pormenor. Para eles não era importante se eram culpados ou inocentes. A procura da reconciliação é obrigatória.
O ponto é claro… Fomos caluniados (usaram de mentiras) mas procurámos a reconciliação. Logo eles eram inocentes.
Assim, os inocentes são obrigados a procurarem a reconciliação, não para mostrar quem tem razão mas para Deus ser glorificado.
Quem é o exemplo máximo para a nossa vida? É a partir de quem que as nossas vidas ganham significado? Qual é o nosso fundamento?
V14 Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário, para vos admoestar como a filhos meus amados.
Paulo não tem como objectivo envergonhá-los ao comparar vidas, até porque, se ele aguentava o que aguentava, era porque Deus queria que assim fosse. E se aguentava era na força que Deus supre. Logo, ele não era maior do que ninguém.
Percebemos também aqui que corrigir alguém não é sinal de punição, é sinal sim da busca da restauração, muito mais do que uma simples cura, da parte de Deus na vida das pessoas.
Muito interessante este ponto… Eu repreendo-vos porque vos amo.
Assim, ao longo destes versículos podemos tirar algumas aplicações…
1º Devemos investir em quem não merece porque Deus investiu em nós quando nós nada merecíamos.
De facto nós nada merecemos.
Deus criou as coisas para a Sua glória e para o Seu Louvor.
Contudo falhámos pois quisemos buscar o nosso prazer pessoal longe da pessoa de Deus. Por isso pecámos.
Todo o pecado mostra profunda insatisfação com aquilo que Deus tem para nos oferecer.
No entanto, o Evangelho oferece esperança.
Deus enviou o Seu filho até à Cruz para levar sobre si a ira de todos aqueles que responderem com arrependimento e fé para que então Cristo possa habitar em nós e aí possamos ter a certeza da vida eterna.
Ao sabermos disto, entendemos que a vida não acaba aqui mas que há algo muito melhor à nossa espera. A comunhão plena e perfeita com Deus para todos aqueles que reconhecerem que precisam d’Ele na sua vida.
Já reconhecemos o nosso pecado?
Já reconhecemos que buscámos o nosso próprio prazer em vez de fazer aquilo que agrada a Deus e assim obter a alegria que vem do próprio Deus?
Acreditamos que Cristo foi à Cruz no nosso lugar?
Já percebemos que Cristo é a solução para o nosso maior problema que é o pecado?
Não importa de onde veio e nem importa o que fez. Deus ama-o e quer transformá-lo numa nova criatura.
Diga a Deus que não consegue viver mais sozinho e que a Sua vida não é aquilo que Ele quer que seja.
Reconheça a sua incapacidade para resolver o seu problema da eternidade e entregue-se a Ele em todas as áreas da sua vida.
Em Cristo sabemos para onde vamos e quando morrermos, morreremos felizes porque sabemos para onde vamos.
2º A forma como vivemos mostra a veracidade das nossas palavras.
Os cristãos em Corinto achavam que estava tudo bem com eles. Achavam que estava tudo bem com Deus, mas viviam a vida da forma que queriam. Seguiam homens e não o próprio Deus.
Muitos de nós provavelmente já reconhecemos que somos pecadores e percebemos até a obra que Cristo fez por nós na Cruz.
No entanto, pode acontecer que as nossas vidas mostrem incompreensão para com essa dádiva ao mostrarmos que afinal houve apenas um entendimento mental, mas não uma vivência total do Evangelho.
Vida cristã não significa que não pecamos, significa sim que se pecarmos, temos que nos arrepender. E arrepender significa confessar e mudar.
Acharmos que estamos a pecar e não fazermos nada para mudar essa situação, não tem significado algum para Deus. É preciso reconhecer o pecado e mudar o mais rapidamente possível. Os remorsos não chegam.
Não podemos estar a servir a Deus e ao mesmo tempos servir os nossos sonhos ou desejos carnais.
Quem queremos fazer felizes com a nossa vida? A Deus ou a nós mesmos?
Preferimos ouvir dizer “Muito bem” da boca do mundo, ou até da nossa consciência, ou preferimos ouvir “Muito bem” da boca do nosso Deus?
Vivemos a vida pela compreensão da mensagem da Cruz ou com base na sabedoria deste mundo?
A mensagem da Cruz leva-nos até Cristo e a sabedoria do mundo separa-nos de Cristo.
Somente em Cristo há Esperança. E este é o tempo.
Não importa o que fez, nem como está a viver. Deus quer recebê-lo de braços abertos para transformá-lo completamente. Tem este desejo de mudar?
Para Deus não há pecado que não possa ser perdoado. Arrependa-se.
3º Em certo sentido, não importa onde estamos, importa sim quem somos.
Aqueles que são cristãos já não vivem para conquistar em busca do contentamento, mas vivemos porque já fomos conquistados por Cristo e isso nos satisfaz.
O impossível já aconteceu e por isso não precisamos de fazer mais nada para que as nossas vidas possam fazer sentido.
Nessa medida, os planos que Deus tem para nós são muito superiores aos nossos planos.
O apóstolo Paulo percebeu que o seu lugar era o lugar que Deus tinha para ele.
É inconcebível fazermos planos e não pensarmos como Deus pode ser mais glorificado naquilo que pretendemos fazer.
A conquista de Cristo chega-nos para vivermos a vida que Deus tem para nós?
Se a nossa satisfação estiver em Cristo, nós podemos passar por necessidades, por difamações, por dores, até perdermos tudo e mesmo assim conseguimos dizer “Posso viver em toda e qualquer situação porque é Deus quem me fortalece”.
Os filhos de Deus vivem com contentamento porque é Deus que os satisfaz.
O orgulho é uma ilusão. Faz-nos pensar que o que temos materialmente é suficiente ou que ainda precisamos de ter para sermos felizes.
O orgulho não permite ver o perdão que Deus tem para oferecer, porque faz-nos achar que somos perfeitos.
O orgulho não permite buscar a reconciliação com o outro mesmo podendo ser inocentes.
O orgulho não permite fazermos mudanças drásticas na nossa vida, porque faz-nos achar que há sempre tempo para as fazer.
Nós não sabemos o dia de amanhã.
Percebamos que os filhos de Deus não vivem no pecado, apesar de poderem pecar.
Em certo sentido, a questão não está na queda, mas no que fazemos após a queda.
Temos vivido a nossa vida com satisfação?

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