terça-feira, 23 de setembro de 2014

I Cor. 1:10-17

10 Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer.
Paulo começou esta carta a falar daquilo que Deus fez por eles em Cristo Jesus.
Os cristãos em Corinto viviam em desunião com Deus mas, pela Sua Graça, viviam assim em Paz com Deus. É isso que percebemos em Romanos 5:1…
É interessante notar, que ao olharmos para este texto, percebemos que quando estamos ligados a Deus, haverá consequências naturais nos nossos relacionamentos horizontais. É impossível termos um encontro com Deus e viver como se isso não fosse.
Deus transforma todo o nosso ser. Deus não muda alguns aspectos da nossa vida. Ele transforma-nos em novas criaturas.
A ênfase deste texto está precisamente na procura da Verdade para que então possa surgir a Unidade. E a verdade é Cristo o qual liberta, une vidas a Deus e une pessoas.
A união é uma consequência da Verdade e não o contrário.
Quando lutamos pela unidade sem preocuparmo-nos com a Verdade as divisões irão surgir. A unidade não pode ser o fim último. A Verdade é.
A unidade surge quando estamos todos ligados à verdade, em termos de crença mas também de vivência.
Diz-nos o texto que “faleis todos a mesma coisa”.
Vemos aqui mais uma vez a importância da Verdade.
O apóstolo Paulo reforça a ideia que aquela comunidade devia ter o forte desejo de buscar unidade na doutrina, naquilo que é essencial à fé.
Então, a doutrina não afasta pessoas, traz sim a verdadeira união, a qual, segundo o texto, surge pela correcta pregação da Verdade e não com histórias com uma moral no fim. O moralismo está a entrar ou já entrou na vida de algumas igrejas.
Diz-nos ainda o texto que eles deviam ser “inteiramente unidos”. Porquê? Por que primeiramente, como vimos a semana passada, há um entendimento da ligação a Cristo.
A palavra no original é usada para “consertar redes, ossos e utensílios quebrados”.
Significa isso que a Igreja é chamada a viver em união e se tiver problemas, que era o caso da Igreja de Corinto, eles têm de ser tratados, não pela via da separação, mas pela reconciliação.
Percebendo a ligação dos versículos, quando a reconciliação não é possível, é porque as pessoas ainda não perceberam aquilo que Cristo fez por elas. Quando há grupos, não pode haver corpo.
Quando percebemos a Graça (dom imerecido) de Deus derramada nas nossas vidas, todas as outras reconciliações são consideradas menores face à reconciliação que tivemos em Cristo. Daí, Paulo começar esta carta precisamente para dizer que nada fizemos, antes pelo contrário, para termos a posição que temos em Cristo.
Deus é Santo, por isso devemos ser Santos.
Deus ensina-nos a viver em união na Sua relação trinitária. Logo, a Igreja é chamada a viver em unidade.
Nos dias de hoje, vivemos numa sociedade individualista e pluralista. Apesar disso, a Igreja é chamada a viver em Verdade e não em verdades. É chamada a viver em Unidade e não em partidarismos.
A palavra Unidade, em termos bíblicos, reconhece que pode haver diversidade num caminho único que é percorrido.
Há assuntos que podemos não concordar. Aliás, não conheço ninguém que tenha a mesma visão do que eu em todos os assuntos*.
Tal como falei no retiro da Igreja, é normal haver pessoas que pensem de outra forma. Sempre respeitei e respeitarei quem pense diferente de mim dento da Igreja. Aliás, somos chamados a respeitar e a ouvir opiniões diferentes dentro de certos limites.
Como pastor é a minha responsabilidade pastorear o rebanho de Deus mesmo sabendo que possam haver opiniões diferentes. É a minha responsabilidade indicar o caminho, em todas as áreas bíblicas, sabendo que tenho sempre que ministrar com amor e mansidão.
Lembrem-se que sobre os pastores recai uma grande responsabilidade… Tiago 3:1 “Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo”.
11 Pois a vosso respeito, meus irmãos, fui informado, pelos da casa de Cloe, de que há contendas entre vós.
Muito interessante um aspecto deste versículo. Normalmente o que acontece é “Nós ouvimos umas coisas*”, “Há alguém que pensa assim*”, etc.
Paulo credibiliza os seus argumentos revelando pessoas concretas que deram a cara.
Supõe-se que a família de Cloe era considerada como uma família que revelava maturidade cristã para que Paulo tivesse em conta a sua opinião e usasse também o nome.
12 Refiro-me ao fato de cada um de vós dizer: Eu sou de Paulo, e eu, de Apolo, e eu, de Cefas, e eu, de Cristo.
Dentro da comunidade havia quem se achasse mais importante que os outros por causa das pessoas que exerceram autoridade espiritual nas suas vidas.
Não era apenas por haver opiniões diferentes, dentro dos membros, mas porque consideravam-se superiores por alguma coisa.
Uns diziam que eram de Paulo.
Relembrar que Paulo era o fundador da Igreja e, por isso, estas pessoas achavam que tinham mais autoridade do que as outras. Aliás, segundo William Barclay, estas pessoas estavam a usar este argumento para transformarem a liberdade em libertinagem.
Outros diziam que eram de Apolo.
Apolo era tido como homem de grande sabedoria e eloquência. Ele era da cidade de Alexandria, a qual era considerada como o centro da actividade intelectual do mundo. Aqueles que estavam do lado de Apolo, queriam intelectualizar o cristianismo e por isso valorizavam bastante os discursos eloquentes em detrimento da mensagem da cruz.
Diz ainda o texto que outros diziam que eram de Pedro.
Segundo alguns comentaristas seriam os cristãos judaizantes e, segundo William Barclay, eram os que achavam que tinham que obedecer à Lei para serem salvos. Os legalistas. Acredita-se que seria um núcleo bem pequeno.
Por fim, ainda existiam aqueles que diziam que eram de Cristo.
Provavelmente os moralistas, presume-se, que fossem problemáticos. Achavam que eram os cristãos verdadeiros e que quem não fosse do grupo deles, não era um cristão na verdade. Não se submetiam à autoridade espiritual dos presbíteros por acharem que eles eram a fonte de toda a autoridade. Segundo Barclay, eram intolerantes e beatos.
Será que é este ensino que aprendemos das Escrituras?
13 Acaso, Cristo está dividido? Foi Paulo crucificado em favor de vós ou fostes, porventura, baptizados em nome de Paulo?
Muito interessante este versículo. Cristo não está dividido e, por isso, é a Ele que devemos ser fiéis. Ele é o nosso sumo-pastor. Logo, Ele é a cabeça da Igreja.
Reparem no argumento do apóstolo para criticar os seus seguidores… “Será que foi Paulo que foi crucificado por vós?”.
Os cristãos são baptizados em nome de quem? De Cristo. Logo, é a Ele que devemos seguir.
No dia em que o pastor começar a ter seguidores seus, é porque não está a levar ou não levou o rebanho até Cristo.
14 Dou graças [a Deus] porque a nenhum de vós baptizei, excepto Crispo e Gaio;
15 Para que ninguém diga que fostes baptizados em meu nome.
16 Baptizei também a casa de Estéfanas; além destes, não me lembro se baptizei algum outro.
Nestes versículos o que percebemos é que para Paulo não importa quem baptiza, importa sim em quem fomos baptizados.
Aliás, há pessoas que foram baptizadas por pastores que hoje em dia já nem no ministério estão e outros que até mesmo desviaram-se da fé. Será que estas pessoas são menos importantes do que os outros?
Obviamente que não. Todos os cristãos foram baptizados em nome de Cristo Jesus.
17 Porque não me enviou Cristo para baptizar, mas para pregar o evangelho;
Poderíamos achar, à primeira vista, que Paulo estava a anular a importância do baptismo, quando o próprio baptismo é uma das duas ordenanças dadas à Igreja.
Mesmo a Missão dada por Jesus em Mateus 28, diz para fazermos discípulos como? Indo, ensinando e baptizando.
O que quereria dizer então o apóstolo Paulo?
Vejamos o desafio que lhe foi dado por Deus em Atos 26:16-18Mas levanta-te e põe-te sobre teus pés, porque te apareci por isto, para te pôr por ministro e testemunha tanto das coisas que tens visto como daquelas pelas quais te aparecerei ainda; Livrando-te deste povo, e dos gentios, a quem agora te envio, para lhes abrires os olhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim”.
Entendemos assim que o baptismo não foi o objectivo primário da sua chamada, mas sim a pregação do Evangelho. Desta forma, ele realça a tarefa primária para o qual fora chamado.
 Mais ainda e percebendo o contexto, Paulo mostrou claramente que não foi chamado a fazer um clube de fans à volta de si, mas sim para fazer discípulos de Jesus Cristo.
A missão da Igreja é “fazer discípulos de Jesus Cristo, no poder do Espírito Santo, para a Glória de Deus”.
Percebemos então que Paulo combate aqueles que diziam que eram seguidores seus.
Nós seguimos a Cristo porque fomos conquistados por Ele, o que não invalida podermos honrar e respeitar quem Deus usou como mensageiro do Evangelho ou até mesmo quem Deus usou para que nós crescêssemos na Fé.
V17 Não com sabedoria de palavra, para que se não anule a cruz de Cristo.
Percebemos então que Paulo foi chamado para fazer discípulos de Jesus Cristo.
Quando o objectivo é fazer seguidores de líderes e não de Cristo, valoriza-se mais a eloquência do discurso do que a proclamação clara do Evangelho. Quando isto acontece, é natural haver divisões na Igreja.
Temos que valorizar o Evangelho da Cruz. Não nos importemos com a eloquência. Proclame simplesmente o Evangelho. O poder não está em si, mas no Espírito Santo.
Na Igreja não podemos valorizar alguém em detrimento de outro. Temos de ser corpo. A dignidade que temos é a dignidade que Cristo dá.
Quando fala da sabedoria humana, nesta parte do versículo, Paulo combate os seguidores de Apolo.
Crê-se, segundo alguns comentaristas, que provavelmente estes seriam os dois “principais grupos” na Igreja.
Os que usavam a vida de Paulo para valorizarem-se dentro da Igreja, como aqueles que usavam a sabedoria de Apolo para considerarem-se a si próprios.
Paulo mostrou assim de uma forma muito clara que a Cruz não revela a nossa beleza, revela sim a beleza da glória de Jesus Cristo.
Concluímos então…
1º Vivemos em união porque o Senhor fez-nos viver em união com Ele.
Quando há separação é porque ainda não compreendemos o ministério da reconciliação.
2º Vivemos em união reconhecendo que possa haver diversidade de interpretações sobre certos assuntos.
Não há pessoas mais importante do que as outras. Não importa o que pensa sobre um assunto, se é membro há mais ou menos tempo, ou se foi baptizado ou discipulado por um pastor diferente. Somos um.
Somos todos iguais aos olhos de Deus, reconhecendo, porém, que há diferentes funções dentro do corpo, no entanto, isso não faz de alguém mais ou menos importante.
Cristo fez-se homem submetendo-se assim à vontade do Pai. E Ele não é inferior ao Pai. Ele, o Pai e o Espírito Santo são um. Aprendamos com esta relação trinitária.
Somos quem somos pela Graça de Deus.
Quando usamos o nosso currículo para a valorização do “eu”*, é porque já deixamos de lado o entendimento da Graça de Deus.
Eu como pastor comprometo-me a ensinar o evangelho e ensinarei segundo o entendimento que Deus me concedeu. Reconheço, com todo o amor, que os irmãos possam pensar diferente.
Se sou superior a alguém? Com toda a certeza que não, não ouso sequer pensar que sou superior a alguém. Longe de mim gloriar-me. No entanto, sou o pastor da Igreja e serei responsabilizado, conforme lemos em Tiago, por todo o ensino dado às pessoas que foram colocadas ao meu cuidado. Esta é a minha função.
Somos um corpo. Cada qual com a sua responsabilidade. Tudo isto para a Glória do nosso Deus.
Que cada um de nós se considere um servo inútil de Deus que não faz mais do que a sua obrigação.
A igreja da Graça é um corpo. Somos um em Cristo.
Termino com uma frase do Pastor Augustus Nicodemus… “O verdadeiro crescimento na maturidade é inversamente proporcional à imagem que temos de nós próprios. Quanto mais perto de Deus estamos, mais iremos ver que nada valemos”.
Tudo é pela Graça de Deus.
Somos um, porque em Cristo somos um.
Que Deus nos ajude.


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