quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Necessitados da Graça - Vida de Tamar

“Necessitados da Graça” é uma nova série até ao final do ano.
Em Mateus 1 percebemos que existem 5 mulheres na linhagem da pessoa de Jesus.
Não é nada comum virem mulheres citadas nas genealogias, no entanto, ao contrário do que era expectável, aparece o nome destas 5 mulheres. Qual será a razão?
Neste e nos próximos domingos iremos falar sobre a vida de Tamar, Raabe, Rute, Bate-Seba e Maria.
Vamos ler todo o capítulo 38 de Génesis. Vamos então por partes.
V1-2 Por aquela altura, Judá separou-se dos seus irmãos e foi viver em casa de um dos descendentes de Adulam, chamado Hira. Ali Judá conheceu a filha de um cananeu, chamado Chua, e casou-se e dormiu com ela.
Contexto: Esta história aparece no meio da história de José. Lembrar apenas que os irmãos queriam matá-lo, no entanto, decidiram antes vendê-lo aos ismaelitas e estes depois venderam-no para a casa de Potifar que era o oficial de Faraó.
Alguns críticos colocam em causa este texto porque aparece no meio do nada dentro da história que se estava a desenrolar na vida de José.
No entanto, podemos perceber pelas palavras do V1 “Por aquela altura” que este texto está escrito de uma forma cronológica e, por isso, no seu lugar certo.
É um capítulo cheio de maldade e de imoralidade sexual.
Judá, filho de Jacób, teve a ideia de vender José em vez de matá-lo e depois separou-se dos irmãos sendo que casou com uma mulher cananeia.
Logo aqui podemos perceber que a vida de Judá não estava bem. Era muito claro para o povo hebreu que não podiam casar com pessoas que não fossem hebreias, ou seja, que não seguissem a Deus.
Em toda a Escritura percebemos que Deus sempre quis e quer que os Seus filhos casem com pessoas tementes a Ele.
V3-6 Ela ficou grávida e deu à luz um filho, ao qual Judá deu o nome de Er. Depois ficou novamente grávida e deu à luz outro filho a quem pôs o nome de Onan. Algum tempo depois, deu à luz mais outro filho, ao qual pôs o nome de Chela, que nasceu quando Judá se encontrava em Quezib. Judá casou o filho mais velho, Er, com uma mulher chamada Tamar.
Desta relação não permitida com uma mulher cananeia, nasceram 3 filhos.
O mais velho casou com Tamar. Este era o primogénito da família e, por isso, aquele que continuaria a linhagem da família.
V7 Mas o SENHOR não gostava do mau comportamento de Er e fez com que ele morresse.
Deus não estava ausente desta confusão e da pecaminosidade existente nesta família.
Ele matou Er pelo seu mau comportamento. Não se sabe ao certo o que se passou mas a verdade é que também não precisamos de saber.
Deus é sempre justo naquilo que faz e não precisamos de explicações d’Ele face às Suas acções. E há actos Seus que nos parecem injustos mas quem somos nós para criticarmos ou examinarmos as acções de Deus?
V8 Então Judá disse a Onan: «Casa com a viúva do teu irmão, para que o teu irmão possa ter descendentes, pois essa é a tua obrigação como cunhado.
Aqui vemos uma primeira referência ao costume antigo do Levirato. Segundo esta lei, o irmão daquele que tinha morrido teria que casar com a viúva, porque esta não tinha tido filhos.
Os descendentes eram considerados filhos e herdeiros do morto. Em Deuteronómio 25 temos mais informações relativamente a esta lei.
Ou seja, segundo o texto bíblico, Onan tinha a obrigação de dar filhos a Tamar.
9 Mas Onan sabia que o filho que nascesse não seria considerado seu. Por isso, cada vez que tinha relações com a viúva do seu irmão, ele derramava no chão o sémen, e assim evitava dar descendentes ao seu irmão.
Onan sabia que se tivesse um filho com Tamar, ele não era considerado seu. Dessa forma, simplesmente fazia com que as coisas não acontecessem.
Mais ainda porque ao ter um filho, esse filho seria considerado o primogénito na família tendo por isso a liderança na família recebendo ainda herança dupla.
Mais uma vez, outro filho de Judá que não estava a cumprir aquilo que Deus tinha ordenado.
Interessante notar a cadeia de desobediência a Deus. Judá desobedece e casa com uma mulher cananeia, tem filhos e eles desobedecem ao Senhor.
10 Aquele procedimento desagradou muito ao SENHOR, e o SENHOR fez com que também ele morresse.
Dois aspectos rápidos que podemos perceber aqui:
Deus não está ausente desta confusão toda.
Deus agiu contra o pecador.
Assim, meus irmãos, podemos ver que Deus matou 2 filhos a Judá por causa do pecado cometido.
11 Judá disse à sua nora Tamar: «Volta para casa do teu pai como viúva, até que o meu filho Chela cresça.» O que Judá na realidade pensava era evitar que ele morresse também como os irmãos. E assim Tamar foi-se embora e foi viver para casa do seu pai.
Das duas uma… Ou Judá sabia que Deus não pactuava com o pecado e por isso tinha medo que a cadeia do pecado alastrasse para o filho mais novo, ou então, também podia achar que era a sua nora Tamar que trazia grande infortúnio à família.
A verdade é que o pecado cega e não permite ter o discernimento necessário perante as situações.
Face a isso, Judá disse a Tamar que fosse para casa do seu pai. Talvez achasse que ela assim esquecer-se-ia da ideia de ter filhos e então protegeria o seu filho mais novo.
Ao fazer isso, Judá estava também a desobedecer a Deus e a fugir das suas responsabilidades segundo a lei do Levirato.
Também colocava a vida de Tamar em risco, pois uma mulher sem filhos, naquela cultura, era a mesma coisa que deixá-la ao abandono e sem condições algumas para o seu sustento.
Seria uma mulher sem nome e isolada de todos.
12 Passado bastante tempo, morreu a mulher de Judá, a filha de Chua. Terminado o período de luto, Judá foi a Timna com o seu amigo Hira, de Adulam, para ir ver os que faziam a tosquia do seu gado.
Judá ficou viúvo. Não se sabe os motivos da morte da sua mulher.
V13-14 Alguém foi comunicar a Tamar: «O teu sogro vai a caminho de Timna para assistir à tosquia do gado.» Ela tirou os seus vestidos de viúva, cobriu o rosto com um véu e sentou-se à entrada de Enaim, que está no caminho para Timna; porque ela sabia que Chela já era crescido e ainda a não tinham casado com ele.
Quando diziam que alguém ia assistir à “tosquia do gado” era a mesma coisa que dizer que iam a festas pagãs as quais promoviam comportamentos devassos em honra da fertilidade.
Mais uma vez, Judá ia a sítios que Deus não permitia que os Seus filhos fossem como locais que promovam a promiscuidade.
Mais uma vez o pecado gera pecado.
Tamar percebeu que algo estava errado. O filho prometido já era um homem e ainda não a tinham chamado para casar-se com ele e assim suscitar descendência.
Crê-se por isso que tenham passado vários anos.
15 Judá viu-a e pensou que se tratava de uma prostituta, pois ela tinha o rosto coberto.
Como Judá vinha de um sítio promíscuo onde haviam muitas meretrizes, ele achou que ao encontrar uma mulher com o rosto coberto, esta fosse uma meretriz cultual.
Nota: Relembrar que em Coríntio ainda havia também esta prática. 
V16 Desviou-se um pouco do seu caminho, para passar junto dela, e disse-lhe: «Deixa-me dormir contigo.» Ele não sabia que era a sua nora. Então ela perguntou: «Que é que me dás para dormires comigo?»
Judá mostrou toda a sua iniquidade espiritual.
17-19 Ele respondeu: «Mando-te depois um dos cabritos do meu rebanho.» Ela replicou: «Mas tens que me dar alguma coisa como garantia de que mo vais mandar.» Ele perguntou-lhe: «Que é que queres que eu te dê como garantia?» Ela respondeu: «O teu anel de selar mais o cordão e o cajado. Depois disso, ela foi-se embora, retirou o véu com que se cobria e voltou a vestir as roupas de viúva.
Tamar queria uma prova cabal que tinha estado com Judá. Por isso, pediu-lhe o anel que era usado para assinar os contractos, o cordão que prendia o anel ao pescoço e o cajado que indicava que Judá era o primogénito de uma família muito importante.
Este era um costume normal em Cananeia de pedir 3 objectos para comprovar a veracidade de algum acontecimento. Tamar tinha-os.
V20-23 Judá mandou o cabrito pelo seu amigo, de Adulam, para que aquela mulher lhe restituísse a garantia, mas não a encontraram. Então perguntaram à gente daquele lugar: «Onde está a prostituta de Enaim que costuma estar à beira do caminho?» Mas eles reponderam: «Aqui não há nenhuma prostituta.» Ele foi de novo ter com Judá e disse-lhe: «Não consegui encontrá-la e a gente daquela localidade respondeu-me que não havia nenhuma prostituta naquele sítio.» Judá respondeu: «Deixa-a lá ficar com as coisas para não cairmos em ridículo. Tu bem sabes que eu procurei enviar-lhe o cabrito, mas tu não a conseguiste encontrar.»
Percebemos aqui Judá a tentar cumprir o seu acordo, mas na verdade foi informado que não havia nenhuma prostituta cultual naquela zona.
V24 Uns três meses depois, foram dizer a Judá: «A tua nora Tamar está grávida; deve ter andado na prostituição.» Judá respondeu: «Condenem-na à morte na fogueira!»
Judá mandou queimar a sua nora por ter cometido o mesmo pecado que ele, o qual foi cometido até com ele. Incoerência total.
Mais tarde, na Legislação de Moisés, os sacerdotes que praticassem estes actos de prostituição ou tivessem actos de incesto seriam mandados para a fogueira.
V25-26 Mas quando a levaram para ser condenada, ela mandou dizer ao seu sogro: «Eu estou grávida do homem a quem pertencem estas coisas. Procura saber, por favor, a quem pertencem este anel de selar com os cordões e este cajado.» Judá reconheceu que eram seus e disse: «Ela é que tem razão e não eu, pois eu devia ter-lhe dado o meu filho Chela em casamento e não o fiz.» E não voltou a dormir com ela.
Judá reconheceu assim o seu erro ao não ter dado o seu filho a Tamar como deveria ter feito. E, face a isso, nunca mais tocou em Tamar.
Tamar estava grávida. No entanto, isso não a isentou do seu pecado duplo: Ter tido relações com o seu sogro. Esta acção de Levirato com o sogro apenas era aceite por culturas pagãs. Ao estar com o sogro e ao pedir-lhe os 3 objectos, este deve ser considerado um acto promíscuo e premeditado, mesmo sabendo que tinha um objectivo.
Tamar fez isto para dar continuidade a esta linhagem e também para prover sustento para si.
Apesar do objectivo final de Tamar ser bom não a isenta do pecado que cometeu no meio para atingir o seu alvo.
Abraão também pecou ao ir ter com a sua escrava para ter descendência. Ele tinha até boas intenções mas eram intenções pecaminosas, porque no fundo não acreditava que Deus realizasse a Sua obra.
V27-30 Chegou o tempo e ela deu à luz dois gémeos! Ao nascerem, um deles estendeu primeiro a mão e a parteira agarrou-lha e atou nela uma fita vermelha e disse: «Este será o primeiro a nascer.» Mas ele voltou a recolher a mão e quem nasceu primeiro foi o outro e a parteira disse: «Anda! Conseguiste abrir passagem para ti!» E deu-lhe o nome de Peres. Depois saiu o irmão que trazia na mão a fita vermelha e deram-lhe o nome de Zera.
O primeiro dos gémeos foi Perez. Estava para ser Zera, até a parteira colocou a fita no seu pulso para saber quem era o primogénito.
No entanto, Deus soberanamente decretou como seria e escolheu a Perez para ser o descendente e assim continuar esta linhagem messiânica.
Qual a razão de ter sido Perez e não Zera? Não sabemos e nem nos compete saber. O que sabemos é que Deus sempre foi, é, e continuará a ser justo em tudo o que faz.
Deus escolheu soberanamente este filho, fruto de uma relação incestuosa, para dar continuidade à linhagem da qual vinha o Seu filho Jesus.
Qual a razão? Deus sempre desejou mostrar que tudo o que acontece, acontece de acordo com a Sua vontade.
Lendo Mateus 1:3 percebemos que a linhagem veio sempre do homem, mas Mateus fez questão de colocar o nome de algumas mulheres.
Judá gerou de Tamar a Perez e a Zera e Perez gerou Edom. Ou seja, quem deu continuidade à linhagem de Judá foi Perez.
Qual a razão de Deus colocar na Sua Palavra o nome de Tamar na linhagem do Seu filho Jesus? Não era normal e nem era necessário.
No entanto, acredito que Tamar está na linhagem de Jesus por alguns motivos:
1º Para salientar que a Graça de Deus cobre qualquer multidão de pecados.
O pecado de Judá fez com que surgissem outros pecados, quer na sua vida pessoal, quer na dos seus mais próximos.
É um ciclo porque o pecado gera pecado. No entanto, há Esperança.
Não há nada que possamos ter feito que não possa ser perdoado por Deus porque os Seus olhos estão com aqueles que têm o seu coração contrito, mostrando assim arrependimento.
Há Esperança para este ciclo de pecado.
As pessoas ao nosso lado podem acusar-nos de termos pecado, mas se realmente houver arrependimento, tenhamos a certeza que a Graça de Deus estendeu-se sobre nós porque a Graça de Deus gera arrependimento.
Tamar não foi abençoada pelo que fez. Ela foi abençoada apesar do que fez. E isto é Graça.
Todo o capítulo contrasta a depravação humana com aquilo que Deus está a fazer no meio daquela confusão.
Houve Esperança porque o olhar de Deus estava sobre eles e quebrou este ciclo.
A Graça de Deus reina sobre o pecado seja ele qual for e Mateus, propositadamente menciona mulheres – não é normal e por isso salientarmos esta ênfase – que tiveram vidas chocantes aos nossos olhos.
2º Em Jesus temos um novo nome.
Deus matou os filhos de Judá por causa dos seus pecados, no entanto Deus entregou o Seu filho por causa dos nossos pecados.
Na linhagem de Jesus poderíamos ver apenas vidas de homens ou mulheres que fossem cheios de fé apesar de poderem pecar em algum momento. No entanto, vemos vidas que mostram quem nós somos na realidade.
Ao olharmos para a linhagem de Jesus vemos que pessoas como Judá ou Tamar tiveram um novo nome porque se arrependeram.
Para todos aqueles que se arrependem dos seus pecados e crêem que Cristo foi à Cruz no seu lugar, há a certeza que em Cristo temos um novo nome e damos assim continuidade, em certo sentido, à Sua “linhagem”.
João 1:12Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que crêem no seu nome”.
3º Em Tamar percebemos que todos nós somos necessitados da Graça.
Mark Driscoll, o qual recentemente mostrou que era necessitado da Graça de Deus, tal como todos nós, disse o seguinte “Tamar aparece na linhagem de Jesus para mostrar que as melhores famílias são famílias pecadoras e que precisam de Cristo”.
Então meus irmãos, não pensemos que o pecado afecta apenas os outros. Ele afectou toda a raça humana.
Não pensemos que um certo tipo de pecado acontece só aos outros. Todos nós podemos cometê-lo. Por isso, temos que ter uma vida de intimidade com Deus para que possamos vencer as tentações.
Tamar é o exemplo que o pecado pode ser cometido por qualquer um de nós, no entanto, em Cristo há esperança.
Tem sentido esta esperança?
Tem sentido o perdão do nosso Deus?
1 Crónicas 16:11 “Buscai ao Senhor e a sua força; buscai a sua face continuamente”.*4º Em Tamar percebemos que por nós mesmos não conseguimos chegar até Deus. É impossível.
Cheguemo-nos com confiança até Deus mesmo sabendo que podem vir mais tempestades.
Em Cristo sabemos que eternamente estas tempestades acabarão e conseguiremos viver finalmente uma vida de pleno louvor a Deus.
Lembre-se que a sua vida pode ser marcada mais pelo arrependimento do que pela perfeição, mas, mesmo assim, Deus o ama.
Precisamos uns dos outros para que possamos chegar até ao fim de uma forma que honre a Deus.
Hebreus 3:13 “Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado;”.
Não deixemos então de chamar pecado àquilo que é pecado, mas se houver pecado, que possamos procurar a restauração, a qual começa com o arrependimento.
Em certo sentido, seria muito mais fácil se os meus momentos de arrependimento se resumissem apenas a esta oração "Deus perdoa todos os meus pecados".
No entanto, Deus quer que cada um de nós confesse/discrimine o seu pecado para que então possa surgir o verdadeiro arrependimento.
Este momento começa com dor mas acaba com uma paz tremenda.
Todos nós somos “Necessitados da Graça” e graças a Deus que temos esta percepção.

Que Deus nos ajude.

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