I Coríntios 4:7 Quem é que te diz que és mais do que os
outros? Que tens tu que não tenha sido recebido? E, se o recebeste, por que é
que te orgulhas como se não tivesses recebido?
Nos versículos anteriores, Paulo mostrou toda a sua
humildade ao considerar-se como ministro. Relembrar que esta palavra era
usada para os marinheiros mais servis de
todos sendo até desprezados pelos
outros por terem um trabalho tão subserviente.
Paulo considerou-se ministro de Deus logo um mero servo
d’Ele e do Seu povo, ou seja, da Sua Igreja.
Nestes versículos, percebemos que Paulo estava mais uma vez a combater o orgulho existente naquela
comunidade em Corinto. Por quê? Porque eles faziam de tudo para se
mostrarem superiores aos outros.
Paulo usou algumas perguntas
irónicas como quem diz:
Como é que alguém se pode achar superior ao outro sendo que tudo
o que nós temos foi dado por Deus? E se recebemos de Deus, porque é que há
orgulho como se fosse algo gerado por nós?
Estas perguntas retóricas têm a finalidade de mostrar que homem nenhum tem algo de bom em si mesmo
sem a acção de Deus na sua vida, e quando há transformação de coração foi
apenas como fruto da Graça de Deus.
No fundo, os cristãos em Corinto estavam a orgulhar-se por
algo que lhes tinha sido dado pela Graça de Deus através de homens. E onde há Graça não há merecimento.
O Evangelho faz-nos
humildes e livra-nos do orgulho. Retira a nossa vida do centro do Evangelho
e mostra-nos que Deus é o Evangelho.
Ele sim é a boa nova.
Nós somos apenas receptores dessa Graça e, por conseguinte,
proclamadores da mesma.
V8 Já estais fartos, já estais ricos; chegastes a reinar sem
nós; sim, tomara reinásseis para que também nós viéssemos a reinar convosco.
Esta é precisamente a crítica que vemos à Igreja de
Laodiceia em Apocalipse
3:17 “Como dizes: Rico sou, e
estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que afinal és um
desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu”.
Neste versículo Paulo repreende-os
de forma severa como quem diz “Vocês acham-se
os maiores. Pensam que já têm maturidade espiritual e afinal andam aí em
guerras uns com os outros. Acham que já têm tudo e não precisam de mais nada.
Basta-vos terem conforto para acharem que estão no centro da vontade de Deus”.
A palavra “fartos” tem
precisamente esta conotação de saciedade e sentimento de satisfação.
Consideravam-se ainda ricos e como se reinassem neste mundo. Ou seja, sentiam-se plenamente seguros e sem
carência de nada.
Os coríntios afirmavam algo que nem mesmo os apóstolos tinham
a ousadia de dizer.
Percebemos também que Paulo desejava na verdade que eles
tivessem maturidade espiritual e que fossem ricos em Cristo, mas a verdade é
que isso ainda não tinha acontecido.
A forma como
viviam mostrava a mentira das suas palavras. A incoerência era
total.
Notemos agora a mudança de perspectiva…
Os cristãos em Corinto achavam-se donos e senhores de tudo,
como quem diz: “já estamos a reinar em plenitude neste mundo”, no entanto, os
apóstolos tinham outra percepção sobre o lugar que ocupavam neste mundo.
Será muito interessante notarmos este contraste.
V9 Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os
apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos
tornamos espectáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens.
Ao dizer estas palavras, Paulo não estava num registo de
autocomiseração, como quem diz “Ai
coitadinho de mim que estou aqui a sofrer por amor a Deus, logo sou o maior”.
Ele usa a imagem dos prisioneiros condenados que são levados
em último lugar para a arena romana para serem mortos no combate e assim serem usados como espectáculo para o ser
humano. Ele mostra até a abrangência total “Tanto a anjos como a homens”.
No entanto, o que depreendemos destas palavras é que Paulo aceitou
de uma forma humilde e serena o que Deus tinha destinado. Como quem
diz, “Se é para sofrermos ou morrermos,
vamos a isso”.
Ou seja, a nossa vida é para ser vivida como Deus quer que
ela seja e não como nós queremos que ela seja.
Reparemos na veracidade destas palavras na vida de outros
apóstolos.
Actos 5:40-42
O CASTIGO – “Chamaram
os apóstolos, mandaram açoitá-los e deram-lhes ordens para não falarem mais no
nome de Jesus. Depois soltaram-nos”.
A REACÇÃO AO CASTIGO
– “Os apóstolos saíram do tribunal muito contentes por Deus os ter achado
dignos de sofrerem por causa de Jesus”.
A CONSEQUÊNCIA DE
PERCEBEREM O SEU LUGAR EM CRISTO – “E não se cansavam de ensinar todos os
dias no templo, e de casa em casa, e de pregar a boa nova de que Jesus é o
Messias”.
Estar em Cristo é o lugar mais seguro onde podemos estar,
mesmo no meio da nossa dor ou sofrimento.
V10 Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em
Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis.
Paulo usou outra vez a sua ironia*.
Com estas palavras ele estava a dizer simplesmente que ao
pensarem daquela forma - estamos satisfeitos e saciados - no fundo estavam a
chamar os apóstolos de loucos. Eles sim, os cristãos em Corinto, eram sábios
porque viviam uma vida calma e tranquila.
Se os cristãos em Corinto fossem confrontados com o que fora
dito anteriormente nesta carta, perceberiam que os loucos seriam eles mesmos porque para Deus a sabedoria e o conforto deste mundo são loucura.
Eles achavam loucos os apóstolos porque estes viviam a “loucura
da Cruz de Cristo”. Achavam que eram fracos por estarem a sofrer por amor a
Deus. Como quem diz “Cristão a sofrer? É
porque é fraco”.
Como é que se pode considerar
alguém fraco por estar a sofrer por amor a Deus?
É um grande privilégio sofrer por amor a Deus… E a maior loucura é não perceber isto. E
atenção, muitas vezes eu sou este louco!
Eles viviam numa pura acomodação espiritual porque
estavam preocupados apenas em perceber quem era maior do que quem
e também porque não estavam também interessados em saber o que era pecado ou
não - iremos perceber isso mais à frente.
1111 Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e
somos esbofeteados, e não temos morada certa, e nos afadigamos, trabalhando com
as nossas próprias mãos.
Nós que tanto desejamos ter as contas certas, comida e
bebida na mesa, ter um belo conforto e uma habitação boa e certa, ao lermos
estas palavras ficamos completamente estarrecidos.
Provavelmente, alguns de nós, nem compreendemos ao pormenor
o que isto possa significar.
Atenção que Paulo não
se estava a queixar ou a usar este argumento para mostrar superioridade em
relação aos outros.
Ele simplesmente queria dizer que o seu conforto e a sua estabilidade apenas
podiam estar no Senhor, independentemente
dos custos físicos ou sociais que isso podia ter.
Servir a Deus é o
mais importante, independentemente se vamos ter que comer ou beber, se
vamos ser injuriados ou não, ou se vamos dormir em boas casas.
Se analisarmos com os olhos deste mundo, estas palavras de
Paulo são loucura. Mas nós somos chamados a viver esta aparente loucura se
assim o Senhor quiser.
Vejamos mais sinais de maturidade cristã…
V12 Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos,
suportamos;
Paulo é muito claro… Vocês acham que estão satisfeitos e
que Deus está feliz? Então como é que vivem em guerras constantes uns
com os outros? Acham que isso é ter maturidade espiritual? Acham que
quem se acha superior ao outro é sinal de maturidade?
Neste versículo ele virou o foco… Olhem
para o que Deus nos chama a fazer… Somos injuriados e temos de
orar por essas pessoas.
Não com o sentimento de fazer justiça com as próprias mãos,
mas sim para que Deus possa converter os corações de quem nos faz mal.
É bem mais fácil pedir a
Ira de Deus sobre a vida de quem nos chateia, do que pedir que Deus salve a vida de quem nos incomoda.
V13 “Quando caluniados, procuramos conciliação; até agora,
temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos”.
Nestes versículos, Paulo toca em quase todos os pontos que
nós menos queremos que Deus mexa na nossa vida.
Ele relembra-os que eles como cristãos mesmo quando são
caluniados têm que procurar a
reconciliação.
Reparemos neste pormenor. Para eles não era importante se eram
culpados ou inocentes. A procura da reconciliação é obrigatória.
O ponto é claro… Fomos caluniados (usaram de mentiras) mas
procurámos a reconciliação. Logo eles eram inocentes.
Assim, os inocentes são obrigados a procurarem a
reconciliação, não para mostrar quem tem razão mas para Deus ser glorificado.
Quem é o exemplo máximo para a nossa vida? É a partir de
quem que as nossas vidas ganham significado? Qual é o nosso fundamento?
V14 Não vos escrevo estas coisas para vos envergonhar; pelo contrário,
para vos admoestar como a filhos meus amados.
Paulo não tem como objectivo envergonhá-los ao comparar
vidas, até porque, se ele aguentava o que aguentava, era porque Deus queria que assim fosse. E se aguentava era na força
que Deus supre. Logo, ele não era maior do que ninguém.
Percebemos também aqui que corrigir alguém não é sinal de punição, é sinal sim da busca da
restauração, muito mais do que uma simples cura, da
parte de Deus na vida das pessoas.
Muito interessante este ponto… Eu repreendo-vos porque vos
amo.
Assim, ao longo destes versículos podemos tirar algumas
aplicações…
1º Devemos investir em quem não merece porque Deus
investiu em nós quando nós nada merecíamos.
De facto nós nada merecemos.
Deus criou as coisas
para a Sua glória e para o Seu Louvor.
Contudo falhámos pois quisemos
buscar o nosso prazer pessoal longe da pessoa de Deus. Por isso pecámos.
Todo o pecado mostra
profunda insatisfação com aquilo que Deus tem para nos oferecer.
No entanto, o Evangelho oferece esperança.
Deus enviou o
Seu filho até à Cruz para levar sobre si a ira de todos aqueles que responderem com arrependimento e fé para
que então Cristo possa habitar em nós e aí possamos ter a certeza da vida
eterna.
Ao sabermos disto, entendemos que a vida não acaba aqui mas que há algo muito melhor à nossa espera.
A comunhão plena e perfeita com Deus para todos aqueles que reconhecerem que
precisam d’Ele na sua vida.
Já reconhecemos o nosso pecado?
Já reconhecemos que
buscámos o nosso próprio prazer em vez de fazer aquilo que agrada a Deus e
assim obter a alegria que vem do próprio Deus?
Acreditamos que Cristo
foi à Cruz no nosso lugar?
Já percebemos que Cristo é a solução para o nosso maior
problema que é o pecado?
Não importa de onde veio e nem importa o que fez. Deus ama-o e quer transformá-lo numa nova criatura.
Diga a Deus que não consegue viver mais sozinho e que a Sua vida
não é aquilo que Ele quer que seja.
Reconheça a sua
incapacidade para resolver o seu problema da eternidade e entregue-se a
Ele em todas as áreas da sua vida.
Em Cristo sabemos
para onde vamos e quando morrermos, morreremos felizes porque sabemos para
onde vamos.
2º A forma como vivemos mostra a veracidade das nossas
palavras.
Os cristãos em Corinto achavam que estava tudo bem com eles.
Achavam que estava tudo bem com Deus, mas viviam a vida da forma que
queriam. Seguiam homens e não o próprio Deus.
Muitos de nós provavelmente já reconhecemos
que somos pecadores e percebemos até a obra que Cristo fez por
nós na Cruz.
No entanto, pode acontecer que as nossas vidas mostrem incompreensão para com essa dádiva ao
mostrarmos que afinal houve apenas um entendimento mental, mas não
uma vivência total do Evangelho.
Vida cristã não significa que não pecamos, significa
sim que se pecarmos, temos que nos
arrepender. E arrepender significa confessar e mudar.
Acharmos que estamos a pecar e não fazermos nada para mudar
essa situação, não tem significado algum para Deus. É preciso reconhecer
o pecado e mudar o mais rapidamente possível. Os remorsos não chegam.
Não podemos estar a servir a Deus e ao mesmo tempos servir
os nossos sonhos ou desejos carnais.
Quem queremos fazer felizes com a nossa vida? A Deus ou a
nós mesmos?
Preferimos ouvir dizer “Muito bem” da boca do mundo, ou até
da nossa consciência, ou preferimos ouvir “Muito bem” da boca do nosso Deus?
Vivemos a vida pela compreensão da mensagem da Cruz ou com
base na sabedoria deste mundo?
A mensagem da Cruz leva-nos até Cristo e a sabedoria do
mundo separa-nos de Cristo.
Somente em Cristo há
Esperança. E este é o tempo.
Não importa o que fez, nem como está a viver. Deus quer
recebê-lo de braços abertos para transformá-lo completamente. Tem este desejo
de mudar?
Para Deus não há pecado que não possa ser perdoado.
Arrependa-se.
3º Em certo sentido, não importa onde estamos, importa
sim quem somos.
Aqueles que são cristãos já não vivem para conquistar em
busca do contentamento, mas vivemos porque já fomos conquistados por Cristo
e isso nos satisfaz.
O impossível já aconteceu e por isso não precisamos de fazer mais nada para que as nossas vidas
possam fazer sentido.
Nessa medida, os planos que Deus tem para nós são muito
superiores aos nossos planos.
O apóstolo Paulo percebeu que o seu lugar era o lugar que
Deus tinha para ele.
É inconcebível
fazermos planos e não pensarmos como Deus pode ser mais glorificado
naquilo que pretendemos fazer.
A conquista de Cristo chega-nos para vivermos a vida que
Deus tem para nós?
Se a nossa satisfação estiver em Cristo, nós podemos passar
por necessidades, por difamações, por dores, até perdermos tudo e mesmo assim conseguimos
dizer “Posso viver em toda e qualquer situação porque é Deus quem me fortalece”.
Os filhos de Deus vivem com contentamento porque é Deus que
os satisfaz.
O orgulho é uma
ilusão. Faz-nos pensar que o que temos materialmente é suficiente ou
que ainda precisamos de ter para sermos felizes.
O orgulho não permite ver o perdão que Deus tem para
oferecer, porque faz-nos achar que somos perfeitos.
O orgulho não
permite buscar a reconciliação com o outro mesmo podendo ser inocentes.
O orgulho não permite fazermos mudanças drásticas na nossa
vida, porque faz-nos achar que há sempre tempo para as fazer.
Nós não sabemos o dia de amanhã.
Percebamos que os filhos de Deus não vivem no pecado, apesar
de poderem pecar.
Em certo sentido, a questão não está na queda, mas no que
fazemos após a queda.
Temos vivido a
nossa vida com satisfação?
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